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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Milhões nas ruas, e agora?


  As massivas  manifestações de rua do último dia 15 contra o corte de verbas das universidades, na continuidade dos atos de primeiro de maio contra a reforma da previdência, já tiveram suas primeiras respostas:  Bolsonaro, o interventor dos EUA na presidência da república, editou um decreto que retira a autonomia dos reitores para as suas pró-reitorias e outros cargos. Ato contínuo, Zé Dirceu é novamente preso no quadro da operação "lava-jato". Nada de diferente poderia ser esperado além da perseguição política e repressão. Witzel, aliado de Bolsonaro no Rio, decreta censura às universidades, o governador valentão que manda bala contra comunidades carentes, tem medo de estudante.
   Novas manifestações já foram convocadas e se inicia uma temporada agitada, que conta com duas atividades importantes de resistência já no próximo fim-de-semana de 25 e 26: O mutirão Lula Livre  e o ato "PAREM DE NOS MATAR". O fim do mês ainda tem mais manifestações de massa programadas. Esta é a possibilidade real de construir uma representativa  greve geral em 14 de junho.
    A pressão sobre Bolsonaro não é só de baixo. Os mercados financeiros exigem pressa na agenda difícil no congresso nacional. Por isso, Bolsonaro, que tem um grande índice de aprovação de medidas no congresso nacional, tenta ganhar tempo construindo um acordo com setores da burguesia que vem fazendo oposição ao seu governo, os quais ainda jogam com o cacife de manipular o significado dos protestos, como fizeram com os protestos de junho de 2013. A hipótese de substituição do interventor não é um exatamente um problema para eles. O problema é o não cumprimento da agenda imposta pelo Imperialismo. E, para isso, não hesitarão em substituir Bolsonaro se for preciso reprimir mais duramente as ruas que atrapalham sua agenda. De modo que Bolsonaro não é nosso principal problema, mas o conjunto do condomínio golpista e sua política de guerra contra o povo.

Argélia, uma lição

   O exemplo da Argélia, onde as massas foram às ruas com a bandeira de luta 'Fora Todos', mostra a insuficiência da política dos "fora". A destituição do presidente deu lugar a um governo de transição, costurado a partir do condomínio de tendências  palacianas, do qual os militares que prenderam Louisa Hanoune fazem parte. Louisa é a principal líder do principal partido de oposição, o Partido dos Trabalhadores argelino, primeira mulher a concorrer a presidente. A lição da Argelia mostra o risco de tirar algo sem dizer o que colocar no lugar.
   No Brasil, como na Argélia, os Partidos dos Trabalhadores tem suas principais lideranças colocadas na prisão. O sistema mundial, fraco, precisa usar da perseguição política para calar quem conta seus crimes, foi assim com Assange e Snowden. É assim com a prisão de seus opositores na Argélia,  Louisa, Hadj e Kameleddine. Os exemplos são tantos que é difícil listá-los. A perseguição política como "modus operandi" do sistema é um fato que se constata em todos os países, como nos próprios EUA, cuja invasão ilegal da embaixada da Venezuela resultou na detenção de vários ativistas contra a guerra. Neste contexto, a escalada de prisão de petistas no Brasil, que começou enquanto o PT era governo, culminou na queda de Dilma e na prisão de Lula tem um significado particular. A experiência mais bem sucedida mundialmente de construção de um partido dos trabalhadores precisa ser esmagada pelos que tem medo que a "moda pegue" e a "onda vermelha" se espalhe. Mas não conseguem detê-la. Sequer dentro dos próprios Estados Unidos, no qual camisas vermelhas dominam as massivas atividades das greves em defesa da educação que se espalham por todos os estados. Sequer no Brasil cuja luta pela liberdade de Lula se afirma contra obstáculos -  que vem de todos os lados - inclusive de dentro do PT, sob forte pressão para se submeter ao papel de oposição parlamentar a Bolsonaro.

A perseguição política é  uma das faces da crise econômica

  Da economia de armamentos se passa a economia de guerra. Nesta semana, rumo a isso, China e EUA deram mais um passo, com anúncios abertos de guerra econômica e ações concretas como a sobre-taxação de produtos um do outro. A balança comercial estadunidense tem um déficit de 419 bilhões, por isso os EUA estão em guerra econômica aberta contra China, Russia, União Européia, México e Canadá. A Russia responde e se une a 80 países para defender o quadro institucional vigente em escala global. O mercado de amarmentos ganha um forte incremento do governo do EUA. Os tempos são difíceis.
  A crise do sistema capitalista começa a ser reconhecida por diversas instituições internacionais e a ser discutida por muitos economistas. Uma crise econômica do atual porte coloca o quadro institucional em frangalhos e faz com que as regras vigentes sejam desobedecidas, não só em escala nacional, como global. A esperança de que a burguesia internacional possa vir a aceitar um pacto que restabeleça a democracia começa a ficar cada vez menos palpável em escala mundial.
   ONU, OEA, União Européia estão varadas por contradições que não as levam a oferecer sequer a defesa da auto-determinação dos povos como se vê na situação da Venezuela. Sem pacto institucional que seja seguido por eles, como se vê com a escalada de perseguições políticas em curso, a defesa das liberdades democráticas e dos direitos individuais e coletivos recai diretamente sobre os ombros dos oprimidos do sistema e das organizações que construíram.

  Cada vez mais, diante da imensa dificuldade e complexidade da situação política, os problemas se resumem ao que fazer na semana seguinte. Que nesta semana, no Brasil, organizemos as colunas "Lula Livre" para as manifestações da semana que vem, dando concretude à luta contra as perseguições políticas que entraram em escalada mundial.

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