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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

✰ Louisa Livre!

Desde o dia 9 de maio, a presidenta do Partido dos Trabalhadores da Argélia, Louisa Hanoune, está sendo mantida refém. O captor, o estado argelino.
Homônimo e inspirado pelo brasileiro, o PT argelino lutava, desde sua criação, por uma Constituinte que pusesse fim ao estado teocrático. A Argélia tinha se libertado do jugo colonial francês na década de 60, mas continuava com as garras deste império sobre si, sendo importante fornecedora de gás natural para a União Européia, dona da décima quarta maior reserva de petróleo do mundo e uma localização estratégica no meio do Magreg (norte da África).
Louisa Hanoune é advogada e a primeira mulher a se candidatar a presidência da república em seu país, dominado por correntes islâmicas. Foi na luta por um estado laico e pela libertação nacional do papel subalterno de exportadora de petróleo para a França que Louisa construiu o PT argelino como principal partido de oposição ao regime.

 A atual crise na  Argélia teve início quando o presidente Abdelaziz Bouteflika, que já estava no poder há 20 anos, decidiu  concorrer a um novo mandato. Imensas revoltas populares alimentadas por escândalos de corrupção de poderosos acabaram levando a sua renúncia. O que agravou ainda mais o fosso entre o poder exercido e sua emanação popular, com a criação de um regime de transição dominado pelos militares. A desistência de Boutiflika deixa o imperialismo francês aterrorizado. Alegam que os laços, inclusive familiares entre franceses e argelinos podem tornar a França o ponto de chegada de refugiados de uma nova guerra civil na Argélia, mas podem estar mais preocupados com a chefia do condomínio de forças de direita no poder argelino ter saído de seu controle.  A queda de Bouteflika foi comemorada como vitória pelas massas madrugada a dentro. Nas casernas e comandos militares, um novo governo estava pronto para assumir.
A posição de Louisa e do PT foi não participar da farsa da transição e orientar sua bancada a  renunciar. Por ter se recusado a participar de instuições que humilham o povo e seu desejo de libertação, o PT estava sinalizando continuar lutando por aquilo que a queda de Bouteflika não resolveria - Por isso Louisa está presa! O que mostra que a queda de um presidente odiado pode colocar o poder em mãos mais crueis ainda.
Os militares anunciam que proxima terça-feira terão posição pública sobre o assunto. É inaceitável o silêncio. Como ela está? Que tipo de tratamento está sendo submetida?Qual a alegação?

A primeira reação a este sequestro é o espanto. As imagens de vídeo que circulavam na imprensa mostrando Louisa sozinha subindo as escadarias do seu cárcere acompanhada da notícia de sua detenção ainda serão compreendidas. Louisa tinha sido convocada como testemunha num processo -porque precisaria de um advogado? Não era ela mesma uma? No entanto, os carcereiros continuam negando informações claras sobre qual a acusação contra ela.
E do espanto já se passa a ação. Uma campanha internacional começou a ser difundida e já conta com o apoio da Central Única dos Trabalhadores do Brasil (CUT-Brasil). Nos próximos dias mais organizações precisam se posicionar pressionando o governo de transição a libertar Louisa Hanoune.

Não é coincidência que as principais lideranças de ambos os PTs, brasileiro e argelino, estejam presas. É uma escalada. Se o golpe imperialista para além da deposição de governos, passa para o sequestro das principais lideranças de oposição aos seus capachos, qual será o próximo passo? Qual candidato a presidência que efetivamente se oponha ao regime imperialista não terá a via eleitoral bloqueada? A crise arrasta as instituições em todos os países com o aumento do fosso entre o poder exercido e as emanações populares. Bernie Sanders não deveria também estar preocupado?
Maduro resiste. Lula já deixou claro que exije sua libertação. Louisa foi pega de surpresa, mas poderá encontrar na solidariedade internacional a energia necessária para sua devolução para o seu justo lugar. Uma nova solidariedade internacional precisa surgir na luta pela liberdade de Lula e de Louisa, uma solidariedade capaz de estar preparada para não deixar as nossas lideranças entrarem nos cárceres de tribunais de excessão.
#LulaLivre
#LouisaLivre
 12.05.2019

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