Nos últimos anos a perseguição contra militantes de esquerda ganhou
novos e importantes capítulos, no Brasil e no Mundo. Além do golpe do
impeachment em Dilma, e das prisões de Lula, no Brasil, e Louisa Hanoune, na Argélia, vários
militantes vem sofrendo na pele o peso da repressão. Embora as instituições
brasileiras nunca tenham sido um porto seguro para a militância de esquerda e
para a liderança da classe trabalhadora (ver aqui e aqui), o golpe de 2016,
após o longo ataque contra o PT na ação penal 470, abriu uma nova etapa na
perseguição direta contra trabalhadores.
Em reação à recente greve geral contra a reforma da previdência, trabalhadores
foram demitidos por
aderirem à greve. Prisões e repressão nas ruas
foram a tônica das instituições em resposta à greve geral. Medidas são tomadas
no aparelho de Estado com o
intuito de restringir a livre atividade sindical.
Todas essas ações são fortemente respaldadas pelos meios de comunicação em busca de algum apoio na
sociedade. Esses meios de comunicação incentivam a população a tomar atitudes
antissindicais e o resultado são eventos como o caso do motorista que atropelou uma
professora grevista em Niterói
durante a greve geral. Na Universidade Federal Fluminense (UFF), também em Niterói,
alguns professores atuam conscientemente para sabotar a ação do sindicato SINTUFF.
Outro caso gravíssimo, mais recente, é a nebulosa prisão da companheira
Preta Ferreira e de outros três militantes do Movimento Sem Teto do centro de
São Paulo, em que até mesmo os advogados de defesa estão sendo impedidos de acessarem os documentos do processo.
Perseguição contra
professores e intelectuais
Uma categoria em particular vem sendo o alvo preferido das perseguições políticas:
os professores e intelectuais. Os casos da escritora Márcia Tiburi, da
professora Débora Dinis, e
do ex-deputado Jean Wyllys, todos levados à drástica decisão do auto-exílio são
os mais emblemáticos. Contudo Márcia e Débora não são casos isolados de
intelectuais que deixam o Brasil . O país foi atingido por uma onda de migração
de cérebros, pelas péssimas condições de trabalho, mas também
pela censura e o marcartismo que estão se estabelecendo no país, em que
o “sinistro” da educação usa cortes orçamentários para chantagear as
universidades.
Recente pesquisa patrocinada pela OCDE constatou
que “semanalmente, 10% das escolas brasileiras registram episódios de
intimidação ou abuso verbal contra educadores, com potenciais consequências
para o bem-estar, níveis de estresse e permanência deles na profissão. A média
internacional é de 3%”, segundo matéria do Estadão.
São casos reais, de pessoas reais, como o da professora Marlene de Faveri que
foi processada por uma orientada antifeminista, ou do físico Rodrigo Francisco dos Santos, banido
do doutorado por seu orientador antigrevista. As histórias se multiplicam, mas poucos
têm a coragem de falar publicamente de sua situação. Até porque a denúncia
pública, se não acompanhada de apoio da comunidade acadêmica, pode acabar
trazendo mais perseguição à vítima. Essa perseguição é geralmente potencializada
pelos critérios de produtividade,
que funcionam como uma verdadeira lei antigreve nas universidades. Por isso se
diz que “a pós graduação nunca para”, pois já que o programa que paralisar em
uma greve perde pontos na avaliação da CAPES e pode ter sua nota
rebaixada. Esse tipo de critério é bastante popularizado na iniciativa
privada e agora começa a ganhar espaço no serviço publico.
A resposta institucional é
mais repressão contra a juventude e os professores.
Quando as instituições são procuradas, raramente reagem no sentido de
proteger o perseguido. Esse foi o caso do professor Pedro Mara, exonerado da rede
estadual do Rio de Janeiro por estar sendo perseguido pelos assassinos de
Mariele. Somente após muita pressão dos professores e da sociedade,
Wilson Witzel, governador do Rio, anunciou a sua reitegração, no mesmo evento em que
anunciou o aumento do efetivo de segurança em escolas públicas. A violência como
sempre é a desculpa preferida dos governos para aumentar a repressão contra o
trabalhador. É certo que a violência contra professores tem aumentado,
mas cresce, em particular, a violência vinda do próprio estado (ver aqui e aqui). Às vezes, essa violência
é até premiada, como a promoção, pelo governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do
PM que quebrou um cassetete na testa do estudante Matheus Ferreira da Silva.
A militarização das escolas é uma alternativa da direita para conter uma
suposta violência social, contudo não impede, e até intensifica, a violência
estatal, nada simbólica, como os professores do governo Beto Richa e o próprio Matheus podem
atestar. As instituições, na verdade, passaram a ser a origem da perseguição política
contra militantes de esquerda. Essa afirmação é facilmente comprovada no caso
dos processos contra Lula, desdobrados da Lava Jato, mesmo com a operação sob
suspeita. Não apenas no caso de Lula, mas também no de Preta Ferreira e tantos
outros, a defesa é sistematicamente cerceada.
O papel do PT nessa
história
Assassinatos no campo são uma
chaga social no Brasil, os números são vexatórios. A revogação do decreto de Bolsonaro no Senado, que tinha
o objetivo confesso de armar ainda mais os fazendeiros e seus jagunços, foi uma
importante vitória na defesa da vida dos trabalhadores. Contudo, precisamos, que
nossas organizações possuam uma política nacional, articulada e sistemática, de
defesa dos nossos militantes. Não que as respostas venham prontas, mas a solução do problema
começa a se apresentar quando o problema passa a ser debatido. O
enfrentamento das instituições estatais cada vez mais repressoras e cada vez
mais a serviço dos patrões nos deixa uma margem de manobra institucional muito
estreita. Uma das primeiras propostas nesse sentido seria montar um grupo de
trabalho que discuta o problema e acompanhe os perseguidos. No fundo, o próprio
PT como partido político é perseguido. A todo o momento há alguma iniciativa da
burguesia na tentativa de criminalizar o partido. O caso mais recente é a CPI
do BNDES.
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