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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Steve Bannon: uma voz contra nós

Steve Bannon foi o coordenador da campanha eleitoral de Donald Trump e coordena atualmente a campanha contra o seu impeachment. É, também, criador da Cambridge Analytica, empresa pioneira na analise das tendências de comportamento a partir de informações coletadas no facebook para vender campanhas eleitorais. Dada a importância de Bannon no cenário político nos Estados Unidos, e, também no brasileiro, como colaborador da estratégia da campanha  Bolsonaro - cuja eleição legitima socialmente até mesmo o terraplanismo - o blog Ciência & Revolução considera este personagem, em particular, aquele cujas ideias se tornaram símbolo da aplicação de uma determinada forma de lidar com os movimentos sociais e políticos que lutam por direitos. Esta forma de lidar não reconhece o direito destes movimentos existirem e se basea na construção de uma narrativa persecutória de extermínio, polarizada nas redes e nas ruas através de ações diretas: agressões, ataques e fakenews. Bannon ocupa um lugar particular nos retrocessos sociais que são considerados racistas, machistas e facistas e chegou a este lugar através do uso de redes sociais. Logo após a libertação de Lula, Bannon concedeu uma entrevista a BBC Brasil. O que ele tem a dizer nesta entrevista dá a senha para uma parte das táticas que vão ser usadas para tentar arrancar esta vitória de nós. Analizarmos o que diz um inimigo não significa, tão pouco, na opinião do blog, dar a ele mais força do que tem. Por que até se pode manipular muita gente por pouco tempo ou pouca gente por muito tempo, mas opiniões manipuladas não passam no teste de realidade, aquele que é feito no corpo que passa fome, é aprisionado ou violentado sofrendo as consequências da manipulação. Bannon descreve e atua nos fenômenos políticos com muita precisão, mas pelo ponto de vista de quem tira o pão da mesa do povo brasileiro, enquanto comem brioches. Ele não é o único que atua sob esta perspectiva nas redes sociais, onde se vê a multiplicação da ação de "think tanks" the empreendedorismo político, mas é certamente o caso de maior sucesso eleitoral no uso de novas ferramentas para fazer a velha política. 

O que Bannon tem a dizer sobre a liberdade de Lula?

SB: Veja, o Brexit, 2016 (eleição de Donald Trump) e até Bolsonaro são fatores intrinsecamente ligados. Brexit e 2016, definitivamente conectados,e Bolsonaro de forma decorrente. Você vê as mesmas coisas acontecendo. É irônico que no Halloween, em 31 de outubro, eles votaram para formalizar o processo de impeachment nos EUA no exato mesmo dia em que o Reino Unido não deixou a União Europeia como previsto, três anos depois (do referendo do Brexit). E o voto da nova eleição geral do Reino Unido, em 12 de dezembro, vai provavelmente acontecer a poucos dias do voto do impeachment contra Trump. Acabam de definir que vai ser em meados de dezembro. Então, essas coisas mostram a ordem estabelecida se recusando a reconhecer o poder desse movimento populista e nacionalista. E Bolsonaro, Lula e o Judiciário permitindo que Lula saia da prisão, isso vai fortalecer Bolsonaro. Acho que os seguidores dele verão a importância de continuar empurrando a agenda dele com um senso extra de urgência. Mas acho que isso vai causar uma perturbação enorme no Brasil, potencialmente enorme."
Evidente que Bannon relaciona o BREXIT, a eleição de Bolsonaro e Trump. Bannon está envolvido nos três eventos, tendo sido denunciado por um dos seus ex-funcionários Christofer Willyie de ser a mente por trás do BREXIT.  Nos três episódios, a esquerda se assustou com o crescimento de uma extrema-direita nacionalista. De fato, o movimento que Bannon engaja é de extrema direita, mas está longe de ser nacionalista. 
Para Inglaterra e Brasil, por exemplo, a retórica nacionalista não passa das cores da propaganda. Em todos os casos tem um sentido muito profundo a tendência de bom desempenho eleitoral desta retórica e do BREXIT em particular.
Por mapear os desejos e emoções daqueles dos quais pega os dados no facebook, Bannon coleta as evidências de que o povo de um país se move políticamente em defesa da nação. Para os marxistas, isso é muito concreto e se liga a defesa dos direitos conquistados pelo povo em seu movimento de emancipação. 
Quando a esquerda tradicional passou ela mesma a ser a mão da destruição de direitos conquistados e passou a construir acordos comerciais que obrigavam a flexibilização de direitos já estabelecidos, como os dos trabalhadores e trabalhadoras da Inglaterra, ameaçados pela mão-de-ferro da União Europeia, a oposição mais feroz a esta esquerda aponta o seu erro mas não para defender os direitos, e sim para conquistar o poder, e, utilizando-se da cadela do facismo, destruí-los ainda mais rápido. 
A existência de direitos trabalhistas no primeiro país a realizar a revolução industrial tem um significado importante para todos os que vendem sua mão-de-obra no planeta. De forma que não há nada de nacionalista na candidatura de Boris Jonhson. Aqui mesmo no blog nós já analisamos o interesse de Trump em desestabilizar a União Européia para poder desestatilibar as burguesias imperialistas concorrentes, e manter a dependência militar delas com relação a OTAN.  
Bannon se refere a uma votação no parlamento britânico, onde a decisão sobre o BREXIT foi adiada e agora o novo acordo prevê a saída do Reino Unido para fim de janeiro de 2020. Esse é um movimento importante para a supremacia da burguesia estadunidense na guerra comercial. O slogan da campanha de Trump ''fazer a América grande de novo" assume o significado concreto de submeter até mesmo seus mais próximos aliados na outra margem do Atlântico. 
Esse ideal de grandeza pode ser medido pelo tamanho do orçamento de guerra 716 bilhoes de dolares em 2019 e deve bater novo recorde em 2020, mesmo com o deficit primário nas alturas. Com voto do Partido Democrata. É o orçamento de quem está pronto para uma terceira guerra mundial. E essa linha Trump mantém deste o início de seu mandato, uma verdadeira política de rearmamento

Sobre a urgência da pauta do Golpe diante da liberdade de Lula

SB: "Acho que os seguidores dele (Bolsonaro)verão a importância de continuar empurrando a agenda dele com um senso extra de urgência. 
Este trecho da entrevista salta aos olhos. Publicada em 10 de novembro, um dia antes do Golpe na Bolívia, a urgência que Bannon fala não foi a dos sojeiros amigos do clã Bolsonaro apoiados diretamente pelo Brasil para depor Evo? Não foi a urgência na invasão da embaixada da Venezuela? Ou a urgência da proposta de falsa constituinte de Alcolumbre? 
Como a crise capitalista não foi resolvida e nem pode, os setores 'globalistas' derrotados eleitoralmente por Trump/Bannon retomaram a contra-ofensiva política reconhecendo abertamente que o modo de produção atual leva a destruição do planeta. E é neste contexto que ganha cada vez mais aliados entre os imperialistas a proposta de uma novo paradigma econômico e energético para o capitalismo: a "economia verde", do qual a proposta do "Green New Deal" nos EUA é uma das estrelas. A proposta surge justamente dos setores auto-intitulados "esquerda radical" mas rapidamente foi abraçada por conservadores do "stablishment" como analisamos aqui no blog no texto sobre o aquecimento global. A adesão imperialista a um pesado investimento estatal para reposicionar a economia estadunidense na guerra comercial com uma China, que está na frente nas tecnologias renováveis, faz todo o sentido. E faz sentido também um golpe político num país como a Bolívia, grande produtor de lítio, que é necessário para as baterias de alto desempenho da 'economia verde'. O que mostra que a turma de Bannon continua tendo muitos interesses comuns com os que chama de globalistas e o golpismo ainda é um deles.
O recuo parcial do imperialismo no uso da tática Bannon de massacre aos direitos democráticos pode ser visto na mudança de posição de alguns setores em relação a Lula. Daí a máxima urgência de Bannon. O apoio de  Elisabeth Warren à liberdade de Lula na semana antes de sua libertação é exemplo disso. O que tão pouco significa que Bannon ou mesmo Bolsonaro abram mão de seu programa de destruição do PT e da esquerda, nem de suas ações diretas neste sentido. Bannon/Trump/Bolsonaro não inventaram a perseguição política, mas a elevam a um novo patamar, ainda mais violento.
De qualquer forma, a entrevista de Bannon parece uma senha bem direta e não existe motivo para duvidar que a mensagem tenha sido recebida pelos correspondentes brasileiros associados aos grupos que apoiam Bolsonaro. 

Sobre a esquerda

SB: "Nos EUA, Nancy Pelosi e as forças da esquerda e da ordem estabelecida forçaram os EUA a uma crise constitucional neste fim de ano, junto à temporada de feriados. No Reino Unido, há uma crise constitucional no Reino Unido. Essencialmente, haverá um segundo referendo sobre o Brexit. As forcas antidemocráticas ganharam, elas tiraram as pessoas do caminho."
A acusação é clara: o inimigo é a esquerda (antidemocrática porque socialista na sua cosmovisão) aliada do "stablishment". O requinte da narrativa ideologizada é tão grande que Bannon se utiliza da mesma acusação que a extrema-esquerda faz aos partidos tradicionais da esquerda: conciliação com o que tá aí, o que acaba confundindo de verdade os eleitores. Não se pode subestimar o sentido que a narrativa de Bannon faz para grande parte dos eleitores. 
Nos EUA, o impeachment do próprio TRUMP é um foco de crise institucional, para a qual Bannon ainda não colocou todas as suas cartas na mesa, mas por baixo desenvolve uma campanha em favor de que população não busque informações na midia tradicional e sim na midia "independente", isto é; nos blogs, vlogs que contam as "verdadeiras informações" sobre a "perseguição" que Trump está sofrendo.  Ou seja, uma rede profissionalizada de fakenews.
Para  Bannon, acontece "A mesma coisa no Brasil, isso vai levar o Brasil a uma crise constitucional, porque agora há um líder ativo da oposição, que deveria estar preso, agora solto e pronto para dar fôlego a seu grupo e tentar impedir tudo o que Bolsonaro está tentando fazer". 
A solução que ele apresenta para a crise constitucional "causada por Lula" pode muito bem se encaixar com o fim da presunção de inocência. Ou seja, uma ordem constitucional capaz de prender Lula de novo. No mínimo, as propostas de Alcolumbre e Bannon são bem articuladas. 
A inversão do uso dos termos nacionalismo, populismo e democracia por Bannon é proposital. A apropriação das palavras para atribuir a elas uma narrativa oposta ao seu significado é uma característica marcante desta velha extrema direita turbinada pelas redes sociais.  Trump também já usou a expressão "autodeterminação dos povos" para representar o oposto do que o conceito representa. O uso dessa expressão por Trump ocorreu em um jantar com a rainha da Inglaterra, quando Trump dizia que o Brexit retomaria a autodeterminação do Reino Unido. O discurso ideológico não resiste a uma análise dos fatos, aqui está relatada uma série de consequências que o BREXIT irá provocar no quadro institucional Europeu e Britânico. 

Sobre a "perturbação" que a liberdade de Lula pode causar

SB:  "Tentar parar o movimento de reformas de Bolsonaro, que claramente se contrapõe a muito da corrupção que emanava no escândalo da Lava Jato e outros. A reforma da previdência, toda a reestruturação financeira, e a retirada da corrupção do sistema." 
O que Bolsonaro realmente tem feito é leiloar reservas estratégicas de petróleo por uma ninharia, na contra mão dos governos do PT que mantinham o conteúdo nacional do petróleo produzido no país. Atacar direitos trabalhistas e desobrigar o poder público de construir escolas; reduzir o salário de servidores; atacar universidades acusando-as de serem fazendas de maconha e de produzirem drogas em seus laboratórios, abrindo uma verdadeira cruzada obscurantista e anti-nacional tem sido a marca do programa aplicado por um usurpador que nada tem de nacionalista. Mas isto tudo não começou nas eleições de 2018, vem de longe nos EUA, independente do partido ou peesoa que ocupa a presidência deste país e pode ser visto no papel da lava-jato, que além de perseguir lideranças populares, tem fragilizado a economia nacional, praticamente destruindo as empresas de engenharia que nos governos do PT ganhavam espaço no mercado econômico mundial. E o governo do PT sabia da espionagem, cuja denúncia pública ainda levou a mais perseguições políticas, como a de Assange.

Sobre a Amazônia

SB: "Segundo, acho que Lula vai tentar criar problemas sobre a Amazônia. O que ele traz consigo é uma rede da esquerda marxista e cultural. Traz os recursos, os globalistas, e traz na forma de um populismo de esquerda. Mas ele é um globalista e eles sempre o apoiaram. Particularmente nesse momento sensível, as forcas globalistas vão tentar interferir nos direitos absolutamente nacionais da população brasileira, que tem o direito de tomar conta da Amazônia." 
A denúncia de Lula como "poster-boy" do globalismo refere-se aos anos em que o PT se envolveu ativamente nos Foruns Sociais Mundiais junto com ONGs de financiamento duvidoso e empresários como George Soros. Se é bastante discutível este tipo de iniciativa do ponto de vista da unidade internacional dos trabalhadores e oprimidos, o fato é que com Lula e com o PT no governo, a expropriação das riquezas nacionais brasileiras foi bastante reduzida. O PT não realizou um governo anti-nacional, ao contrário, seus investimentos econômicos em outros países tendiam a despolarizar a opressão nacional imposta pelo Imperio estadunidense.
A retórica nacionalista de Bannon, contudo, é aplicada por seu pupilo Bolsonaro, que lançou contra Macron a acusação de ser colonianista recentemente, justo em um debate acerca da Amazônia. Claro que Bannon não considera que os brasileiros tem o direito de tomar conta da Amazônia, o que ele quer para o governo Bolsonaro é o direito de destruir a Amazônia como se viu nas queimadas. Que tipo de auto-determinação dos povos é esta que Trump defende assinando com o Brasil o acordo da base de Alcantara, que acaba com a soberania brasileira no cenário espacial, além de ser uma posição estratégica no conflito com a Venezuela? 

Sobre a violência de Bolsonaro

Perguntado se Bolsonaro escalaria a repressão política, Bannon responde "Não, de jeito nenhum. Acho que Lula vai fortalecer as forças populistas de Bolsonaro para dizerem "Temos que fazer essas reformas o quanto antes". Acho que isso é um tiro que ajuda a consolidar o controle de Bolsonaro e colocar um senso de urgência a seus seguidores.
Talvez admitir abertamente que Bolsonaro pretende reprimir o movimento, como ameaçou caso a situação tipo Chile se replicasse no Brasil, não caiba numa entrevista pública, mas reafirmar a urgência de todas as reformas não tem problema. O que não quer dizer que  não existam ações diretas por "seguidores de Bolsonaro" no sentido de reprimir e atacar o movimento operário e popular. O dia da consciência negra foi marcado por diversas tentativas de intimidação e agressões contra o povo negro. Uma delas realizada no próprio Congresso Nacional, que levou a um discurso brilhante da deputada Benedita do PT. Quando não é possível usar o aparelho de Estado para atacar os movimentos sociais, se dá liberdade de ação ao fundamentalismo, inclusive religioso, que se organiza, cada vez mais radicalizado, em diversos setores da sociedade, tal qual na Bolívia.

Sobre a polarização no Brasil

Bannon é questionado se a saída de Lula da prisão aumentaria a polarização e se isso seria positivo para Bolsonaro, ele responde: "A razão de ser preciso mostrar urgência em ajudar seu programa é o fato de que ele agora vai ser desafiado por um "rockstar" internacional da esquerda globalista. Não vai ser tranquilo"
Por mais que inverta a narrativa, Bannon não é delirante, ele sabe o tamanho de Lula, a quem considera a maior liderança de esquerda do mundo, rivalizando somente com Barack Obama. Nos fatos, sob o mandato de Obama, os Estados Unidos declarou guerra a diversos países, o que enfrentou oposição até mesmo dentro do seu partido, de forma que o rótulo de "esquerda" também não cabe a Obama. Que Bannon use os conceitos e as palavras descontextualizados e ressignificados é parte de um problema mais geral da lógica do sistema capitalista que transforma qualquer conceito em mercadoria. E ele conhece muito bem este processo industrial que transforma até mesmo a intenção de voto num produto que pode ser entregue. Por conhecê-lo, sabe que este processo tem mais sucesso quanto maior o vazio da narrativa deixado pelos partidos que possuem a representatividade orgânica dos que sofrem as consequências da crise do sistema. 
No Brasil, Lula e o PT são processos mais avançados de representação das amplas massas, por isso precisam ser destruídos. O sucesso eleitoral da política como estratégia de marketing obriga a tirar estas trincheiras democráticas do caminho. Mas Bannon não é o único que modula candidatos para conquistar determinado público. Ele é apenas aquele que tem milhões de dados de milhões de pessoas para fazer suas experiências. A lógica com que atua também é partilhada por outros setores de direita, centro e até da esquerda. Não fosse assim as relações de representatividade que os oprimidos possuem com Lula e o PT teriam sido respeitadas pelas forças democráticas e a unidade em torno da candidatura do PT teria acontecido antes do primeiro turno em 2018, respondendo a polarização antipetista com mais determinação. É a existência de um polo artificial de ataque ao PT que exige a defesa do PT, porque este polo não pode vencer nenhuma batalha senão ganha força e vai esmagar toda a esquerda um-a-um, uma-a-uma, como Marielle. A defesa do PT é uma bandeira de auto-defesa da classe trabalhadora, das mulheres e do povo negro. 

Sobre a crise institucional nos EUA e no Reino Unido

SB:  "Olhe para o Reino Unido e para os EUA, os dois países estão passando por terremotos. Acho que o processo de impeachment pode potencialmente fortalecer o presidente Trump e acho que a eleição pode fortalecer o movimento de saída do Reino Unido da União Europeia, mas é um teste, é desestabilizador e ninguém sabe no que isso vai dar. Ninguém pode prever nada, cada dia agora é importante."
Bannon está certo. Ninguém pode prever nada. Quem poderia prever que a prisão de Lula não desanimaria a militância? Quem poderia prever que Lula fosse ser libertado junto com outras milhares de vítimas do sistema jurídico-penitenciário e participaria do Congresso do PT? Quem pode prever se o povo boliviano, que não desistiu do voto que deu, não poderá lograr trazer Evo de volta ao governo? Cada dia é importante. 
O poder de fogo em campanhas que Bannon tem, por sua vez, não está agradando nem um pouco o conjunto da burguesia imperialista. O setor da burguesia ligada a Bannon foi combatido durante o ano de 2019 por outro setor do Imperialismo que é o que Bannon chama de "Globalista". Bolsonaro e Trump foram enquadrados no G20Macron enquadrou Bolsonaro na crise da Amazônia. E isto tem bases materiais. Se o produto eleitoral chamado Trump conseguiu, no governo, diminuir os índices de desemprego nos EUA, ele está muito longe de levar os EUA a vencer a guerra comercial com a China, de forma que Trump não tem as condições objetivas de unificar o imperialismo. 
O que pode aparecer para setores democráticos como uma cruzada ideológica contra o mal maior  representado pela extrema direita facista tem um aspecto de falácia. Os mesmos setores imperialistas que se mostram hoje escandalizados com o racismo, machismo, fascismo e negacionismo da ciência representado por Trump/Bannon não exitariam em apoiá-lo caso ele conseguisse passar no teste de garantir a supremacia estadunidense no mundo, como demonstram quando se aliam a ele no caso do orçamento armamentista deste país. Como demonstraram nos golpes no Brasil e na Bolívia.
crise do capitalismo é material e a retórica Trump-Bannon é insuficiente para enfrentá-la. Não é possível manter do nível de emprego atual nos EUA sem o aprofundamento do intervencionismo externo. O impeachment e a vitimização de Trump vem bem a calhar no sentido de polarizar e organizar a neuroticidade de uma grande parte dos eleitores de Trump num momento de instabilidade do dólar
O impeachment de Trump, tão pouco, resolve o problema principal para todos os povos do mundo que é como ter no governo dos Estados Unidos uma verdadeira representação dos oprimidos deste país que não tenha nenhum interesse em submeter outros povos. Este é o significado que a candidatura de Bernie Sanders assumiu e que Lula expressa ao dizer que queria que Sanders fosse eleito. Ninguém pode prever nada, nem mesmo se a força das massas que se levantam no continente será ou não capaz de produzir condições excepcionais que levem Sanders a presidência contra a ditadura bipartidarista dos bilionários dos EUA. 

Sobre 'nacionalistas' e 'globalistas'

Perguntado sobre a eleição na Argentina, Bannon responde: "Tudo bem. Tudo bem. Aliás, as pessoas agora, e você vê isso, estão prestando atenção na diferença entre nacionalistas e globalistas a cada eleição. As mesmas pessoas que não nos deram crédito no começo estavam errados naquela época e estão errados agora. O grupo que diz que o movimento está enfraquecendo é o mesmo grupo de defensores da ordem estabelecida que estavam errados no começo. Eu sei que a BBC, a The Economist, o Financial Times, o New York Times, iriam todos amar ver o movimento acabar. Mas não vai acabar. Vai ficar mais forte todos os dias."  
Nacionalistas e globalistas. Essa classificação de Bannon é bem interessante, são nomes bem escolhidos, afinal de contas a dita globalização trouxe penúria para os trabalhadores de todos os países: as classes médias foram esmagadas (ver aqui e aqui) e as organizações dos trabalhadores que defendiam que "outro mundo era possível" não conseguiram impedir o retrocesso. 
A retórica de "esquerda" de democratização das instituições do sistema capitalista em nome da "inclusão" dos excluídos pelo sistema não resistiu aos fatos. E os fatos mostram que tanto na Europa, como em outros lugares, são estas instituições da 'globalização' que patrocinaram a superconcentração de riqueza das últimas décadas (aqui). A "esquerda" caiu no conto da carochinha de que o sistema capitalista era capaz de resolver suas próprias crises econômicas e que aos trabalhadores e oprimidos bastava lutar por democracia, inclusão e participação nas decisões do sistema. O problema central da dissociação dos problemas econômicos dos democráticos é um "sintoma morbido" que separa o indissociável e acabou levou a formação de uma esquerda radicalizada ao redor de uma pauta "moral" que rejeita inclusive o uso do termo "Imperialismo". Para os que só tem sua força de trabalho para vender esta esquerda fala "grego" e democracia tem um conteúdo bem palpável que é conseguir um emprego e ser capaz de sustentar sua família. Esta "esquerda liberal" Bannon tem bastante eficiência em combater com caricaturas que reforçam preconceitos, justamente com o propósito de acirrar os ânimos para pavimentar a o caminho de guerras civís. 
Sob controle das classes que defendem a anarquia do mercado, sem a ruptura com o paradigma da propriedade privada dos meios de produção, um desenvolvimento econômico das nações centrais do imperialismo mais provavelmente terá o mesmo efeito do primeiro "new deal", preparar estes países para vencer a Guerra, que decorre do mercado mundial estar saturado. A criação de um novo mercado, verde, poderia (ninguém pode prever) até dar uma sobrevida ao sistema, mas não elimina nenhuma das contradições deste sistema, inclusive o problema do meio-ambiente ao qual o problema das guerras (e da perseguição política aos que lutam contra elas) está intimimante relacionado. 

Conclusão

De fato, a liberdade de Lula é uma das bandeiras democráticas mais importantes no mundo, porque concentra o direito dos trabalhadores construírem seu próprio partido e com ele governar. Governar com e para a classe trabalhadora e todas as vítimas de opressão/perseguição objetivamente leva a necessidade de novas instituições políticas que possam dar materialidade não apenas a inclusão, mas principalmente a luta contra a repressão, encarceramento e matança no andar de baixo da sociedade. E este não é  um problema que se coloque apenas nas eleições presidenciais de 2022, cujas condições de realização ninguém pode prever. Este problema está colocado hoje, concretamente, na organização da consciência de que o Golpe de 2016 foi uma farsa que desmoralizou completamente as instituições da república, não só incapazes de impedí-lo, mas que tornaram o Golpe possível.
Frente à instabilidade política mundial torna-se muito perigoso colocar todos os ovos na cesta de uma oposição institucional/parlamentar a Bolsonaro, deixando o povo sangrar enquanto se espera eleições. Mais do que nunca a defesa do PT e seu direito legítimo de governar, usurpado tanto pelo golpe em Dilma quanto pela prisão de Lula, está colocada como a perspectiva democrática que pode, como se fez na Venezuela, convocar uma Assembléia Nacional Constituinte e Soberana que torne o povo mais consciente do seu papel político na construção de uma solução de paz para quem só tem a perder os grilhões que aprisionam. O PT estar preparado para qualquer cenário depende mais do que nunca  da capacidade de organizar quem vota no PT para defender o seu voto e o conteúdo político que este voto expressa.  

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