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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

500 dias da prisão política de Lula: Volta, PT!

Um país em chamas

O Brasil entrou em uma espiral de destruição após a prisão politica de Lula, que foi o segundo ato de um golpe que teve início com a deposição de Dilma. O número de desempregados é assustador  e a renda média dos brasileiros simplesmente desabou.  Novos empregos criados, são criados sobre um regime trabalhista inferior ao regime antigo, por isso a renda média do brasileiro cai, é um ataque do imperialismo contra o preço da mão de obra.

Queimadas na Amazônia

A questão agrária no Brasil é um velho problema estrutural, que está relacionado com a posição do país no jogo da economia mundial. País semi-colonial, área de influência da burguesia dos EUA. Os incêndios na Amazônia elevaram a discussão a outro nível, tornando o tema uma das pautas do G7 em tempos de guerra econômica e recessão. Bolsonaro é culpado! Suas digitais estão nessa tragédia desde a campanha eleitoral, quando agredia os quilombolas e índios, denúncias de massacre contra tribos tornam se diárias. Os incêndios na Amazônia coincidem com a baixa nas multas por crime ambiental, que são incentivados desde cima, como se viu no "dia do fogo". A farra no campo atenta contra os interesses da maioria da população camponesa, que sofre com a violência. A consequência é que o número de queimadas mais que dobrou este ano, segundo o INPE. O dia virou noite em São Paulo como resultado da fumaça das queimadas, que chegou até a Argentina, sendo um  símbolo da ditadura em curso no Brasil.

Uma oportunidade para as burguesias imperialistas pautarem as mobilizações no Brasil. 

Não é novo o discurso pseudo-ambiental intervencionista de que a "Amazônia é um bem comum". A irresponsabilidade dos que usurpam o governo só reforçou internacionalmente seus argumentos.  Manifestações de rua e nas redes sociais pela proteção da Amazônia foram aproveitadas por Macron e outros líderes mundiais que questionam a soberania brasileira sobre nosso território. Mas não são tempos de paz e nem estas declarações podem ser encaradas como 'bem intecionadas'.
O contexto de fundo é bem mais complexo. As burguesias imperialistas estão divididas: de um lado Emmanuel Macron presidente Frances defende a ruptura do acordo UE-Mercosul, deputados alemães também se posicionam, de outro lado Trump apoia Bolsonaro, mas pode ser a favor também da ruptura do acordo UE-Mercosul para prejudicar seus concorrentes europeus. Esses dois campos das burguesias imperialistas, em profunda crise econômica, disputam o direito de exporar o mercado brasileiro, tentando manipular as mobilizações de rua, uma contra a outra no Brasil. Claro que o lado "Europeu", parece, aos olhos de certos setores da esquerda, mais atraente do que o lado Bolsonaro/Trump, mas este não é o único conflito entre estas duas frações da burguesia internacional, como mostramos aqui e ainda existe um terceiro lado, associado ao poderio econômico da China. Nenhuma dessas posições interessa à soberania brasileira e nem à classe operária mundial, pois qualquer um dos lados imporá ainda mais sofrimentos ao povo. É preciso lembrar que Celso Amorim classificou o acordo UE- Mercosul como indutor de desindustrialização na América do Sul.

A atualidade da posição de Leon Trotsky

No mesmo dia em que Lula completou 500 dias preso, o assassinato do líder revolucionário Leon Trotsky, fundador da IV Internacional, completou 79 anos. Trotsky, em 23 de setembro de 1938, concedeu uma entrevista a Mateo Fossa onde falou da situação do Brasil na época, um trecho, em particular, parece bastante atual:
"Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de que lado do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil "fascista" contra a Inglaterra "democrática". Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas.(5) A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não Ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!".
Sua atualidade consiste no fato de que vivemos na época imperialista e nenhuma das frações da burguesia imperialista internacional está interessada a em resolver os problemas históricos do Brasil. Nem os problemas do próprio povo francês. Um projeto que endurece a lei migratória acentua a responsabilidade que os sucessivos governos franceses têm  na crise migratória a partir de sua política externa para o Oriente Médio e norte da África. Portanto, não é o caso de uma frente única com setores do imperialismo, ao contrário, a saída política é a classe trabalhadora reafirmar sua independência e se apropriar de suas organizações históricas em sua auto-defesa.

#VoltaPT 

Todo o atual processo golpista no Brasil tem sido marcado pela tentativa de, com o apoio da mídia (o famoso PIG), manipular a opinião pública contra o Partido dos Trabalhadores. Se conseguiram, por um certo período fazer colar em Lula e no PT a pecha de "inimigos públicos", a realidade fala mais alto. Nas eleições de 2018, fraudadas, o apoio popular ao candidato do PT ficou evidente. Os setores ainda confusos, cada dia mais comparam sua vida nos dias de hoje com a que tinham durante os governos do PT. Desde a "vazajato", então, quando um setor do PIG (FSP) se associa diretamente ao Intercept na exposição das ilegalidades da ação de Moro contra Lula, os defensores do "anti-petismo" não conseguem sustentar mais seus argumentos. Foi o que se viu em mais um dos episódios envolvendo Bolsonaro no Twitter. Em resposta a sua bravata: "ou me apoiam ou volta o PT", as redes, espontaneamente, explodiram a hashtag #voltaPT. Esta ação em nada teve o dedo do Partido dos Trabalhadores, que em seu período de eleições internas e congressos, ainda não tem uma posição definida sobre como acabar com a desgraça que usurpa o governo brasileiro atualmente. A militância simpática ao PT nas redes sociais respondeu por ela mesma aquilo que o Partido dos Trabalhadores ainda não fala: que a farsa golpista precisa acabar e o PT voltar a governar. Na contra-mão do que é o mais lógico e intuitivo, setores que apoiaram o golpe chamam uma unidade nacional contra Bolsonaro, o "mal maior", desde que o PT não defenda Lula nem seu direito a governar. A recusa de Haddad em participar desta farsa levou a uma ofensiva dos setores de "centro", inclusive do Intercept, não só contra o PT, mas também contra a militância das redes sociais que insiste em defender o PT. O que a militância percebe, antes mesmo de seus dirigentes, é que qualquer frente anti-fascista precisa se colocar de acordo sobre o problema da libertação dos prisioneiros políticos. Se o Estado fascista prende, os anti-fascistas devem lutar por sua libertação. Uma frente contra Bolsonaro em nome da luta anti-facista que não se posicione pela liberdade de Lula é uma frente conivente com o fascismo institucionalizado e, portanto, uma fraude para enganar e perpetuar os abusos do Estado contra o povo. Ao contrário do que dizem os intelectualoides de centro-esquerda, #LulaLivre e #VoltaPT unificam a base social que precisa por um fim a desgraça bolsonarista.

As pressões sobre o Congresso do PT

Em recente artigo na Folha, o sociólogo Mathias de Allencastro diz "a polarização entre esquerda e direita serve apenas para pavimentar o caminho da extrema direita" e completa "Já se passaram quase dez anos da crise de 2008, que ditou o colapso da social-democracia. Desse período, três lições podem ser tiradas: primeiro, a tentativa de relançar a polarização entre esquerda e direita serve apenas para pavimentar o caminho da extrema direita".
Aqui mesmo neste blog já foram publicados dois artigos nos quais a situação Europeia foi analisada. Uma destas publicações foca na situação da UE e a outra compara o PT com os partidos sociais democratas europeus. A análise que sustentamos é que não foi o radicalismo que enfraqueceu esses partidos, mas o oposto, a sua capitulação frente os os planos econômicos da Troika da UE, que atacavam a classe trabalhadora europeia. Assim, a falácia da argumentação de Mathias Allencastro se assemelha a uma falsificação histórica, pois os partidos sociais democratas nao fazem o discurso anti-Troika, que foi capitalizado pela extrema direita, resultando em uma versão racista e xenofóbica da luta contra UE.  Mas ele não para por aí, as intenções do texto ficam mais claras quando Allencastro aconselha o PT a não mobilizar suas bases. Em tempos congressuais do PT o recado ao Congresso do PT é claro: No Brasil do Golpe, só caberia o PT como uma legenda destituída de conteúdo militante. E isto resume todo o desafio que a militância enfrenta no processo de eleições internas do PT.
A posição de Gleisi, presidenta do PT, indo a posse de Maduro em defesa do princípio de auto-determinação dos povos não pode ser tolerada pelos golpistas que apoiam a farsa Guaidó. O governo dos EUA está disposto a ir mais longe no ataque a soberania do povo venezuelano, mas para isso precisa do apoio dos brasileiros e a posição do PT, partido com a maior base social do Brasil, é definitivamente um obstáculo para sua política de golpes e guerras. Este fato, por si só, já é suficiente para que a militância do PT defenda a recondução de Gleisi. Mas na confusão política que se estabeleceu nas eleições internas do PT, muitos dos militantes que votaram na chapa de Gleisi, vão acabar elegendo delegados ao Congresso Nacional do PT que sabotam sua reeleição e que se alinham politicamente com aqueles que, de fora do PT, querem afastar a militância do partido, minando as possibilidades de auto-organização daqueles e daquelas que não se deixam domesticar e lutam para o  partido não abandonar suas lideranças e militantes atacados e perseguidos pelo Golpe.

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