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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

A Autocritica do PT: A defesa do Partido é a defesa dos seus militantes


O PT inicia o seu processo congressual, onde inevitavelmente se faz um balanço
da atuação partidária. Neste momento, voltam à tona as tais cobranças por autocrítica. Por um lado, os porta vozes da burguesia, tanto nacional quanto internacional, cobram que o PT penitencie a si próprio por posições como a presença de Gleise na posse de Maduro, abaixe a cabeça para a perseguição institucional iniciada com a ação penal 470, ou assuma a responsabilidade pela crise econômica gerada pelo golpe de 2016. Por outro lado, setores ditos de esquerda se somam ao coro da autocrítica, por motivos não tão opostos. Estes setores são entusiastas de movimentos tipo PODEMOS, um partido no Estado espanhol que reivindica representar a sociedade civil como mostra seu manifesto de fundação. "
Uma ferramenta a serviço da cidadania, que tem o objetivo do protagonismo popular e de recuperar o deficit democrático que estamos vivendo. E assim o temos demonstrado, criando uma estrutura aberta, viva e cambiante, isto é, DEMOCRÁTICA e CIDADÃ onde todo o mundo possa participar", o PODEMOS não tem inserção na classe trabalhadora e o seu nome é a tradução para o espanhol do "we can" de Barack Obama, portanto este movimento não tem nada de operário, é mais um movimento que tenta apagar a fronteira entre as classes sociais. E o Syriza, partido grego que nasceu após o colapso do PASOK, propondo romper com a Troika, uma vez no poder, não fez o que prometia. Ou ainda movimentos tipo coletes amarelos na França, que após poucos meses ninguém lembra mais que existiram. Estes setores já foram caracterizados no artigo A Burocracia e o Movimento Operário.  Aqui no Brasil, os partidários deste tipo de movimento criticam a CUT por não mobilizar contra a reforma da previdência e são fundadores de uma central sindical chamada intersindical, que existe, não enquanto uma verdadeira central operária, desde de 2014, mas a suposta combativa central não faz a menor sombra ao poder de mobilização da CUT. No cenário partidário se agrupam no PSOL, que é ainda mais adaptado à burocracia estatal que o próprio PT, visto a presença do PT no movimento operário ser muito maior que a do PSOL, mesmo comparando com a bancada parlamentar psolista, mediana. Apesar de não contarem com uma base social tão ampla quanto a petista, nem com força parlamentar equivalente, estes  setores tentam intimidar a presença da campanha Lula Livre em manifestações de rua e tentam separar a campanha em defesa de Lula da luta para barrar a reforma da previdência. O que não corresponde à recepção da campanha Lula livre na rua, que conta sempre com colunas massivas nas manifestações e com grande apoio popular. Esses partidos, supostamente alternativos ao PT, são ainda mais adaptados à burocracia estatal que o próprio PT.

O PT comparado à socialdemocracia europeia
O Partido Trabalhista Britânico, o Partido Socialista Francês e o SPD alemão são partidos centenários, fundados na época de ascensão do capitalismo, oriundos da segunda internacional, os mais tradicionais no movimento operário. Os três partidos são os exemplos mais destacados da socialdemocracia europeia, que entrou no jogo da alternância do poder com os legítimos representantes da burguesia. Aplicaram os planos de austeridade da União Europeia, sendo na verdade os campeões da defesa da UE. Neste momento, por exemplo, Jeremy Corbin (líder trabalhista britânico) orienta sua bancada a apoiar a convocação de um novo plebiscito e revogar o Brexit.  Na Europa a luta contra os planos de austeridade da Troika foi totalmente usurpada pela direita pró USA. A falta de autonomia da UE e a adaptação aos interesses do imperialismo dos EUA levaram à destruição de diversos partidos socialdemocratas, como o PASOK grego, que chegou a compor um governo com o partido da direita grega (A Nova democracia) para aplicar a política de austeridade da Comissão Europeia.
O PT aparece como uma versão tropical superior à socialdemocracia europeia, mas dela herda muitos problemas. Ao longo de seus governos, o PT jogou, por vezes, o papel de estabilizador no continente americano, a serviço do imperialismo estadunidense, por exemplo, no caso da missão de pacificação do Haiti (MINUSTAH), que ocupou o país após um golpe contra Jean Bertran Aristide, presidente legitimamente eleito pelo povo. Foi dessa missão que Bolsonaro buscou diversos de seus apoiadores militares. Embora em algumas questões o governo do PT tenha tido defendido a soberania nacional, por exemplo, na negociação da Área de Livre Comércio das Américas quando o governo dos EUA culpou o Itamaraty pelo fracasso da ALCA, dizer que foi um governo anti-imperialista é um exagero. Podemos lembrar o papel de Lula na criação do Mercosul, que nunca passou de uma cópia da União Europeia, com os mesmos objetivos escritos em seus documentos. Prova disso é a Venezuela estar suspensa do Mercosul, enquanto o Brasil de Bolsonaro e da Vaza Jato goza de plenos direitos em suas instâncias. 


Apesar dessas posições em escala internacional, internamente os governos do PT garantiram um aumento sensível da qualidade de vida do povo, comprovada em todos os indicadores sociais. O PT, apesar de não ter impedido a repressão pontual de algumas greves e manifestações que prosperaram em sua gestão, governou permitindo uma ampla liberdade sindical se comparado ao resto de nossa história. Fruto de suas próprias contradições, no governo Dilma medidas como a Garantia de lei e Ordem foram aprovadas e o quadro do superávit fiscal primário nunca, nos 13 anos de governo, foi questionado. Contudo, a adaptação institucional do PT não o permitiu defender suas lideranças perseguidas pela burguesia. Militantes e lideranças foram presas nas farsas judiciais. Dilma foi derrubada enquanto a direção professava o credo no Estado democrático de direito e no justo processo legal.   
A crise institucional brasileira é consequência da crise econômica do imperialismo
Ao longo dos meses, demonstramos a enorme crise econômica que se abate sobre o imperialismo e a política de guerra impulsionada pelas principais forças no jogo imperial. Hora essa política é chamada de guerra fria, mas a guerra já esteve muito perto de esquentar. Embora a grande mídia mostre os problemas na Venezuela como se fossem elementos de uma crise gerada pelo governo Maduro e não pelos embargos dos EUA, a verdade é que a crise na Venezuela é muito menor do que a crise migratória, tanto na fronteira dos EUA com o México, quanto na costa italiana. Esses sofrimentos impostos aos povos mostram o quanto as grandes potências estão interessadas em garantir direitos humanos ou qualquer coisa que o valha. O imperialismo americano está mais interessado em preparar golpes, como o recentemente descoberto contra Lopes Obrador no México. Crises institucionais também não é problema, em especial para a administração Trump, que apoia o Brexit, medida que abrirá um verdadeiro limbo jurídico na Grã Bretanha. Essas graves crises mostram a disposição do imperialismo de passar por cima de qualquer marco regulatório para garantir os seus interesses.
A ilusão nas instituições 
Fernando Haddad, em entrevista para Mirian Leitão, disse que Lula tinha a firme convicção de que teria seu nome incluído na cédula de votação na eleição passada. O comportamento da CUT na luta contra a reforma da previdência, suspendendo as atividades após a greve de 14 de junho, indica que a ilusão institucional é um problema que atinge toda a direção do movimento operário. A mais nova consequência dessa ilusão é a eminente derrota na votação da reforma da previdência. Em certo sentido, parece que as ilusões diminuem quando o boletim Lula livre informa que vai adotar um abaixo assinado como tática de mobilização em defesa de Lula. Antes tarde do que nunca, pois a cada dia fica mais claro que todas as instituições brasileiras estão amplamente comprometidas pelo golpe, tanto que Bolsonaro comete crime de nepotismo ao indicar filho para embaixada dos EUA e ninguém fala nada. Deltan e Moro estão livres apesar de tudo que já foi provado contra eles. As instituições continuam imóveis, legitimando a conduta de ambos perante sua própria base social, para quem o atual imobilismo institucional é argumento para safar os condutores da Lava jato e reafirmar suas acusações contra o PT. Dito isso, precisamos concluir que assim como os partidos sociais democratas europeus tiveram a luta contra a Troika usurpada pela direita pró-EUA, aqui também vemos o PT perder a consigna antissistema para uma direita golpista a serviço da Casa Branca.
A mais grave consequência do credo no funcionamento institucional: A perseguição política
Ciência e Revolução nasceu combatendo a perseguição política e catalogando os diversos casos que chegam, e a cada semana são mais e mais casos, se tornando impossível registrar todos. Essa semana tivemos mais um militante do MST assassinado. Luiz Ferreira da Costa, de 72 anos, morreu depois que uma caminhonete acelerou em sua direção, atropelando-o em Valinhos-SP. Os irmãos Preta e Sidney Ferreira continuam presos. Ninguém fala mais no caso da professora atropelada em Niterói durante a greve de 14 de junho. Agora a grande mídia começa uma campanha tentando criminalizar o movimento Lula Livre. Essa escalada tem como final desejado a cassação do registro do PT. Enquanto isso, na preparação do Congresso partidário a principal discussão é a campanha eleitoral municipal de 2020. Verdade seja dita, muitas teses possuem posições justas e corretas, mas não adianta muito caracterizar corretamente o imperialismo e não entender a necessidade de organizar a autodefesa dos militantes. Por isso, o blog Ciência e Revolução está apoiando uma resolução ao congresso do PT, solicitando a criação de uma comissão de autodefesa jurídica e política, que consiga responder aos inúmeros casos de perseguição que os militantes estão sofrendo nas bases e que também discuta a perseguição contra professores nas escolas e universidades. 




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