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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

A situação de Lula é o termômetro da luta de classes no Brasil

A guerra comercial, que teve uma ilusória trégua no G20, vive um novo aquecimento com a eleição
de Boris Johson na inglaterra. Johnson defende um Brexit rápido, atendendo aos interesses diretos de fragmentação imediata do bloco, atualmente uma muleta onde se equilibram as burguesias imperialistas alemã e francesa. Os EUA impõem novas taxações e saem do acordo de não proliferação de armas nucleares com a Rússia. É uma nova corrida armamentista que está colocada. Trump usa todo o poder do imperialismo americano para submeter o mundo às suas vontades. Neste sentido, colocar o Brasil como aliado preferencial extra-OTAN pode ser uma ajuda à combalida economia americana, que exige cada vez mais sacrifícios dos povos no mundo, pois sofreu mais um revés - uma desaceleração - neste segundo trimestre, mesmo com todas as medidas de guerra fiscal que foram implementadas. A crise econômica é grave e profunda e a recente decisão do FED de baixar a taxa de juros tem exatamente o objetivo de forçar o investimento em setores produtivos em detrimento da especulação, sinal de que a taxa média de lucro na produção está pouco atrativa. Sacrifícios  que terão consequências, como o aumento da crise migratória na fronteira sul dos EUA, que possui números assustadores, mas não geram a mínima comoção nos defensores da ''democracia'', que preferem denunciar Maduro, por exemplo. Os tais defensores da ''democracia'' não passam de hipócritas que denunciam perseguição política na Venezuela, mas fazem vista grossa à ameaça de Trump de estabelecer um bloqueio ao país sul-americano. O que só vai piorar a situação humanitária ao sul dos EUA.  A Venezuela, que sumiu dos noticiários após a derrota de Guaidó, tem resistido bravamente às provocações imperialistas que violam inclusive o seu espaço aéreo. Mas isso não incomoda nenhuma instituição multilateral. Celso Amorim foi muito feliz em dizer que Lula não é preso político de uma suposta ditadura na Venezuela, e nós dizemos: Lula é um preso político de uma verdadeira ditadura, a ditadura de Bolsonaro/Trump! Neste sentido, Gleise tem acertado ao longo de seu mandato na presidência do PT em estar ao lado da autodeterminação do povo venezuelano. Uma verdadeira campanha em defesa da autodeterminação do povo venezuelano é certamente urgente. Parece que as ilusões da direção do PT nos organismos multilaterais começam a cair, pois a situação do imperialismo leva o poderio bélico-econômico do imperialismo mais poderoso do mundo a atropelar todos os acordos e ritos multilaterais.
 Trump retoma a pressão contra a China ameaçando novas medidas, nos terrenos comercial, cambial e tecnológico.


No Brasil, alguns  setores patronais começam a cogitar o impeachment de Bolsonaro'. 



O Jornal o Estado de São Paulo deu a senha em seu editorial com o título 'Deixem o liberalismo fora disso'. Em seguida Fernando Henrique Cardoso, em artigo no jornal El País, reivindica um ''liberalismo progressista'' e ainda sentencia que ''não basta a boa economia". Curioso que em uma edição do jornal Folha de São Paulo de 4 de julho de 1996, durante o governo FHC, podia se ler 'Desemprego e arrocho derrubam FHC'. FHC certamente não é um exemplo de 'boa economia', pelo menos não do ponto de vista dos trabalhadores. O discípulo argentino de FHC, Maurício Macri, também passa longe daquilo que se pode chamar de boa economia, aliás a gestão econômica de Macri é classificada como um fracasso. Esses dois artigos indicam que um impeachment de Bolsonaro poderia apontar uma saída no horizonte de uma parcela da burguesia, uma válvula de escape para aliviar o ódio popular contra Bolsonaro, que seria responsabilizado sozinho pelo desemprego, queda da renda e informalidade que vem castigando a classe trabalhadora brasileira desde o início do golpe, permitindo assim uma sobrevida à política de destruição dos direitos e garantias sociais e mesmo a continuidade da perseguição política, que agora escalou das lideranças populares e professores nas redes de ensino e atingiu a elite científica com a demissão de Ricardo Galvão da presidência do INPE. 

A situação atual do imperialismo: a crise econômica mundial é tão profunda que é necessário rebaixar o preço da mão de obra à níveis análogos à escravidão.

A ditadura aumenta a repressão contra os trabalhadores frente a uma possível onda de protestos no segundo semestre. 


Gleise Hoffman, presidenta do PT, após visita a Lula, convoca uma agenda de manifestações para o mês de agosto. Os serviçais do imperialismo sinalizam uma escalada de repressão e Moro autoriza o uso da força nacional de segurança contra as manifestações da UNE na semana que vem, o governo do Mato Grosso autoriza o uso da força contra uma greve docente. A decisão do governador Mauro Mendes do DEM foi amparada em uma decisão judicial que fixou multa contra o sindicato caso a greve não fosse suspensa. Em São Paulo, a polícia de Dória invade uma plenária de mulheres do PSOL. A caravana da resistência tentou visitar as instalações da Companhia Hidrelétrica do São Francisco na cidade de Paulo Afonso na Bahia e foi barrada pela direção bolsonarista da companhia. A juíza Carolina Lebbos autoriza a transferência de Lula para São Paulo sem as prerrogativas de um ex-presidente da república, tratando Lula como preso comum. Porém essa tentativa foi barrada pelo STF, mostrando em mais um caso que um dado setor da burguesia começa a colocar freio no setor ligado a Bolsonaro/Trump/Bannon, sem, no entanto, divergir de sua linha econômica. Frente a essas ofensivas é necessário que o congresso do PT discuta a criação de uma secretaria de autodefesa dos militantes que estão sendo ameaçados em suas frentes de atuação e suas lutas, colocando como ponto prioritário a defesa do companheiro Lula e sua imediata libertação. A libertação imediata da maior liderança popular do país é uma condição necessária para a defesa do direito dos trabalhadores se organizarem.

Freixo e Janaína: uma conversa inusitada


Janaína Paschoal, uma das advogadas que redigiu o golpe contra Dilma, e Marcelo  Freixo, deputado pelo PSOL-RJ, tiveram uma constrangedora conversa na página Quebrando o Tabu. Na conversa, Janaína critica duramente Freixo e diz que se sentia perseguida pela esquerda durante os governos do PT.
Muita tinta já foi gasta na esquerda acerca do sentimento da classe média com relação ao ascensão de setores menos favorecidos, esse fenômeno pode ser conhecido como 'o aeroporto que virou rodoviária' , inclusive apresentando esse fenômeno como a razão  do golpe. Esta interpretação descolada das bases materiais acaba "passando pano" no imperialismo, em crise, que é a verdadeira causa desta escalada golpista, cujo primeiro episódio aconteceu em Honduras em 2009 - primeiro golpe na América Latina no século XXI.  Isto dito, só podemos lamentar que Freixo, cuja companheira de partido, Marielle, foi assassinada recentemente e que ele mesmo foi vítima de ameaças de atentados, na mesma semana em que uma plenária de mulheres de seu partido é invadida pela PM de Dória, fique calado diante de Janaína se queixando da "perseguição da esquerda". Com seu silencio, Freixo consente que a esquerda estaria sofrendo no país atualmente algo como provar do ''próprio veneno'', após afirmação de Janaína. Freixo ofende a luta da classe trabalhadora frente: a um governo ilegítimo, oriundo de uma fraude, que legitima a tortura; a um judiciário que prende a maior liderança popular do país, que ameaça colocá-lo em uma penitenciária sem os direitos legítimos de um ex-chefe de Estado e que prende lideranças sociais como Preta Ferreira. Freixo entende a força anti-petista do PSL, só não entende a força petista de Lula junto ao povo. A entrevista dessas duas figuras tão aparentemente antagônicas é um claro recado da burguesia, um recado de um debate político que alguns setores começam a considerar aceitável: Bolsonaro 'impeachmado'. A perseguição política restrita aos movimentos sociais e lideranças sindicais. Lula preso e esquecido, ou até morto. O PT desmoralizado e sem influência no cenário. A reforma da previdência aprovada e a agenda econômica garantida. O único debate restante é o debate moral que ambos, Freixo e Janaína, representam.

Gleise presidente do PT nacional e Wadih presidente no RJ 


Neste cenário, aumenta a pressão sobre o PT. Mas aumenta também a resistência. Determinadas candidaturas a presidência começam a ser agarradas pela militância como patrimônios de defesa do PT. É o caso de Gleise e de Wadih, que representam a luta por um PT que não deixa seus militantes para trás, que não abaixa a cabeça para os ditames ditatoriais e que não tem vergonha de sua história.  Um PT que defende a autodeterminação do povo venezuelano e que não abre mão da liberdade de Lula, em troca de ser mais palatável ao patronato.
Gleise e Wadih entendem que  tudo o que acontecer com o Lula será refletido no país. Tudo que a ditadura conseguir, ou não conseguir, fazer ao Lula terá reflexo coerente no sofrimento ou nas alegrias do povo. Desmoralizar e impedir a mobilização popular, separar Lula de seu povo, caluniando-o como membro de uma elite, é reflexo do que vai acontecer às lutas populares e ao povo.  O oposto também é verdadeiro. Se libertarmos Lula estaremos reafirmando o direito à auto organização popular e estaremos em melhores condições de resistirmos à reforma da previdência, que já esta em direção ao senado e cujo texto aprovado agradou muito aos especuladores.


O caso Louisa Hanoune


Em matéria de 4 de agosto, um jornal argelino informa que o caso de Louisa Hanoune será julgado nas próximas semanas. Louisa é dirigente do PT argelino e se tornou uma prisioneira política após um levante popular no país contra o regime vigente. Nos somamos incondicionalmente a todos e todas que  no  7° congresso do PT lutam para aprovar medidas de cooperação e solidariedade com o PT argelino com vistas à libertação imediata da companheira e dos demais presos políticos do regime cujo povo não tolera mais.

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