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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Aumenta a temperatura da situação política no mundo.


No Rio de Janeiro, o Exército Brasileiro executa com 80 tiros um trabalhador negro.
Evaldo dirigia o carro com sua família quando foi vítima de uma emboscada por militares do exército desviados de função para ações policiais. O fato de oficiais e soldados abrirem fogo contra o carro de um cidadão brasileiro e sua família, além de assombroso e inaceitável, é o oposto da razão de ser dessa instituição, a defesa contra um inimigo externo. Se do exército que existe hoje o inimigo é o povo preto brasileiro é porque, nos fatos concretos, deixou de servir ao país e bate continência para outros senhores.  Não é uma simples coincidência o passe livre para matar defendido por Moro, sequestrador de Lula.

Em Londres, Assange é preso e entregue aos EUA
Julian Assange, fundador do Wikileaks, de cidadania equatoriana, estava dentro da embaixada desse país quando o governo equatoriano cancelou seu asilo político e o entregou para ser preso e extraditado para os Estados Unidos. A nota pública que o PT emiitiu em repudio à prisão de Assange  destaca esse fato, "O atual governo equatoriano viola princípios fundamentais da convenção internacional de direitos humanos da ONU e da corte interamericana de direitos humanos ao entregar um cidadão equatoriano, que estava dentro da embaixada de seu próprio pais', além de lembrar o caso de espionagem dos EUA contra a presidente Dilma. Assim como Evaldo, Assange é vítima da violência de instituições de países que deveriam defender os seus cidadãos, mas se voltam contra eles porque servem a interesses externos, dos EUA.

No Brasil, Lula chama à unidade popular para resistir
Cumprindo pena por um crime que não existe, há mais de um ano nas masmorras da Polícia Federal de Curitiba, Lula é o maior exemplo do quanto as instituições nacionais podem se tornar enclaves estadunidenses contra os cidadãos. Para  aprofundar isso, Steve Bannon ajudou a estratégia eleitoral da campanha Bolsonaro, capacho de Trump. Mas o PT resiste e a luta por Lula Livre se reorganiza de forma correta com o chamado a constituição de comitês em todos os locais.  No dia 7, Lula enviou uma carta ao povo brasileiro em que faz um chamado à unidade para lutar contra aqueles que querem mantê-lo preso por temerem que o PT governe novamente e restitua os direitos  que desde o golpe imperialista estão sendo arrancados do povo brasileiro. Esta importante resistência se alimenta também da solidariedade internacional, a mesma que Lula presta a Assange. 

Porque temem Lula?
 A luta pela liberdade de Lula materializa uma posição de autodefesa da classe trabalhadora. Em particular, a defesa do seu direito a auto-organização. A existência do Partido dos Trabalhadores exercendo o seu direito de governar é intolerável aos senhores da guerra.
O julgamento do habeas corpus de Lula se aproxima, e se for negado não será nem pela existência de provas contra Lula, nem pela falta de mobilização, dado o enorme sucesso da jornada Lula Livre pelo país, mas sim pela submissão das instituições brasileiras ao esquema assassino do imperialismo denunciado por Assange e que agora fica ainda mais claro, depois que se descobriu que a "lava-jato" entregou informações confidenciais da Petrobras para o departamento de justiça dos EUA, um verdadeiro crime de lesa-pátria. No Brasil esse esquema quer destruir a previdência, entregar a base de  Alcântara, sabotar aPetrobras. Em 100 dias da posse de Bolsonaro, a sua marca é uma escalada na guerra contra o povo brasileiro.

Os povos resistem
Seja no Brasil, na Venezuela ou na Argélia, os povos resistem contra a política estadunidense de colocar governos títeres no lugar de legítimos representantes das aspirações populares. Mas os ataques não param. O governo dos EUA tenta expulsar a representação diplomática legítima  venezulana na ONU e substituir por seus fantoches seguidores de Guaidó. Na Bolíviao governo dos EUA não reconhece antecipadamente o resultado de um futura eleição e aqui temos um salto de qualidade, pois ao contrário dos demais países, os ataques sequer acontecem mais contra governos que se encontram desgastados por dificuldades econômicas.

O imperialismo tem pressa. 
A raiz do desespero é a crise econômica. Dados da OCDE apontam o achatamento da classe média em 36 países. O FMI também corrobora os prognósticos da OCDE e ainda sinaliza uma desaceleração para o futuro, as três ultimas gerações tiveram piora em sua qualidade de vida e esse quadro não tende a mudar. Nos 53 países mais pobres do mundo são 113 milhões de pessoas sofrendo de fome extrema segundo relatório divulgado pelas Nações Unidas.
Esse cenário desastroso também leva ao questionamento dos atuais parâmetros macro-econômicos, sem, contudo, haver sido ainda apresentado ao debate uma solução de conjunto para a crise econômica. A proposta de Alessandra Ocasio-Cortes que se imprima mais dinheiro, numa economia já muito endividada, apesar de dialogar com aspirações populares neste país, aumenta ainda mais o fosso entre esta moeda e seu lastro. Na Grã-Bretanha, seguem as trapalhadas com o  BREXIT. Sem solução de consenso como foi, no período anterior, o Consenso de Washington, o imperialismo não consegue estabilizar mais a situação política nem mesmo em seus países centrais. 

Instabilidade mundial 
De crise em crise, o sistema capitalista tem sobrevivido e se tornado cada vez mais uma ameaça para a vida no planeta. A cada pacote de medidas anticrise que aumentam a sobrevida do sistema, novos problemas são criados para os povos. A atual crise, iniciada em 2008, por sua vez, não vem dando nenhum sinal de estar perto de seu fim, o que aumenta a instabilidade do sistema. A prolongada crise na infraestrutura leva a necessidade de mudanças na superestrutura. Os fóruns diplomáticos internacionais realizados recentemente como Davos já deixam ver os elementos das mudanças em curso, e não para melhor. É visível o risco dos conflitos em andamento caminharem para uma solução armada e generalizada.

Guerra contra as organizações populares
No período que está se encerrando, as instituições internacionais imperialistas acenavam com algum tipo de 'diálogo' para as organizações populares, integrando-as na discussão de contrapartidas à aplicação de medidas contrárias aos interesses de sua base. Um exemplo foi o papel que jogou o Banco Mundial no fomento de políticas sociais. O que o imperialismo dava com uma mão tirava com a outra, pois as políticas de austeridade e ajustes fiscais ganharam configurações que se chocavam com a soberania popular, inclusive sobre os orçamentos públicos. Leis como a de responsabilidade fiscal (LRF) foram aplicadas em todo mundo sob a batuta do FMI. No Brasil, sua aplicação, inclusive em nível local, submeteu o atendimento das necessidades populares aos prazos e taxas do mercado de capitais. Esta imposição draconiana levou ao caos em grande parte das cidades e estados brasileiros e, em nome desta lei antipopular, Dilma foi deposta. A diferença do período atual para o anterior, ainda que um seja consequência do outro, é que agora o imperialismo não dialoga mais com as organizações populares, impondo sua vontade pela força, sem nenhuma contrapartida para oferecer. Não compreender isso tem reflexo em nível nacional nas falsas ilusões que estão sendo criadas por diversos setores centristas de que há alguma vantagem em substituir Bolsonaro por Mourão. Longe de ser o resultado de uma verdadeira negociação com as organizações populares, um governo exercido diretamente por um exército que atira em seu próprio povo só aprofunda a guerra contra estas organizações, às quais o sistema em crise nega o direito de existir.

Lula Livre
Lula, um líder popular que sempre defendeu o diálogo, estar preso é emblemático em todos os sentidos. O diálogo acabou. E como Lula mesmo disse. o problema de Lula é que são milhões de Lula. São milhões os que passam fome, os que são obrigados a deixar sua terra natal, os que sofrem com a violência institucional e os que são humilhados e explorados no trabalho. Organizar, no Brasil, milhões de eleitores do PT em Comitês Lula Livre e transbordar as fronteiras nacionais com essa campanha, que é emblemática, da luta pelo direito dos trabalhadores e oprimidos construírem seus partidos e com eles governarem seus países, é uma ajuda impar que o PT pode dar hoje na resistência unificada internacional dos povos contra o imperialismo e seu cortejo fúnebre.

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