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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Especial de fim de ano - Entrevista com Lurobe, o militante da foto



A foto de costas de Lurobe, ou PT, como era conhecido no Estaleiro Verolme, estampou um artigo do Intercept assinado por João Filho em setembro, um pouco antes da soltura de Lula. 

A foto de um militante petista, de costas, simboliza a ideia que o texto quer passar: o PT e seus militantes estarem de costas para a tarefa de defesa do país.  O texto reedita o argumento milhões de vezes usado e, talvez por isso mesmo,  já desgastado, de que a “culpa é do petê“. 

Lurobe é mais um dos milhares de petistas militantes que se abraçam com a bandeira do partido e que defendem seus candidatos e lideranças vítimas de injustiças.  Para o que se extrai do artigo, a foto de Lurobe não é uma simples coincidência, porque coloca o dedo na ferida: a militância do PT incomoda. E incomoda porque não desistiu de Lula e não abre mão de fazer campanha para o PT.

No bolso de sua calça, o panfleto de Marcia Tiburi, candidata do PT ao governo do Rio de Janeiro -  que foi atacada por todos os lados por defender Lula - é mais do que emblemático. Só quem fez a campanha da Marcia sabe as dificuldades encontradas. Lurobe fez e tirou dinheiro de seu próprio bolso para o transporte até as atividades do Partido e outras despesas que só quem foi solidário às caravanas e a vigília Lula Livre entende. 

Lurobe é daqueles militantes que sempre defenderam candidaturas próprias do PT e nunca viraram as costas para as lideranças do PT e seus companheiros e companheiras de Partido vítimas da agressão pelas instituições do Estado ou pela direita. A imagem de um militante anônimo como Lurobe, nesta matéria especificamente, diz muito. Mas Lurobe, ele próprio, diz muito mais.  Não só por suas palavras, mas por seu exemplo. Ele não é parte apenas de uma quantidade grande de militantes que vão pedir voto para o PT, é também parte da qualidade que estes militantes têm para agir na política.

O blog Ciência & Revolução tem se dedicado à analise dos problemas teóricos e políticos que enfrentamos em nossa militância, e não podemos deixar de constatar que escritórios confortáveis e climatizados não têm produzido soluções suficientes para a crise por que passa a humanidade, causada pelo capitalismo.  No nosso entender, então, uma ciência revolucionária precisa ser convocada pela voz daqueles e daquelas que precisam da revolução.  Lurobe, em particular, convocou os primeiros passos de um caminho que levou a este blog. Nada mais justo que dar a palavra ao militante que o Intercept deu a entender que era massa de manobra, revelando, assim todos os preconceitos que configuram a existência de um "antipetismo".

Assim como Lurobe, há milhares de militantes que andam por seus bairros sendo chamados de PT ou montando banquinhas, sem receber nada em troca a não ser a satisfação de estar do lado certo da História, lutando por si e seus iguais. Nossa posição inegociável é que suas vozes sejam ouvidas. 

Nesta última publicação de 2019, sustentamos o convite para que em 2020 mais petistas que militam e vivem nas áreas pobres deste pais se utilizem dos meios de comunicação criados por nós para darem seu recado. 

O novo ano começa num momento em que a Internet é usada como uma arma contra a representatividade na política. O controle dos meios científicos para conhecer a inclinação dos desejos e estados de espírito, numa sociedade de consumidores, chegou ao ponto da consolidação de eleições como uma venda bem sucedida de produtos venenosos. Sabendo o que as pessoas querem, o Imperialismo também produziu gênios de inversão de narrativa, como Steve Bannon. Bannon, analisando bancos de dados do facebook, descobriu -entre outras coisas- que impostos irritam trabalhadores horistas, que chegam a pagar em alguns casos mais de 50% de suas horas de trabalho. Somente comunistas poderiam explicar as contas que mostram quantas horas ele trabalha para o patrão, e quantas daquelas horas utilizadas socialmente se voltam em seu beneficio, não só individual, mas como membro de uma comunidade.

Na certeza que uma imprensa comunista, em papel, consolida laços reais entre pessoas que sofrem as dores de um sistema injusto, nosso blog começa a década que se abre apoiando a campanha para o relançamento em papel do boletim Voz Operaria, que fez 70 anos em 2019. Esta e outras iniciativas em defesa da liberdade de imprensa, para aqueles que só possuem suas horas para vender, contam com toda nossa solidariedade. 

A voz operaria sai de corpos que têm a pele escura e uma voz operária comunista sai de corpos que possuem mãos que nao se largaram quando a regra era atacar.

Lurobe não largou a mão de Dilma nem de Lula. Foi, inclusive, um dos poucos homens num movimento majoritariamente feminino. Nesta nossa publicação especial de fim de ano, ele é nossa estrela. 

1) Como você se filiou ao PT?

Lurobe - Me filiei ao PT no final de 1989, devido à boa campanha do PT/LULA presidente naquele ano. Foi um marco na história da nossa militância.

2) Qual era o sentimento dominante no momento em que você se filiou?

Lurobe - O sentimento naquele momento era como é até os dias de hoje, de mudança pela democracia que ajudassem o movimento operário a conquistar os seus direitos. Ali os brasileiros tinham acabado de sair de mais de 20 anos de ditadura militar e estávamos em processos de transição.

2) Muita gente de fora do PT exige que o PT faça autocrítica de seus erros. Você vê diferença entre fazer autocrítica e balanço?

Lurobe - Gente de fora do PT tem que exigir que o PSDB faça autocrítica da sua política nefasta de 1995 a 2002, na qual levou o Brasil à quebradeira com as privatizações e o maior escândalo de todos os tempos no Brasil: o escândalo Banestado, com mais US$ 125 bilhões queimados  em defesa dos especuladores. Com relação ao nosso PT, sou sempre a favor de um bom balanço, faz bem à democracia e aos militantes.

3) Quais os principais erros que você viu no PT? Como o PT poderia corrigí-los?

Lurobe - Só se aprende tentando e errando, então são muitos erros, mas, nem de longe superou suas virtudes e acertos. 
Primeiro grande erro: as perseguições aos seus militantes. Já nos anos 80, no governo da Erundina na prefeitura de São Paulo, onde companheiros foram demitidos por divergências políticas com a corrente majoritária.
Segundo grande erro: A troca dos encontros e congresso pelo P.E.D.
Terceiro grande erro: A não chapa pura do PT na eleição presidencial em 2002.                                      
Quarto grande erro:  O silêncio frente aos ataques sofridos pelos militantes acusados na AP 470 (mensalão).
Quinto grande erro: A política de alianças sem critérios e sem consulta ás bases.       
Como corrigir e o quê fazer? Formação política pra toda base do partido e imediatamente a recriação  dos núcleos a nível nacional, e mais respeito do aparelho do PT com os militantes que querem ajudar a construir o partido.

4) O golpe pegou você de surpresa? O que mais te surpreendeu no golpe em Dilma?

Lurobe - Naquele momento eu não tinha certeza de nada (nem eu e nem muitos, por mais lúcidos que fossem). De uma coisa eu tinha certeza, existia muita confusão e pressão naquele momento. O PMDB e os demais partidos fizeram a direção do aparelho do PT escolher o Levy para  ministro da economia na base da chantagem. E daí prá frente só foi chantagem e os ovos da serpente começaram a eclodir e o golpe começou tomar forma. O que me surpreendeu no golpe foi a paralisia da direção do aparelho do PT de não defender a presidência do Partido e assim entregando à nossa presidenta Dilma Rousseff aos leões.

5) O que você fez politicamente depois do golpe? Você acha que a Frente Brasil Popular errou?

Lurobe - Depois do golpe! O depois não existe no meu ponto de análise. O golpe está em andamento, apesar da libertação recente do Lula, sob pressão das grandes manifestações nos países vizinhos, em especial no Chile.
Durante o golpe, já em 2016/2017, criamos o Comitê Volta Dilma (CVD/RJ) e que foi um  dos processos políticos mais acertados.  Por intermédio do CVD/RJ e seus militantes foi possível trazer e integrar o pessoal do Voz Operária (VO-RJ), e daí ajudar a construir alguns núcleos e participar de algumas atividades políticas do Partido, por exemplo o PED.
A Frente Brasil Popular, entre erros e acertos, mais erros do que acertos, não  conseguiu construir uma resistência de verdade, porque haviam forças dentro da FBP contra a defesa do PT. E isso existe até hoje.

6) Na sua opinião porque Lula foi preso? O PT poderia ter evitado essa prisão?

Lurobe - O Lula foi preso por um simples detalhe, "o detalhe mais importante de todos". Na hora "H" ele escolheu não vender a sua alma juntamente com a do movimento operário e por isso esteve preso. Lula nunca foi um revolucionário, mas é de origem operária e é o maior líder de todos os tempos do movimento operário e é isso que a burguesia não engole.  O PT, pra ter evitado o golpe e a prisão do Lula,  teria que ter  mobilizado toda a sua militância já no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, e isso não foi  feito. Conseqüentemente veio a derrubada da presidenta Dilma do poder, por falta exclusivamente de organização das massas.

7) Além do Lula, outras lideranças populares foram presas no Brasil e no mundo, como Louisa Hanoune. No seu ambiente de militância existem muitas pessoas sofrendo perseguição política. Na sua experiência militante você já sofreu perseguição?

Lurobe - O principal perseguido político é o Lula, que ainda não foi inocentado e isto é para atingir o PT e impedir seu governo, como na Argélia. Além do Lula, existe outros como: José Dirceu, Dilma, Delúbio Soares, Preta Ferreira, Marcia Tiburi, Vaccari e até o Lindbergh está sendo ameaçado. Tenho camaradas muito próximos que sofreram perseguição política  e o Anderson chegou a ser assassinado. Eu mesmo já sofri perseguição e quase fui assassinado. A lista de perseguidos políticos atualmente é enorme, fica difícil enumerar os principais casos. E a maioria absoluta é do movimento operário que luta e reivindica os seus direitos.

8) Quais foram as piores coisas que você viu seus companheiros passarem?

Lurobe - Foi a perda dos seus empregos no governo FHC e agora no governo nazifascista do Bolsonaro. Não existe coisa tão ruim como os trabalhadores perderam os empregos, que é a  sustentação básica de suas famílias. A principal perseguição ao trabalhador é a ameaça de perder o emprego.

9) O que você acha que o PT deve fazer para defender seus militantes?

Lurobe - Primeiramente reconstruir os núcleos, para que esses sejam verdadeiros espaços de autodefesa dos militantes, espaços onde uma verdadeira política de autodefesa do PT possa se desenvolver.

10)  Você acha que o Intercept tem razão quando diz que o antipetismo é a maior força política do país?

Lurobe - O antipetismo é totalmente artificial é um envenenamento causado pela grande mídia, que não pára de bater no PT e nas organizações dos trabalhadores, mas também é,  ao mesmo tempo, resultado do silêncio dessas organizações que não se defendem. O lulismo-petismo é a maior forca política deste pais. E, com Lula do lado de fora, estamos saindo de 2019 melhor do que entramos. 

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