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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

O que quer a DS no Rio?


Foi com perplexidade que lemos a nota da corrente Democracia Socialista contra candidatura própria no Rio de Janeiro. Evidente que todo o debate de posições acalorado pode levar a excessos na argumentação, mas frente a gravidade do que lemos não poderíamos nos calar.

A primeira coisa a dizer é que os companheiros da DS dominam a retórica. Articulam bem várias ideias do senso comum para dar a elas alguma autoridade teórica, mas nada disso resiste a um exame. O texto da DS tem uma nota só. Freixo como o candidato do PT.

A defesa de uma frente de unidade da esquerda contra o facismo encontra grande adesão nos setores progressistas. Dizer que se defende tal frente não é a mesma coisa que defender Freixo. Uma frente anti-facista, por exemplo, não pode se omitir diante da perseguição política executada através golpes, assassinatos, prisões de militantes e cerceamento da liberdade de imprensa. E não precisa nem ser de esquerda pra ser contra a ditadura que se instalou depois do Golpe no Brasil. Requião, por exemplo, defende uma frente nacionalista que lute pra restituir os direitos políticos de Lula. Sobre o eixo político para unidade não há nenhuma palavra consistente na nota da DS.
Espreme-se a nota e a única proposta que se extrai dela é Freixo. Não é chamar os partidos da esquerda para um debate e discussão de um programa comum que denuncie o golpe em Dilma, o assassinato de Marielle e a prisão de Lula. Existem varios companheiros e companheiras que defendem isso no PT, alguns deles estão  no movimento pela candidatura própria, outros não. É um debate legítimo de tática.

E neste debate tático o que temos visto é que a grande maioria do movimento pela candidatura própria defende uma discussão aprofundada, desde a base, de um programa que defenda o legado do PT para explicar que toda a piora da vida da população vem da farsa que tirou o PT do governo. São militantes que acreditam que o PT precisa combinar o jogo entre si primeiro porque tem visto falhas internas na defesa que o partido faz de si mesmo. A maioria destes militantes sente aquilo que Tainá de Paula escreveu em sua carta de desligamento do  PC do B. "A defesa enfática e “desinibida” de Lula é indissociável do processo de reconstrução do campo democrático brasileiro e latino-americano." Para nós, esta desinibição na defesa de Lula, contra sua perseguição, deve ter alcance mundial na construção de relações de solidariedade cada vez mais urgentes. Luisa Hanoune na Argélia, Jorge Glas no Equador, Assange e o próprio Snowden enfrentam prisões políticas também à serviço do Império Estadunidense e isto precisa ser detido.

A nota da DS, por não ter nada a dizer sobre nada disso, precisa desqualificar o movimento pela candidatura própria. E como não querem dizer que estão se chocando com a base do PT, chegam a usar a expressao "defender o legado de Lula" para enganar a militância. Senão a conclusão não seria defender um candidato cuja inibição na defesa de Lula é mais do que notória. Há piores no PSOL, lavajateiros confessos, cuja capitulação na defesa de Lula contra sua perseguição política levaram à desfiliação de Marcia Tiburi, intelectal brasileira que alerta há muitos anos para o risco facista. Não se trata aqui de demonizar o PSOL, mas entendê-lo. E entender que este partido, sim, precisou demonizar o PT para justificar sua existência. A responsabilidade política da corrente internacional que a DS tem como referência teórica não pode ser amenizada neste processo. O Secretariado Unificado aprovou se desdobrar nos dois partidos (PT e PSOL) e a cada congresso que realiza tem avançado mais no abandono da construção de partidos da classe trabalhadora para favorecer partidos gelatinosos que se dizem anti-capitalistas. A conclusão desta política no Brasil é a priorização da construção em torno do PSOL. No Rio, que é onde o PSOL conseguiu um desempenho melhor que o PT nas últimas eleições não tem nem o que se pensar sobre isto.
O que levaria a DS se sentir no direito de numa nota oficial ser tão virulenta contra seus companheiros de partido que acusam de "elementos sectários", “ufanistas”, "oportunistas", "lulistas acríticos", "saudosos da frente ampla capitaneada pela direita liberal e que enxergam no retorno de Paes ao governo municipal o avanço político possível" ? É assim que a DS do Rio vê o partido e sua base? Se é assim realmente faria sentido a DS buscar um outro lugar na cena política carioca, o de pacificadora da crise que acometeu o SU com sua subdivisão em diversos grupos no Brasil. Não seria nosso problema se isto não fosse às custas do já enfraquecido PT do Rio.

Tem razão o militante que, no debate pela cadidatura própria, disse que o PT do Rio não corrigiria ou se redimiria de seus erros no estado se submetendo ao PSOL. A luta por candidaturas próprias do PT no Rio de Janeiro é muito antiga e à cada eleição acumulam-se traumas. A situação é ainda pior quando se lançam candidaturas próprias de fachada e se negociam alianças de bastidores às costas da militância. Nós vemos muita gente querendo corrigir os erros do PT e, com isso, reverter a decisão nunca explicitada publicamente de que o PT do Rio não quer governar diretamente. E a grande maioria dos militantes do movimento pela candidatura própria estão nesse barco, reconstruindo os núcleos de base do partido.

A posição da DS é Freixo, por isso não pode reconhecer, como timidamente faz a  Articulação de Esquerda, que o movimento pela candidatura própria está forçando o debate no partido. Porque este debate a DS não pode enfrentar. Ela tem um nome para a disputa à prefeitura, de outro partido. Não é o programa da frente que conta, não são os debates, não são as relações de confiança e solidariedade, não é a escuta dos setores que nunca tiveram poder nem nos partidos e nem na sociedade. Não, nada disso conta.

Que um militante comum pense que no atual cenário seja Freixo o nome da "esquerda" que tem mais chances no Rio é uma posição de senso comum que pode ser refutada no debate aprofundado dos dados da tendência do eleitorado. Convencendo ou não, discute-se. Mas isto é totalmente diferente de uma corrente interna do PT defender um nome que ainda está em disputa em outro partido, e fazer isso oficialmente.  O que a DS, uma organização política interna ao PT, faz com isso é também interferir no debate interno do PSOL que sequer chegou a definir seu candidato. Se o PT adotasse agora a mesma posição da DS, a pressão externa que isto exerceria sobre o PSOL acabaria levando à velha política dos fatos consumados. O desrespeito à base do PT anda junto com o desrespeito à base do PSOL.  E tem gente no PSOL que defendeu Lula, continua o trabalho de Marielle e também tá cansada deste bom mocismo palatável à Rede Globo.

Que se façam os debates e que se ouça a base popular do partido que tem base popular.

Comentários

  1. Respostas
    1. O texto é assinado pelo Circulo de Estudos Revolucionarios Anderson Luis (CERAL).

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  2. PT defende PT, a discussão é necessária e não podemos mais aceitar " baixar a cabeça" como o próprio Lula falou

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  3. Sou a favor da candidatura própria do PT, no momento atual de antipetismo estimulado. Isso também é lutar contra o fascismo. Como no nazifascismo, o PT está sendo o "inimigo", o "bode expiatório"para fazer crescer a direita extrema. O PT é o maior partido de esquerda da América Latina. Quando começou, absolutamente pequeno, nao elegia governantes. E em plena ditadura. Alguns gatos pingados fazendo campanha. O PT precisa de voz para passar a sua mensagem.

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