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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Louisa Hanoune libertada, um grande reforço na luta contra a perseguição


Louisa, no momento de sua libertação


O blog Ciência & Revolução acompanhou desde primeira hora a prisão de Louisa Hanoune, secretária geral do PT argelino. Foi com enorme dor e aflição que vimos sua caminhada solitária rumo ao Tribunal de Blida, onde uma armadilha a aguardava e as instituições do regime iriam encarcerá-la. Estas imagens nos levam a um sem número de perguntas que um dia esperamos poder entender. 
 Louisa Hanoune em direção ao tribunal de Blida, onde uma armadilha a aguardava
Somos militantes do Partido dos Trabalhadores brasileiro e nossa felicidade ao saber de sua libertação se compara à que tivemos com a libertação de Lula poucos meses antes.  Assim como a liberdade de Lula, a de Louisa, também é resultado de campanhas de solidariedade internacional, reforçando nossa confiança de que temos as condições para resistir às injustiças. 
Embora livres, pesam sobre Lula e Louisa a condenação injusta das instituições de ambos países, que ainda realizaram eleições presidenciais sem legitimidade, pois os principais líderes dos principais partidos de oposição estavam impedidos de falar ao povo, sendo mantidos reféns e amordaçados. A simultaneidade da prisão dos principais líderes de dois Partidos dos Trabalhadores apenas reforçam a nossa convicção que ambos os planos partiram do mesmo lugar e que, no caso da Argelia, a queda de Bouteflika se encadeia, também, num aumento da influência dos EUA sobre aquele país.

Da assimilação à repressão: mudança no tratamento dado ao povo

Por muitos anos o Imperialismo conviveu com as organizações da classe trabalhadora e pôde assimilar seus representantes em seus Foruns Econômicos e Sociais. Esta assimilação foi recebida como a humanização possível de um capitalismo vitorioso economicamente. Inclusão e participação nos espaços de poder passou a ser apresentada como a única solução possível para defender a maioria oprimida mundialmente. 
Mas o resultado desta assimilação não caminhou no sentido da ampliação da democracia, ao contrário. Durante este mesmo período as burguesias imperialistas da Europa e dos EUA deslocalizaram sua industria para a periferia do sistema, rebaixando mundialmente o custo do trabalho. Compensar o ajuste econômico draconeano não chegou nem a defender a classe operária dos países centrais e ainda docilizou a resistência mundial.  
A partir de 2008, no entanto, a farsa da supremacia econômica do sistema capitalista é mais difícil de ser sustentada pelos fatos. A profunda crise econômica nos EUA tem levado este país a disputar agressivamente os mercados, inclusive os dominados por outras burguesias imperialistas, como a Argelia, tradicionalmente dominada pela burguesia imperialista  francesa, que Luisa sempre combateu. As garras do Império estadunidense se fincando sobre a Argélia podem ser vistas inclusive nas disputas sobre o idioma
O aprofundamento da violência como meio de garantir uma dominação mais direta pela principal burguesia do mundo pegou os líderes do movimento operário e popular de surpresa.  Este foi o caso do PT brasileiro, que ignorou os sinais que os EUA preparava um novo Golpe de Estado em nosso país. Acostumados a serem participantes do jogo institucional, os dirigentes da classe operária brasileira ainda se dirigem às instituições para defender a 'democracia', mas os fatos mostram que são elas mesmas que se voltam contra os direitos fundamentais. Isto fica claro no caso do aparato jurídico do Estado no Brasil e Argélia terem sido usados para condenar quem ocupa uma posição importante na resistência popular aos planos do Império. E não são os únicos, a guerra jurídica, planejada desde o "deep state" dos EUA, tem até nome, o "Lawfare". 
Neste novo cenário, Luisa e Lula não são os unicos condenados. Jorge Glass, vice presidente do Equador também foi colocado na prisão por ser um obstáculo a rapina imperialista. Mas ao contrário dos dois primeiros, a bandeira de sua libertação ainda não possui uma consistente campanha internacional. 
Na Bolívia, que também sofreu um golpe, os povos originários são perseguidos e Evo foi obrigado a deixar o país para evitar sua prisão.  Em todos os lugares a opressão contra os povos escala de intensidade e se concentra na perseguição política às organizações e militantes que resistem a ela, como por exemplo, no Chile, onde a lei de segurança nacional da época do Pinochet é usada contra organizações estudantís.

A escalada das perseguições políticas é uma parte importante do ataque à auto-determinação dos povos. Este fenômeno é mundial, e além de levar à prisão lideranças nacionais também alcança os jornalistas que expõem as taticas sujas do Império, como Assange, Max Blumenthal ou mesmo  Glenn Greenwald, ameaçado de processo por publicar conversas que comprovavam que o ex-juiz e atual ministro da justiça Sergio Moro prendeu Lula sem provas. 

A bandeira dos povos Andinos conhecida como Wiphala, após o golpe contra Evo Morales passou a ser perseguida na Bolivia. Setores reacionários queimaram a bandeira em praça pública.  

Bandeira Amazigh- Simbolo dos povos de lingua Bérbere na região do Magreb, que a exemplo da bandeira Wiphala na Bolívia está  sofrendo perseguição na Argélia. O imperialismo nega o direito à autodeterminação dos povos e parte desta negativa é apagar sua identidade cultural. 

A luta do movimento operário contra a perseguição politica 

Na Revista A Verdade - Revista Teórica da IV Internacional- edição 49/50 publicada em português em agosto de 2006, página 28, pode se ler um artigo sobre a questão da Frente Popular na Espanha, onde esta escrito "Esse programa incluía, no entanto, uma exigência que permitiu uma autêntica mobilização popular: a anistia total dos insurgentes de 1934 e a reintegração, com indenização, de todos os trabalhadores privados de seu trabalho. A Anistia para os 30 mil operários que continuavam encarcerados..... Calcula-se em cerca de um milhão e meio o número de votos que normalmente eram abstenção, em virtude das campanhas anarquistas, mas que, em 1936 se somaram às listas da Frente Popular afim de obter a libertação dos presos politicos de 1934 ". 
Sim, a luta contra a perseguição politica é uma velha tradição do movimento operário. 
O próprio PT argelino liderou a constituição de um comitê no Magreb pelas liberdades democráticas. O manifesto de fundação deste comitê afirma:
"Uma repressão maciça e feroz, chegando até a barbarie que constitui a tortura, é erigida em sistema politico. Homens e mulheres são detidos, jogados na prisão e torturados por suas convicções politicas, sindicais, filosoficas ou religiosas " e pontuava:  "A única saída é a democracia, ou seja, o livre exercício sem nenhuma restrição, de todas as liberdades individuais e coletivas de todos os direitos democráticos:
*liberdade de consciência de, de expressão, de imprensa, vale dizer o direito de pensar, de escrever, de crer, de colocar em pratica suas convicções. Nos recusamos a aceitar toda a repressão a idéias
*Justiça independente e garantia de direito de defesa
*direitos e liberdades, sem restrições, de reunião, manifestação, greve, associação e orgnização em particular o direito de constituir partidos e sindicatos independentes"  (Ver Revista A Verdade- Revista Teórica da IV Internacional, numero 5, março de 1993 - edição em língua portuguesa)
Este comitê organizou em 13 de novembro de 1992 uma manifestação em Paris pela libertação de presos Tunisianos e também lançou uma campanha contra o embargo ao Iraque.
Então a luta contra a perseguição política sempre foi uma bandeira importante para o conjunto dos trabalhadores, e mesmo o ACIT - Acordo Internacional dos Trabalhadores e Povos, do qual Louisa faz parte, por muitas vezes fez campanhas em defesa de perseguidos, como a campanha pela vida e liberdade de Mumia Abu Jamal; pela apuração do assassinato do sindicalista brasileiro Anderson Luís (militante negro assassinado em 2006 que dá nome ao nosso círculo);  em defesa dos estudantes da ocupação da reitoria da UNAM no México; pela libertação do sindicalista romeno Miron Cozma e muitas outras. 

Unidade Internacional em defesa dos prisioneiros e perseguidos políticos pelo Imperialismo

As primeiras declarações de Louisa após sua libertação, demonstrando sua disposição de continuar a luta em defesa de todos os prisioneiros políticos argelinos, encontra em nosso círculo o mais veemente apoio.
Sim, Louisa! É preciso defender os perseguidos da Argélia. E defender também os perseguidos pelo Imperialismo no Brasil e em todo mundo. É a unidade internacional dos trabalhadores e povos em campanhas concretas contra as perseguições políticas o melhor caminho para forjar relações de solidariedade não só entre as organizações políticas e populares, mas também entre militantes que sofrem perseguição no seu dia-a-dia. 


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