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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Três anos do golpe em Dilma: A resistência passa por organizar comitês Lula Livre

Repressão nas periferias, obscurantismo, perseguição contra professores: um governo mandatado para atacar a classe operária
    O governo Bolsonaro cumpre o mandato recebido de Trump e Bannon na fraude eleitoral de outubro passado e aumenta substancialmente a letalidade policial nas periferias. Nesta semana, mais uma vítima de tiros disparados pelo Exército (Brasileiro?), Luciano Macedo, que tentou socorrer a família de Evaldo, assassinado por uma equipe do exército, veio a óbito.
  As perseguições nas escolas são já a aplicação, nos fatos, do projeto de silenciamento à livre expressão contidos no "Escola Sem Partido". Abril nem terminou e já são três professores perseguidos. Dois por reclamarem da truculência policial contra seus alunos: a professora Camila Marques, do Instituto Federal de Goias, que também é dirigente do sindicato da categoria, e o professor Gabriel Pimentel, da Escola Estadual Lourdes de Cardoso em Uberlândia-MG. O terceiro é o professor Pedro Mara, que se tornou um desafeto de Flávio Bolsonaro e passou a ser ameaçado pelos assassinos de Marielle, sendo obrigado a deixar o Rio de Janeiro sob proteção da Comissão de Direitos Humanos da ALERJ, o que não impediu que a Secretaria Estadual de Educação abrisse contra ele um processo por abandono de emprego. Simultaneamente, proliferam projetos de militarização de escolas.
 Um governo que precisa reforçar a segurança da Esplanada dos Ministérios, pois teme uma manifestação indígena, ou que precisa marginalizar professores, não é um governo legítimo. Assim como não são legítimas as instituições que prendem Lula para permitir essa ameaça civilizatória governar. E isto fica cada vez mais evidente na insatisfação crescente que se vê até mesmo em setores que apoiaram Bolsonaro, como os caminhoneiros.

A crise institucional é o resultado do golpismo!
  Dia 17 o Golpe completou  três anos de sua aprovação na Câmara dos Deputados e, como bem relata Dilma, foi a porta de entrada do desastre que se abateu sobre os trabalhadores e a maioria da população.  Lula e Gleisi têm razão em estabelecer uma relação entre o Golpe e a crise institucional. A ruptura do pacto de 88 mostra, por sua vez, a insuficiência da transição lenta, gradual e segura na saída ditadura militar. É obrigatório constatar que não ter promovido uma reforma completa das instituições saídas da ditadura, acabou mantendo o aparato repressor intacto para continuar repreendendo o povo enuqanto se preparava para contra-atacar as organizações construídas na luta contra a ditadura. A prisão de Lula é o exemplo maior disso.  
 A prisão de Lula surpreendeu a todos que tinham ilusões nas atuais instituições. Independente do grau de ilusão que ja tenham tido, todos os indivíduos que, nos fatos concretos, lutam pela Liberdade de Lula se confrontam com o aparato institucional. Isso pode ser observado no boletim número 6 da campanha Lula Livre, no qual, como balanço do julgamento no STF, se sustenta a decisão de manter a campanha, apontando para um primeiro de maio de luta - que pode se tornar o ensaio de uma greve geral da classe trabalhadora, ameaçada de imediato pelo ataque às aposentadorias. 
  As pressões que tentam disciplinar o PT a respeitar o quadro institucional vigente vêm de todos os lados e encontra defensores inclusive dentro do partido de Lula, como o atual prefeito de Araraquara, que propõe o fim da campanha Lula Livre e a utilização das forças aglutinadas por ela numa oposição parlamentar ampla a Bolsonaro. As discussões rumo ao Congresso do PT já começaram e a posição que Edinho defende pode fazer parte do debate, se chocando com a disposição da base social petista que há muito tempo vem insistindo em ser convocada para lutar contra o Golpe e pela Liberdade de Lula. Atravessado pelas contradições entre ser parte das instituições e se confrontar com elas, o próximo congresso do PT precisa reverberar o desejo da base de um PT 100% Lula Livre.


O golpismo é resultado da crise econômica do sistema
     O golpe no Brasil tem relação direta com a  enorme crise econômica que se atinge a o sistema mundial, acabando com a margem de manobra do sistema para aceitar governos que atendam, mesmo que parcialmente, aspirações populares. A repressão  contra a experiência dos povos provoca abalos em diversos países - VenezuelaMéxico e Brasil - Mas nem mesmo os próprios países centrais do imperialismo escapam da crise institucional, como pode ser lido sobre o Brexit nos editoriais das semanas anteriores -  e se aprofunda de conjunto com a política de linha dura do imperialismo estadunidense na preparação de uma economia de guerra.
  Em outros momentos históricos de crise aguda no sistema, como depois do crack de 1929, o imperialismo lançou mão do fim das liberdades democráticas em diversos países do mundo, abrindo espaço para que a década de 30 ocorresse uma proliferação de ditaduras de orientação fascista. O que se combinava, também, com o aumento das tensões econômicas que levaram a Segunda Guerra Mundial. 
   Neste dia 25 de abril, a Revolução dos Cravos comemorou 45 anos.  Essa revolução, que encerrou a ditadura em vigor desde a década de 30 em Portugal, dá um claro exemplo de que regimes totalitários só são superados pela força das mobilizações dos setores explorados da sociedade e que lutas democráticas parciais numa situação polarizada podem transbordar para movimentos revolucionários.


A resistência em defesa dos direitos e das liberdades democráticas é uma luta só contra a política de guerra imperialista
   Para defender suas condições de existência, os povos são levados a se chocar com a política imperialista, mesmo que não tenham a exata consciência de quem seja o inimigo. E este é um problema que atinge não só o povo, mas também as organizações de esquerda, o que cria novas contradições para a unificação da resistência anti-imperialista contra a guerra.
   No Brasil, no período anterior ao golpe, diversas organizações de esquerda foram na onda internacional do "Que Se Vayam Todos", cuja tradução local foi o "Fora Todos" contribuindo para ambiente político de derrubada do governo do PT. Mas o golpismo imperialista que restringe as liberdades democraticas em todo o mundo, como mostrou a prisão de um jornalista (que sequer pode ser considerado esquerdista), Assange, apenas por cumprir o seu papel de informar, não está dando sinais que vai poupar ninguém. Para sobreviver politicamente neste cenário de crise institucional há apenas duas opções, que se polarizam. Não há um consenso possível e o centro, mesmo que tente se recompor, não pode mais amalgamar as instituições em crise e derrete politicamente aos olhos do povo, como mostraram as últimas eleições no Brasil. Este não é um problema brasileiro, a polarização política diante da crise institucional tem o seu próprio núcleo em cada país.
    De comum, também, em todos os países, a correlação de forças é desigual para o polo oprimido. Os recursos que a extrema-direita dispõe são muito maiores, mais poderosos, e apoiados nos conhecimentos mais recentes sobre a comunicação de massa. Aos do lado de cá resta se organizar para se defender. Pelo lugar particular ocupado pelo Brasil e nele, o próprio lugar do PT e de Lula no debate político internacional, a prisão de Lula é um dos núcleos chave da crise mundial. Uma vez que os mandantes do sequestro ocupam posições no aparelho do estado dos EUA. De forma que a defesa de Lula ocupa um lugar central na unidade internacional das forças anti-obscurantistas.
 O discurso de Melènchon no ato Lula Livre, chamado por ele, em Paris, mostra o temor que a prisão de um candidato favorito à presidência, como Lula, possa se tornar o modus operandi que poderia não poupar nem mesmo aqueles que defendem que a classe trabalhadora não tenha seus próprios partidos e se dissolva em movimentos políticos mais amplos, como "que se vayam todos". De fato, se Lula está preso, a ameaça paira sobre todos os que têm críticas, até mesmo superficiais, ao sistema econômico.


  Para começar a organizar a resistência de forma mais efetiva - ao contrário do período anterior - há onde se apoiar, O material produzido pelo Comitê Nacional Lula Livre é bastante didático e traz informações importantes para se criar um comitê. Mas isto é só o começo, cada novo comitê se defrontará com problemas concretos para existir e pressões que podem vir de todos os lados: diretamente pela repressão da direita; pelos setores de centro que defendem as instituições e, também, pelos partidos esquerdistas que vêm na atual crise pela qual passa o PT uma oportunidade para seu próprio crescimento. Discutir e dar conhecimento destes problemas ao comitê nacional e aos demais comitês pode alimentar a continuidade da produção de materiais para sustentar politicamente estes comitês. Há muito a ser feito e muita gente querendo fazer. Se organizar direitinho, a gente consegue parar de bater cabeça entre nós e lutar contra os verdadeiros inimigos.

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