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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Greve Geral e a luta contra a repressão

Enquanto os últimos ajustes eram feitos na preparação da greve geral, a entrevista do presidente Lula à TVT demarcou a situação nacional em um país onde as perspectivas para o emprego são desoladoras e a economia está estagnada. A Greve Geral aconteceu na sexta dia 14 de junho. Segundo a CUT, 45 milhões de trabalhadores cruzaram os braços, sem contar os atos massivos nas principais capitais do país. Um movimento que não pode ser ignorado pela grande midia, a greve geral incomodou e o tamanho do incômodo pode ser medido pela repressão. Em Niteroi, no Rio de Janeiro, um carro avançou contra os manifestantes, atropelando vários deles. Um dia depois, o bandido foi encontrado e prestou depoimento na polícia civil, que anunciou indiciá-lo por lesão corporal e não por tentativa de homicidio, mostrando que nosso sistema de segurança passa a mão na cabeça de quem ataca manifestantes. Em São Paulo bombas e prisões na USP. No Rio de Janeiro, a PM também atacou uma manifestação pacifica e militantes foram presos sem qualquer acusação formal. Rio Grande do Norte também registrou agressões por parte da policia militar. Já no Rio Grande do Sul, foi do próprio governador que partiu a ordem para que a polícia brutalizasse sua ação em direção aos manifestantes. Ações de um estado de excessão, que migra rapidamente para uma ditadura aberta, se encadeiam numa semana quente que começou com a exposição de conversas entre Moro e Dellagnol pelo jornal The Intercept, desnudando diante dos olhos do mundo  a perseguição política de que Lula é vítima. A crise não é só nas condições de vida do povo, é uma crise política que revela sub-divisões nas elites nacionais, desde setores da mídia burguesa pedindo  a renúncia de Moro até o recrudescimento da ação oficial contra os que "ameaçam" a atual ordem institucional de excessão, como indicam as declarações de Sergio Moro contra Gleen Greenwald que podem caminhar para o uso da Polícia Federal contra a equipe do Intercept. Esta crise nacional expressa, dentro das fronteiras brasileiras, a própria crise do imperialismo e divisões e subdivisões na burguesia mundial, que têm sua expressão mais aguda no BREXIT e na ameaça de guerra entre EUA e Irã, que escalou esta semana com um navio petroleiro sendo torpedeado.

Bolsonaro não unifica a direita

A crise se instala nas fileiras palacianas. Bolsonaro relativiza a confiança em Moro. General Heleno responde à entrevista de Lula na TVT com socos na mesa e descontrole emocional. No Congresso, o PSL protagoniza um dos momentos mais ridículos da história da câmara, quando decide convocar Gleen Greenwald para falar acerca dos vazamentos e depois de alerta da bancada do DEM vota contra o seu próprio requerimento. O presidente do BNDES renuncia após ser acusado de conluio com o PT: foram três generais demitidos essa semana. A relação de Bolsonaro com o "mercado" é péssima, como aponta Arminio Fraga. Bolsonaro é um impecilho para acordos que a burguesia nacional deseja muito e que poderiam ser uma válvula de escape para a guerra econômica  entre UE e EUA. Mas Bolsonaro presta contas ao governo dos EUA e não se preocupa em negociar saídas para a crise econômica que atinge setores da burguesia nacional.

Lula Livre unifica o povo

Se é fato que os setores capitalistas nacionais também estão em disputas internas dentro do condomínio golpista, a unidade entre eles ainda é estabelecida pela destruição das aposentadorias e da educação pública assim como pelo empenho em manter Lula preso, mesmo que contra a lei. O julgamento da prisão em segunda instância está adiado indefinidamente. Quando foi aventada a possibilidade de regime semi-aberto, Lula deixou claro que uma das suas exigências era o desmascaramento de Moro. A suspeição do juiz Sergio Moro deve ser decidida no dia 25 de junho, quando será possível identificar quais as linhas de força da situação que se dividem entre aplacar a revolta de Lula e seu chamado a luta ou o confronto aberto. A situação segue indefinida em cima e a pressão de baixo ainda não foi suficiente para forçar uma saída negociada para a crise que coloque a liberdade de Lula na agenda. O que se beneficia da falta de unidade dos setores de esquerda contra a Lava-Jato, como pode ser visto na entrevista de David Miranda, sucessor de Jean Wyllys e marido de Greenwald. Esta posição reverbera dentro do PSOL e outros setores centristas, que apontam a prisão de  Cabral e Cunha como exemplos bem sucedidos de sua política forista, mostrando que até mesmo quando bem sucedida esta política é um obstáculo para a unidade dos trabalhadores. Neste dificil cenário, a militância tem se dado os meios de construir ações independentes de unidade que coloquem a luta pela Liberdade de Lula no centro da situação política. Afinal, se a prisão de Lula unifica os que querem destruir as condições de existência do povo brasileiro, a unidade contra eles também se materializa na exigência que Lula seja solto e restituído ao convívio de seu povo.

Lula e Louisa livres!

Tirar um líder popular da convivência com seu próprio povo, usando as instituições estatais como armas de guerra, não faz parte da tática imperialista somente no Brasil. Louisa Hanoune, presidenta do PT argelino, continua privada de liberdade, não podendo participar das manifestações contra o regime que continuam aquecendo a situação política na Argélia. As prisões de Lula e de Louisa são exemplos de que o próprio imperialismo ainda pode conviver com uma orientação de esquerda que atue na denuncia e na exigência de queda de governantes, mas se dá todos os meios para impedir que o poder destituinte amadureça seus caminhos e se transforme em poder constituinte, concretizado na exigência de governos, encabeçado por líderes de partidos com base social popular e de trabalhadores, que se comprometam com o atendimento das demandas populares. Depois de Lula e Louisa, quantos mais líderes populares, com potencial para serem levados ao governo pelo povo num ascenso das massas em seus países, serão presos se a escalada não for detida? Não é apenas coincidência. A militância sabe que se levam décadas para construir uma liderança popular com influência de massas. Prendê-los e condená-los com acusações forjadas resolve muitos problemas do ponto de vista de seus inimigos de classe, e rapidamente. Para eles, as subdivisões na própria esquerda são irrelevantes e nem aqueles que tentam manter uma distância política dos condenados, dizendo que a luta por sua libertação não unifica as lutas em curso, estão livres da repressão. A luta contra as perseguições políticas de lideranças e militantes populares tem o potencial de unidade real, baseada num conceito tão antigo quanto abandonado pelos sectários que acabam fazendo o jogo o imperialismo: Paz entre nós, guerra aos senhores!


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