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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

A armadilha do “Fora Bolsonaro” é parte da sabotagem que começou com a lava jato e visa gerar uma intervenção do imperialismo na Amazônia

 


Um dos primeiros textos do Círculo de Estudos Revolucionários Anderson Luiz intitulou-se A Luta contra a Guerra, sendo anterior à fundação da Revista Ciência & Revolução. Neste texto é analisada uma mudança de qualidade na relação das instituições do imperialismo com as organizações operárias. O trecho com o subtítulo Organizações populares: da integração para a aniquilação explica:

Na década passada, simultaneamente ao Fórum Econômico se realizavam também os Fóruns Sociais (FSM), onde organizações populares e de classe pretendiam fazer um contraponto à globalização. Diluídas dentro do conceito amplo de sociedade civil, que encobre os antagonismos entre as classes sociais, muitas das organizações que afluíam a Porto Alegre para o Fórum Social Mundial recebiam incentivos financeiros do megaespeculador George Soros (V. aqui).   



Taxa de lucro contra passagem do tempo

A crise de 2008 diminui a taxa de lucro do setor produtivo, embora este vivesse uma longa depressão, desde meados da década de 90, como mostra o gráfico acima.   Essa nova fase, levou o imperialismo a agir de forma a buscar, não mais a integração das organizações operárias, em seus consensos, mas a sua aniquilação. As organizações dos trabalhadores passaram a ser caçadas, pois apesar das sucessivas perdas para a classe operária mundial nos últimos quarenta anos, o imperialismo precisa ir ainda mais longe, precisa destruir as forças produtivas em um nível nunca visto. Nesse cenário surge a doutrina Bannon, uma política de destruição direta das organizações operárias. Contudo, essa doutrina não passou nos testes da vida real.questão é que a doutrina Bannon, embora seja incorporada por uma parte da classe operária, acaba sendo um estopim para incendiar manifestações com sua truculência contra as organizações operárias e quem avaliou isso foi Kristalina Georgieva, em um relatório no Fórum Econômico de Davos de 2020. No mesmo FEM, George Soros anunciou um fundo de umbilhão para combater ditaduras. Em resumo, a vitória de Biden começou a ser construída em janeiro de 2020, durante a Cúpula de Davos. 

      1. O relançamento do altermundialismo com uma roupagem verde

pandemia deixou a doutrina Bannon em maus lençóis. A negação dos riscos do vírus recaiu sobre Trump e seus aliados, embora não tenham sido os únicos a negligenciarem os riscos de uma nova pandemia como demonstramos aqui, destacando a íntima relação desse vírus com a destruição das forças produtivas. Mas o assassinato de George Floyd por policiais foi a oportunidade que Biden precisava para capitalizar o apoio da comunidade negra. Contudo, a principal bandeira de Biden é a questão verde. Biden mantém uma página onde explica seu plano para a economia verde. Podemos ler nesta página: Joe Biden sabe que não há maior desafio para nosso país e nosso mundo. É por isso que ele está delineando um plano ousado – uma Revolução da Energia Limpa – para enfrentar essa grave ameaça e liderar o mundo no enfrentamento da emergência climática. E cita algumas metas:

  • Assegurar-se de que os EUA alcancem uma economia de energia 100% limpa e atinjam emissões líquidas zero até 2050.

  • Construir uma nação mais forte e resistente. No primeiro dia, Biden fará investimentos inteligentes em infraestrutura para reconstruir a nação e garantir que nossos edifícios, água, transporte e infraestrutura energética possam suportar os impactos das mudanças climáticas. Cada dólar gasto para reconstruir nossas estradas, pontes, edifícios, a rede elétrica e nossa infraestrutura hídrica será usado para prevenir, reduzir e resistir a uma mudança climática. Como presidente, Biden usará o poder de convocação do governo para impulsionar os esforços de resiliência climática, desenvolvendo planos regionais de resiliência climática, em parceria com universidades locais e laboratórios nacionais, para acesso local à ciência, dados, informações, ferramentas e treinamento mais relevantes.

  • Reunir o resto do mundo para enfrentar a ameaça das mudanças climáticas

Em texto recente acerca das relações da operação Lava Jato no Peru, detectamos uma relação entre o último discurso de campanha de Biden e um editorial no The New York Times escrito por Jorge Zarate.  À primeira vista, poderia ser um caso isolado da ação do imperialismo, valendo-se da dor dos povos originários do Peru, abandonados pelo poder central; porém, o Yahoo Notícias relata uma aproximação da deputada federal e líder indígena JoeniaWapichana, da Rede Sustentabilidade, com a parlamentar norteamericana Deeb Halland. Segundo o Yahoo, os povos indígenas saíram na frente de Bolsonaro quanto à relação com Biden. Outras ações do Partido Democrata dos EUA, dirigidos aos povos indígenas brasileiros, também foram relatados pelo jornal Estado de Minas, como o destaque sobre a líder indígena Alessandra Korap Munduruku, laureada com o prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos.  O prémio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos foi criado em homenagem ao irmão do presidente Jonh Kennedy, Robert F. Kennedy, Procurador Geral em Nova York e assassinado em 1968. A mesma organização, em 2017, premiou o ativista venezuelano Alfredo Romerodiretor da Ong Foro Penal. Uma visita ao sítio da Ong deixa claro que se trata de um opositor radical ao chavismo, todo tempo atacando o governo venezuelano, acusando-o de violar direitos humanos, mas silenciando diante do bloqueio a que a própria Venezuela está submetida pelos EUA. A Organização Robert F.Kennedy de Direitos Humanos e o Foro Penal têm uma intensa parceria como podemos ver neste relatório de supostos desaparecimentos políticos na Venezuela. 

Indígenas são a vanguarda do "Fora Bolsonaro" ou massa de manobra de uma das frações do imperialismo?

O Cacique Raoni, assessorado por uma multidão de Ongs, entrou com uma denúncia de ecocídio e crimes contra a humanidade contra Bolsonaro na CorteInternacional de Haia. A Corte de Haia é uma subdivisão das Nações Unidas, que tem por objetivo arbitrar disputas judiciais entre Estados nacionais. O jornal Le Monde Diplomatique abriu as suas páginas para Raoni, o que indica que a ação é muito bem coordenada, podendo tratar-se de uma nova política da burguesia imperialista mais importante do mundo para a região. 

A Amazon Watch

Uma Ong se destaca nesse jogo político. A Amazon Watch, em sua página oficial, apresenta-se nos seguintes termos: A Amazon Watch é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1996 para proteger a floresta tropical e promover os direitos dos povos indígenas na Bacia Amazônica.

Esclarece sua atuação: 

Desde 1996, a Amazon Watch protege a floresta tropical e avançou os direitos dos povos indígenas na Bacia Amazônica. Fazemos parcerias com organizações indígenas e ambientais em campanhas de direitos humanos, responsabilização corporativa e preservação dos sistemas ecológicos da Amazônia. 

Amazon Watch destaca sua visão:

Lutamos por um mundo no qual governos, corporações e sociedade civil respeitem os direitos coletivos dos povos indígenas de livre, prévio e informado consentimento sobre qualquer atividade que afete seus territórios e recursos.

A origem do conceito de sociedade civil, foi explicada por nós no texto Antipetismo, versão brasileira do fascismo - 1: Origens teóricas do fascismo. Esse conceito piedoso visa, justamente, apagar o direito dos povos à sua auto-organização independente. Amazon Watch pede donativos em sua página; porém, agradece em especial a alguns mantenedores listados aqui: todos constituem empresas estadunidenses. E isso é bastante revelador de quais interesses essa Ong defende. 

Outra Ong que chama a atenção é a S.O.S Amazônia. Em sua página, levanta a pauta do comércio justo e sustentável, nos seguintes termos:

Ajuda o desenvolvimento de empreendimentos amazônicos, buscando fortalecer as cadeias de valor de produtores da sociobiodiversidade. Foca na organização socioprodutiva desses empreendimentos, no beneficiamento, mercado e comércio justo.

 Nós discutimos o desenvolvimento sustentável no artigo Aquecimento global e a destruição das forças produtivas. E mapeamos entre os principais defensores deste conceito destacados membros do Partido Democrata dos EUA. 

“Fora Bolsonaro” uma armadilha para as organizações dos trabalhadores

 UOL informa que grupos de direita estão envolvidos também na campanha pelo impeachment de Bolsonaro. O que a queda de Bolsonaro por um impeachment resolveria para a maioria do povo? Pela lei brasileira, caso Bolsonaro caia, entra o vice Mourão, caso Mourão caia entra o novo Presidente da Câmara, um bolsonarista. Entretanto, ainda assim, mesmo que fosse possível convocar novas eleições, de que adiantariam eleições sob o manto das mesmas instituições que golpearam Dilma e prenderam Lula, justamente para impor a “ponte para o futuro”, plano governamental de Temer que implicava, entre outras coisas, na reforma trabalhista e que, na prática, gerou Bolsonaro?  Contudo, uma outra notícia, veiculada pelo Portal Grayzone, parece esclarecer o verdadeiro motivo desta estranha união entre esquerda, direita e Ongs pelo Fora Bolsonaro. Biden convidou para a sua posse Carlos Vechio, um ex-advogado da Exxon que atualmente atua como enviado de Juan Guaidó, líder golpista venezuelano e presidente autoproclamado da Venezuela. Grayzone ainda destaca a hipocrisia de Biden ao condenar o ataque ao prédio do Capitólio ao mesmo tempo em que chama um golpista para sua posse. Essa atitude de Biden deixa claro que o plano estadunidense ainda se mantém fiel à derrubada de Maduro, missão dada a Bolsonaro e na qual este fracassou de forma retumbante. Portanto, depreende-se que o “Fora Bolsonaro” embora seja uma ação que gera certa unidade entre diversas  burocracias partidárias, que reivindicam a posição de esquerda − pode se constituir como uma enorme armadilha para as organizações dos trabalhadores. 

Anulação do Impeachment de Dilma: a via mais econômica para uma nova Constituinte que passe o país a limpo e puna os golpistas genocidas. 


A saída mais econômica para a nação brasileira é a anulação de todas as medidas antidemocráticas, antipopulares e de cunho lesa-pátria, a partir do impeachment de Dilma. A devolução do poder ao PT deve incluir o chamado de uma nova Assembleia Constituinte, para passar o país a limpo, punir os golpistas e julgar os crimes dos genocidas. Nenhum outro tribunal tem autoridade para fazer isso, que não a própria vontade popular. 






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