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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Após o G20 e a derrota da previdência na Câmara, o PT precisa discutir seu papel na resistência.

A reunião do G20 demarcou uma aparente trégua na guerra comercial. Porém nada indica um recuo na animosidade, uma vez que nenhum dos problemas foi solucionado, em especial a disputa na questão da Huawei em torno da indústria de alta tecnologia. Um novo acordo entre os países imperialistas quanto a divisão dos mercados não representa nenhum alívio para o conjunto dos trabalhadores. Um exemplo disso é o acordo UE/Mercosul fortemente rejeitado pelas centrais sindicais do Cone Sul e duramente criticado por Celso Amorim por causar desindustrialização. Outro exemplo foi a comemoração da colaboração militar europeia, da qual Trump é ferrenho opositor.  As crises internas nos países imperialistas, já reportadas aqui em Ciência & Revolução, obrigam os  estados nacionais centrais no jogo imperial a chamarem de volta o capital que migrou para a periferia do sistema nas décadas anteriores. Esse é o sentido do acordo UE/Mercosul. Na verdade, o G20 pode até ser usado como parâmetro para perceber o enfrentamento entre UE e EUA, pois Merkel e Macron criaram um mecanismo para contornar sanções dos EUA contra o Irã, embora pressionem contra o enriquecimento de urânio que viola o acordo de não proliferação de armas nucleares. São os intricados movimentos de uma guerra fria, na qual a classe operária só tem a perder.

Uma hipótese teórica: O capitalismo em seu atual estágio não consegue mais sobreviver com a superestrutura edificada nas últimas decadas

No fundo da questão da disputa de mercados está uma crise de superprodução, ligada a uma baixa geral da taxa de lucro que leva a uma destruição massiva de forças produtivas. As forças produtivas não só deixam de crescer como são destruídas, alguns dos exemplos mais dramáticos podem ser vistos em Minas Gerais. Mariana e Brumadinho foram destruídas pela ação da Vale do Rio Doce, que conta com a proteção do judiciário. As ações dos diversos países levam a uma enorme recessão em setores importantes da economia. Setores inteiros da indústria começam a enfrentar graves crises que afetam a economia dos países: menor PIB da China  em 27 anos e a própria baixa na atividade industrial nos EUA.  Setores inteiros, mesmo que parecendo saudáveis, passam por transformações brutais como o setor cafeeiro, uma importante comodite que está em franca expansão no mundo. Porém essa alta do café não se reflete no preço para o produtor na América Latina nem na redução do preço nas cafeterias urbanas.

Essa crise geral leva o imperialismo a precisar romper todos os marcos legais vigentes para poder recuperar sua taxa de lucro, ou trazê-la a padrões aceitaveis do ponto de vista dos capitalistas. Assim, todas as instituições e marcos regulatórios são postos em cheque.  Neste sentido, o chamado lawfare, que é o uso de recursos jurídicos para  perseguição politica, é a expressão mais completa da degeneração institucional que vivemos no mundo. No Brasil, o "lawfare" acontece principalmente via operação lava jato, que é responsável por grande parte do recuo da indústria brasileira. Uma ação juridica com o claro objetivo de desmontar o parque produtivo nacional e perseguir as lideranças politicas que se oporiam a esta destruição.

E perseguir lideranças políticas não é uma jaboticaba. Na Argélia, a situação se agrava desde a prisão de Louisa Hanoune e a resposta política do regime à efervescência popular tem sido mais e mais prisões políticas Os casos de Lula e Louisa Hanoune são exemplares. Mas a perseguição não atinge apenas as principais lideranças de oposição em seus países, é um instrumento de intimidação contra a todos os trabalhadores organizados e atinge agora a coordenação da campanha Lula livre com a prisão de Preta e Sidney Ferreira do MTSC. Enquanto isso o governo escolhido pela ONU para exercer sua pressão no sentido de defender os "direitos dos opositores" é justamente o governo de Maduro acusando-o, inclusive, de torturá-los.  A hipocrisia das instituições internacionais ignora o fato que a Venezuela está se defendendo de uma ofensiva golpista e, no Brasil, fecha os olhos para a farsa judicial e a volta da censura, que é usada abertamente contra os dissidentes, sem que nenhuma corte ou instituição se pronuncie. Nem o fato da equipe do Intercept ser ameaçada de prisão em pleno parlamento brasileiro desperta a indignação das instituições internacionais. Enquanto Lula permanece preso e os procuradores da "lava jato" não são incomodados, as instituições nacionais caminham para uma legitimação dos absurdos do Moro no padrão colocado por Dória .

A lição da reforma da previdência!

A reforma da previdênca passou na Câmara, apesar da resistência aguerrida dos parlamentares do PT. O que mostra que é o PT a força capaz de resistir as pressões do imperialismo e não as pretensas alternativas mais palatáveis ao gosto patronal. Aliás, nenhum movimento por fora das organizações tradicionais da classe trabalhadora obteve qualquer resultado positivo para os trabalhadores e as opções foram muitas pelo mundo - a mais recente foi o movimento dos coletes amarelos na França. O fetiche por esse tipo de movimento só ajudou o enfraquecimento da luta dos trabalhadores. Contudo ao dirigirem suas baterias para a luta no terreno das atuais instituições apodrecidas, as organizações tradicionais dos trabalhadores tem acumulado muitas derrotas desde o Impeachment de Dilma. O que já deveria ter sido aprendido é que não há saída institucional para a crise das instituições. A reforma da previdência, por exemplo, estava praticamente enterrada  após a greve do dia 14 de junho. Bolsonaro teve que comprar os parlamentares com 2,5 bilhões de reais em emendas e reverteu a situação, cumprindo o mandato que recebeu dos EUA. Existia uma crescente de mobilizações que foi detida pela ilusão nos acordos institucionais. A mesma ilusão de que o STF em algum momento liberte Lula, mesmo depois do audio do Jucá, "com o supremo com tudo". Não, o Supremo não está acorvardado, ele é parte do golpe, assim como o balcão de negócios que é o Congresso Nacional. Ilusões de vitória num ambiente como o Senado, que recebeu Moro como herói, são anuncios de novas derrotas. Ainda que a divisão da burguesia brasileira permita que setores da impresa divulguem a "vaza jato" isso não implica em mais nada, além da pressão de um setor patronal em relação ao governo que, na atual deterioração política, tem as condições de contorná-las, como faz agora apontando Bretas como possível sucessor de Moro. 

Campanha Lula Livre lança abaixo assinado. 

O novo dispositivo de mobilização da campanha Lula livre é um abaixo assinado  pela anulação dos processos. Certamente é uma resposta às agressões institucionais e a uma grande impaciência da base social do PT, que embora veja a farsa jurídica ser desmontada todo o dia, não consegue entender porque as instituições não reagem a prisão de Lula. A campanha Lula Livre não tem outra saída a não ser mobilização e organização. A CUT chamar uma agenda de mobilizações também indica que as direções sentem a pressão das bases.

 O Congresso do PT 

Glenn Grenwald vive dizendo que acredita no judiciário brasileiro. Não deveria. As últimas medidas deste poder mostram que ele mesmo corre grande risco de ser preso. Mas ele não é o único que precisa entender que não basta professar fé no "Estado Democrático de Direito" para que seus direitos sejam respeitados. Os militantes de base agredidos na última greve têm muito a contar. Assim como Dilma, Dirceu e Genoíno que mantiveram - em vão - a fé nas instituições, que se mostraram totalmente golpistas. Os militantes sentem o peso da perseguição nos seus sindicatos, escolas e na rua. Um verdadeiro movimento contra o direito a auto-organização popular está sendo edificado em toda linha. 
O próximo congresso do PT pode ser um momento de esclarecimento dessa situação, por isso nosso Blog apoia um movimento que se inicia nas bases petistas pela auto-defesa dos militantes e do partido. É cada vez mais necessária a criação de dispositivos que ajudem militantes perseguidos a se defenderem das instituições cada vez mais policialescas. Não entender que a auto-defesa do PT e de seus militantes é a linha política fundamental de resistência nos levará a novas derrotas. Contudo belas palavras e slogans não adiantam, o Congresso do PT precisa discutir medidas concretas.   



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