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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

A Operação Lava jato é a principal arma do imperialismo dos EUA contra os povos do continente sul-americano

 Em 4 de outubro de 2019, o informativo Voz Operária noticiava a crise institucional no Peru nos seguintes termos: A nova onda de golpes de Estado intensificou a crise geral das instituições republicanas em todos os países da América Latina. Nesse sentido, a atual crise no Peru é uma expressão dessa crise geral dos regimes republicanos. Voz Operária identificava naquele momento a crise no Peru que, àquela altura, contava 5 ex-presidentes indiciados por corrupção; indiciamento que levou um deles, Alan Garcia, ao suicídio. O então governante, Martin Vizcarra, eleito na chapa com Pedro Paulo Kuchinsk havia enviado ao Congresso um pacote de medidas moralizantes muito parecidas com o pacote de medidas defendidas por Sérgio Moro no Brasil. Voz Operária, então, sentencia acerca deste conflito entre Vizcarra e o Congresso Peruano: Se Vizcarra prevalecer, ou não, nos próximos dias, o clima de conflito imposto por vários anos na política interna não mudará. Mais de um ano após essa matéria ser escrita, ocorreu que o Congresso Peruano derrubou Vizcarra usando um dispositivo presente na Constituição outorgada por Fujimori, na década de 90.

 


Mas... e a Lava Jato?

Os informativos The Intercept e Ojo Publico fizeram uma parceria e divulgaram áudios vazados da Lava Jato peruana, onde procuradores forjavam delações, usando  os mesmos métodos de intimidação,  comuns em território brasileiro. No Peru, assim como no Brasil, foram mapeados impactos econômicos negativos gerados pelas atividades da Lava Jato - prejuízo que impactou o PIB peruano em 2%. Este prejuízo só não foi maior porque o setor de obras públicas no Peru não é um dos principais setores da economia do país. 

 

 

Um golpe contra aliados?

 Segundo o Portal Terra , a Operação Lava Jato estende seus tentáculos por 12 países, contudo  o governo Peruano de Vizcarra é  um antigo aliado do imperialismo dos EUA no continente sul-americano,  aliado a ponto de sediar o Grupo de Lima (V. Declaração do Grupo de Lima na página do Ministério das Relações Exteriores do Peru), um grupo que visa atacar o governo legítimo da Venezuela chefiado por Nicolás Maduro, principal adversário diplomático dos EUA na região. Existe ainda outro argumento importante contra a hipótese de golpe no Peru: o fato dos sucessivos governos peruanos manterem o tripé macroeconômico, seguindo à risca os ditames da austeridade fiscal, o câmbio flutuante e a meta de inflação. Portanto, esses governos atacaram severamente os direitos trabalhistas e democráticos para honrar seus compromissos com a sagrada escritura do tripé macroeconômico. Seriam esses argumentos suficientes para invalidar a hipótese de um golpe?

 

O Imperialismo precisa ir mais longe

O Peru tem a China como principal parceira comercial. O Observatório da Complexidade traz alguns números que podem esclarecer. Reproduzimos aqui alguns dados coletados:

Comércio - As principais exportações do Peru são: Minério de Cobre (US$ 13 Bilhões), Ouro (US$ 7,08 Bilhões), Petróleo Refinado (US$ 2,83 Bilhões), Minério de Zinco (US$ 2,2 Bilhões) e Cobre Refinado(US$ 1,85 bilhão). As principais importações do Peru são Petróleo Refinado (US$ 3,54 bilhões), Petróleo Bruto (US$ 2,25 bilhões), carros (US$ 1,49 bilhão), equipamentos de radiodifusão (US$ 1,22 bilhão) e  Caminhões de Entrega (US$ 855 milhões).

 

Destinos - O Peru exporta principalmente para a China (US$ 13,3 bilhões), Estados Unidos (US$ 8,02 bilhões), Índia (US$ 2,49 bilhões), Coreia do Sul (US$ 2,47 bilhões) e Japão (US$ 2,18 bilhões), e importações principalmente da China (US$ 9,28B), Estados Unidos(US$ 9,25 bilhões), Brasil (US$ 2,19 bilhões), México (US$ 1,81B) e Chile (US$ 1,71 bilhão).

 

Assim como o padrão dos países da América Latina, o Peru é um exportador de commodities e, embora o seu governo seja um aliado diplomático do imperialismo estadunidense contra a soberania da Venezuela, em termos comerciais, o Peru é bem mais próximo da China. Isso coloca que um golpe no Peru pode tirá-lo da área de influência comercial e cortar uma importante fonte de suprimentos para a China, tornando esse golpe mais um capítulo da guerra comercial entre China e EUA.   Esse diagnóstico fortalece bastante a hipótese de golpe imperialista no Peru; porém, existe outro fato que reforça ainda mais essa hipótese. 

 

Primeiras consequências do discurso de Joe Biden - A questão Amazônica 

A questão petrolífera é assumidamente a fonte de muitas guerras no fim do século XX. Agora, com o aquecimento global, o petróleo como fonte de energia vem sendo o bode expiatório de todas as tragédias mundiais. Em um artigo (Editorial) datado de 02 de outubro de 2020, com o título A saúde dos povos da Amazônia estava em crise muito antes da pandemia, o The New York Times relata em tom de denúncia o desastre que se abate sobre a Nação Quíchua. O autor do artigo é um jornalista peruano chamado Joseph Zarate, apresentado como autor do livro Guerras do Interior

 

Em seu artigo Zarate argumenta:

Construir a economia de uma nação com base na exploração de seus recursos naturais tem um custo, mas acima de tudo acarreta uma dívida. No Peru, temos essa dívida com o meio ambiente e os povos indígenas."

 

Qualquer defensor da autodeterminação dos povos concordaria com Zarate , é um argumento justo e legítimo que os povos indígenas sejam recompensados.

É justa a indignação da associação indígena, relata Zarate nos termos abaixo:

 

No início de setembro, o Ministério da Saúde tinha mais de 18 mil indígenas infectados com COVID-19 na Amazônia peruana. O Awajún e o Kichwa são os mais derrotados. Embora não exista um número oficial, a Associação Interétnica para o Desenvolvimento da Selva Peruana (Aidesep) – que vem processando as informações das Secretarias Regionais de Saúde – registrou até o final de agosto 387 indígenas que morreram pelo vírus. Pode haver muito mais: vários infectados morreram com sintomas, mas nenhum teste rápido foi feito ou passado para revisão médica.

 

Contudo, na sequência, Zarate faz uma falsificação:

 

A pandemia — causada por um novo Coronavírus que provavelmente se espalhou de um animal selvagem para humanos, em grande parte como resultado da destruição de ecossistemas na China — exacerbou essa dívida.

 

Zarate tenta culpar a China pela pandemia, embora existam estudos que indiquem o problema da difusão do vírus pelo agronegócio como sendo mundial e que o vírus circulava dentro dos EUA muito antes do alerta em Wuhan. O capitalismo destrói a natureza há pelo menos 200 anos; mas essa ainda não é a questão. É pública e notória a forte influência do The New York Times como porta-voz do imperialismo dos EUA. Tanto que esse editorial está em forte acordo com as declarações de  Joe Biden sobre a Amazônia, ainda antes da eleição nos EUA. Biden ameaça diretamente o Brasil de sanções comerciais, a exemplo do que é feito com a Venezuela. 

 

O alto preço de uma aliança com o Imperialismo

Saddam Hussein foi apoiado pelo governo de Ronald Reagan e depois assassinado em um Iraque sob intervenção dos EUA. Osama Bin Laden também foi um aliado do imperialismo dos EUA e depois foi considerado o inimigo número um da Casa Branca, até ser executado por soldados estadunidenses. Esses são os exemplos recentes mais famosos de aliados dos EUA que foram abandonados e executados pelas lideranças do imperialismo, mesmo tendo prestado grandes serviços ao regime da Casa Branca. O imperialismo não tem pudores de destruir seus ex-aliados, quando estes deixam de ser úteis.

 

 

Lula é o cara

 

O Brasil inteiro ficou encantado quando o ex-presidente dos EUA, prêmio Nobel da Paz e o único presidente dos EUA a estar todos os dias de seu mandato em guerra   disse, para que o mundo todo ouvisse, que Lula era o cara.  Naquela época, Lula era, como disse o próprio Obama, o político mais popular da Terra. Embora a diplomacia do governo petista tenha entrado em conflito com os EUA por diversas vezes, em muitas outras situações, o governo petista agiu para apaziguar movimentos anti-imperialistas na América do Sul , gerando uma reconciliação com setores sul-americanos que trilhavam um caminho de ruptura com o imperialismo. Entretanto, Obama, em seu recente livro, fez questão de atacar Lula. Mas essa não foi a primeira vez que o governo Obama se revelou responsável por práticas de espionagem contra a presidenta Dilma. 

 

 

A lição de todas essas experiências

 

Ciência&Revolução vem defendendo, há algum tempo, a hipótese de que o atual quadro institucional, em escala global, está totalmente ultrapassado do ponto de vista das necessidades de exploração da burguesia. As instituições burguesas, ditas democráticas, onde os partidos operários atuavam  inscrevendo garantias e convenções trabalhistas e democráticas,  estão fechadas para essas organizações e trabalham  abertamente para destruí-las, pois a enorme crise do capitalismo obriga a burguesia a elevar os níveis de exploração a padrões desconhecidos e, por isso, essas organizações tornam-se verdadeiras máquinas de guerra contra o povo e pelo povo são odiadas, pois a única coisa que são capazes de oferecer é  repressão/perseguição contra aqueles que ganham o pão de cada dia vendendo suas horas de trabalho . 

 

Revisitar as tradições do movimento operário

 

Resolver essa situação crítica pela qual passa a classe operária mundial não é tarefa fácil. Não existe solução mágica, mas o movimento operário tem história, tem tradição... é necessário revisitá-las, reatar com essas tradições, fazer o balanço dos avanços e das derrotas do último século. Sem esse balanço, sem entender os motivos que permitem o modo de produção capitalista permanecer como o modo de produção dominante na face do planeta − mesmo engendrando os maiores sofrimentos à classe operária − sem esse entendimento não será possível uma vitória duradoura. É preciso revisitar as tradições do marxismo e entender, que o modo de produção capitalista atingiu, há muito tempo, o seu ápice e agora passa por uma profunda agonia em escala global, que leva a humanidade a testemunhar um desfile de horrores sem precedentes na história. Portanto, sem o entendimento de que não há saída nos marcos desse modo de produção em avançado estágio de putrefação, não existe como derrubá-lo.

 

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