O Círculo de Estudos Revolucionários
Anderson Luís foi constituído por um grupo de ex-militantes da IV
Internacional (reproclamada em 93) após a prisão de Lula em abril de 2018. O objetivo era termos um
espaço seguro de autodefesa que a estrutura organizativa IV
Internacional, agora dividida em duas, já não podia nos oferecer. No momento
em que o círculo foi constituído, constatávamos: as sucessivas posições propagandistas na Europa; O abandono de campanhas internacionais - por
exemplo, em relação ao Golpe no Brasil; A posição do Jornal O Trabalho de não combate contra a prisão de Lula, substituída por uma nota tranquilizadora,
dizendo que haviam muitos meios institucionais para que Lula fosse
candidato, ainda que preso; A desistência na defesa do camarada Rodrigo,
expulso injustamente do doutorado, e a posterior acusação de calúnia que
levaram à sua exclusão do quadro organizativo da IV Internacional; E,
também, a impotência da crítica a OT por sua dissidência para
tratar destes problemas. Nossa resposta concreta aos problemas que buscávamos resposta foi a
nossa constituição em círculo de estudos sobre eles e
discussão de medidas práticas em defesa de Rodrigo. Desde a primeira
reunião buscamos colocar em prática aquilo que aprendemos na IV
internacional, sem, no entanto, pretender substituí-la.
Avaliamos
em alguns documentos (Portões de São Bernardo, Ninguém Fica para Trás
(manifesto), Nota Contra a Guerra) a degeneração das organizações que se
reivindicam da revolução socialista no Brasil e verificamos a
inviabilidade de estarmos centralizados em qualquer uma delas, pois
todas falharam na questão central da prisão de Lula. Inclusive o PCO,
com quem tivemos larga colaboração entre a queda de Dilma e a prisão de
Lula, por este formular a Anulação do Imeachment e a constituição de comitês
contra a prisão de Lula. O PCO foi a única organização no Brasil que
chegou a formular “não deixar prender Lula”, porém percebemos o charlatanismo deste partido, por formular o que não podia entregar, como ficou constatado quando o próprio Rui Pimenta reconheceu, na semana que se seguiu a prisão de
Lula, que quem podia impedir sua prisão era unicamente a militância do
PT.
Neste quadro político confuso, há um
ano atrás nos demos a tarefa de realizar a campanha financeira de
arrecadação para os honorários do advogado do camarada Rodrigo e as custas do processo contra sua exclusão.
Para isso, iniciamos o projeto de lançar uma revista que, em função dos
problemas teóricos que constatávamos na incompreensão insuficiente do
significado da defesa de Rodrigo, demos o nome de “Ciência & Revolução”. Defender Rodrigo, cientista e militante revolucionário, nos remete diretamente para a relação entre o "saber" e o "fazer" humanos. Sua edição de lançamento acaba de ficar pronta e está disponível para a aquisição mediante uma constribuição financeira para continuarmos existindo politicamente. Para apoiar a Revista e sistematizar publicamente o resultado das discussões feitas
no círculo, criamos o blog "Ciência e Revolução", que passou a ser nosso
organizador coletivo, na linha política de autodefesa dos militantes.
Tanto o Blog quanto a Revista ainda engatinham na busca de se tornarem
espaços de diálogo mais amplos que nós, apoiados na tradição que
reivindicamos, de livre debate.
Um ano após
sua criação podemos fazer um balanço da principal iniciativa do
círculo: Conseguimos pagar os custos do processo do camarada Rodrigo e tivemos uma
vitória em segunda instância na justiça, que ainda está em suspenso
frente ao recurso da UFF. Há uma outra iniciativa, essa na esfera
administrativa da própria UFF, para que Rodrigo, a partir de sua vitória
em segunda instância na justiça, possa defender o seu doutorado. A campanha Rodrigo tem sido o fio de
um novelo que nos permite ver a defesa de militantes que sofrem
perseguição como uma ação para a qual é necessário um quadro coletivo
que, ao aprofundar a discussão sobre uma perseguição particular, ajude a
compreender os elementos de decomposição do capitalismo que se
manifestam na vida real daqueles que precisam da revolução. A recente
entrevista com Rodrigo publicada no blog é exemplo disso e os primeiros
resultados de sua divulgação indicam que tocamos num ponto chave na vida
de muitos jovens pobres e negros que tiveram acesso ao ensino superior
durante os governos do PT, mas não as condições de permanência
garantidas. Um jovem negro de São João de Meriti, que não milita próximo
a nós nem ao PT, agradeceu o envio da entrevista relatando que ela o
inspirou a entrar na justiça para reverter sua exclusão do FIES que,
assim como a de Rodrigo, não havia atendido nenhum critério legítimo que
a justificasse. Também relatou sua angústia pessoal consigo mesmo por,
desde sua exclusão, não ter sido capaz de lidar com o assunto e voltar a
estudar. Ao contrário de Rodrigo, militante revolucionário, que pode
entender sua exclusão politicamente e nunca recuou de sua autodefesa,
este jovem acabou, durante anos, internalizando a exclusão como um
problema individual. Ele termina dizendo que também irá realizar novos
processos seletivos para continuar lutando pelo direito de estudar. Esta
resposta reforça nossa confiança no método que aprendemos com Lambert
quando este veio conversar com os jovens negros do Rio de Janeiro. Esta
experiência realizada em 1998 e os significados que extraímos dela são
fundamentos de nossa existência e o próprio nome do Círculo, Anderson
Luís, é herdeiro direto dela.
A campanha de
defesa do companheiro Rodrigo não tem sido nossa única atividade. A
atuação no Comitê Volta Dilma e nos comitês Lula Livre também têm se
constituído parte de nossa atividade. É com os problemas colocados pelas
frentes de intervenção concretas que os textos contidos no blog tentam
dialogar, utilizando para isso, como ponto de partida teórico, as duas
premissas (objetiva e subjetiva) do Programa de Transição, procurando
aprofundar o seu significado nos dias atuais. São estes problemas, entre
eles a confusão na militância, que nos levaram recentemente a iniciar
uma elaboração sobre as dificuldades de compreensão do que é a crise de
direção do proletariado por parte das variantes que se dizem
trotskistas, mas são herdeiras da revisão aplicada ao programa por Pablo/Mandel, como se pode ver no texto sobre a burocracia no movimento
operário, cujos elementos também se desdobram no texto contra o
“forismo”. São os problemas concretos que enfrentamos que nos levam
hoje a traçar o objetivo de nos dedicarmos a elaborações que ampliem a
compreensão econômica do marxismo comparando-a com a teoria econômica
“keynesiana” e sua insuficiência para responder os problemas concretos
enfrentados pela luta de classes. As duas premissas do Programa de
Transição revelam, a partir do método aplicado da análise dos fatos
concretos, possuírem, entre si, uma unidade dialética. Um ano depois de
formado, o Círculo está chamado a intervir, de acordo com seu lugar e
tamanho, na encruzilhada em que se encontram os “comitês Lula Livre”.
Diante do processo interno de eleições no PT(PED) convocado para o fim
deste ano, constatamos as imensas pressões externas para o abandono de
Lula, que encontra porta vozes inclusive dentro do PT. São pressões que
avançam no caminho de um “racha” do PT. Nosso combate em defesa das
organizações que a classe construiu se expressa na luta por uma
verdadeira campanha Lula Livre, que seja um ponto de apoio para colocar
abaixo as instituições da repressão e restabelecer o direito do PT
governar, como caminho para atender as demandas populares.
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