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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Levante e resistência dos povos no continente

Gleisi presidenta do PT

Uma onda de levantes populares começou em diversos países da América do Sul. Além dos levantes, tem se afirmado, também, o voto popular contra os retrocessos sociais e contra o ajuste econômico imperialista que reforça a opressão colonial e a miséria dos povos.  Os trabalhadores e povos do Sul da América se rebelam e resistem como podem contra as condições de vida impostas pelos governos fantoches do imperialismo. Em todos os países, para aplicar medidas anti-populares, a repressão escala e o direito a auto-organização dos povos é caçado.
A prisão de Lula e as ameaças a Maduro, na Venezuela, a partir da ação do departamento de estado dos EUA são as pontas mais avançadas e exemplares da repressão às experiências mais avançadas de auto-organização dos trabalhadores e povos.  No Brasil, o partido mais representativo da classe trabalhadora é impedido de governar pelo Golpe institucionalizado. Na Venezuela as conquistas democráticas da Assembleia Constituinte são objeto de diversas tentativas de Golpe que, em função das reformas institucionais feitas pelo processo Constituinte naquele país, ainda não conseguiu avançar. Os problemas que os trabalhadores e povos brasileiros e venezuelanos se colocaram construindo um partido para unidade dos trabalhadores e oprimidos no Brasil e iniciando processos de reformas democráticas no Estado através de Constituinte na Venezuela estão colocados para todos os povos do continente. Na vida real, os grandes capitalistas e imperialistas tem os meios de controlar o desenvolvimento de levantes e pressionar os governos mesmo progressistas, de forma que os problemas de auto-organização para si estão colocados como desafio no desenvolvimento dos atuais processos, o que exige uma maior solidariedade internacional entre os oprimidos e perseguidos do sistema.
É neste sentido, que a posição corajosa de Gleisi, presidenta do PT, indo a posse de Maduro e reconhecendo o direito a auto-determinação dos povos, diante de uma pressão da midia golpista, é uma conquista histórica para a resistência no sub-continente que não pode ser perdida.  Toda pressão feita sobre o PT é para que os representantes dos povos oprimidos não se solidarizarem entre si. Mas a solidariedade é uma força que nasce de baixo, entre os oprimidos e Gleisi na presidência do PT  encarna a solidariedade militante que não desistiu de Lula. O que é motivo mais que suficiente para reconduzí-la a presidência do partido. 

A situação do Chile

São os jornais patronais que dizem que o Brasil pode ser um novo Chile (aqui e aqui). Após o fracasso econômico de Macri na Argentina, os jornais burgueses estão repletos de estatísticas explicando a situação econômica do Chile e mesmo eles reconhecem que a situação do povo trabalhador é insustentavel , a BBC escreve textualmente  "Segundo a última edição do relatório Panorama Social da América Latina, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL), a parcela de 1% mais rica da população chilena manteve 26,5% da riqueza do país em 2017, enquanto 50% das famílias de baixa renda representavam apenas 2,1% da riqueza líquida. Por outro lado, o salário mínimo no Chile é de 301 mil pesos (cerca de R$ 1.715,70 — no Brasil, ele é de R$ 998). Segundo o Instituto Nacional de Estatística do Chile, metade dos trabalhadores do país recebe um salário igual ou inferior a 400 mil pesos (R$ 2.280) ao mês. Já no Brasil, como comparação, 60% dos trabalhadores (ou 54 milhões de pessoas) tiveram um rendimento médio mensal de apenas R$ 928 no ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE." O UOL-economia trás mais comparações com a situação brasileira  "Compare indicadores de Chile e Brasil Salário mínimo: R$ 1.700 (Chile) / R$ 998 (Brasil) Renda média anual: US$ 25,2 mil (Chile) / US$ 15,7 mil (Brasil) Desemprego: 7,3% (Chile) / 12,2% (Brasil) Inflação: 2,4% (Chile) / 2,9% (Brasil) Expectativa de alta do PIB neste ano: 2,9% (Chile) / menos de 1% (Brasil) ". Ainda no UOL, encontramos o  posicionamento de alguns econômistas como Paul Fedman professor da USP: "São poucos os lugares do mundo em que o 1% mais rico da população ganha mais de 25% da renda total do país. Na América Latina, em apenas dois países isso acontece: no Chile e no Brasil... ". Paulo Gala faz um interessante diagnóstico da economia Chilena (ver aqui), discutindo o problema da dependência das comodites. No Chile, a previdência privada leva idosos maiores de 80 anos ao desespero. Segundo dados do próprio governo Chileno, o número de suicídios entre idosos é de 17,7 para cada 100 mil habitantes, ainda segundo  matéria do UOL. A situação econômica no Chile piorou com a queda do preço do cobre, produto do qual a econômica chilena é dependente.

Frente a essa situação dramática, a mobilização do povo chileno é uma resposta. O governo Pinera reage com forte repressão e toque de recolher (aqui). O informativo Voz Operária discute a posição de Michele Bachelet, sempre rigorosa com as suspostas violações dos direitos humanos na Venezuela e totalmente negligente com o que se passa no Chile, mostrando que a ONU continua sendo a caverna dos bandidos como dizia Lenin com respeito a antecessora da ONU a Liga das Nações. O Voz Operária também trás mais alguns dados sobre a situação econômica do Chile "Hoje, em um país onde tudo é absolutamente privatizado, 52% dos chilenos vivem com menos de 500 dólares mensais. Cerca de 2 milhões de chilenos estão aposentados no sistema privado, que impõem uma pensão de fome de U$ 250 por mês (com constante atrasos e cortes). O sistema de saúde privado é outro grande drama da população. As consultas médicas no Chile estão em cerca de 100 dólares, o valor do medicamento está 2.000% acima do valor do mercado mundial, 25 mil crianças estão na lista de espera para ter atendimento médico e, apenas no ano de 2018, 10.800 pessoas morreram sem acesso médico nas filas de espera."

Equador

Lenin Moreno, no Equador, enfrentou protestos dos povos indígenas por conta de um reajuste nos combustíveis e os protestos o obrigaram a recuar dessa posição, chegando a um acordo onde os subsídios foram retomados, essa medida permitiu que as exportações de combustíveis retomassem ao normal . Lenin Moreno era vice de Rafael Correa que hoje o acusa de traidor. Moreno implementou uma verdadeira caça as bruxas no estado equatoriano, sob a bandeira da ética e do combate a corrupção chegando a contar com 70% de popularidade inflada pela midia. Um caso que deixa bem claro o ataque do imperialismo contra os povos usando a desculpa esfarrapada da corrupção. Contudo os protestos não foram longe e aparentemente Equador ja voltou a normalidad , após a capital chegar a ser transferida para Guayaquill, o acordo com os indigenas permitiu a volta da capital para Quito. Na quarta-feira dia 24, o movimentos suspendeu as negociações com Moreno e retomou os protestos devido a perseguição que o governo estava praticando contra as principais lideranças do protesto.

Bolivia

A economia da Bolívia nunca esteve em melhores condições, existe um milagre econômico boliviano, que se estendeu além do boom das comodites da década passada.
Enquanto a America Latina teve um crescimento inferior ao esperado, a Bolivia vem crescendo, mesmo assim a reeleição de Evo Morales está sendo contestada e existe uma ameaça de golpe patrocinado pela própria OEA(Organização dos Estados Americanos), que considerou suspeita a contagem de votos, os setores pró imperialistas da Bolivia tentam mais um golpe nas fronteiras da America Latina (ver aqui ), neste dia 25 de outubro a UE se somou a OEA no esforço golpista. A defesa do mandato de Evo Morales é uma necessidade a todos os povos que resistem à ingerência do imperialismo. O governo Evo sai das urnas consagrado pelo povo, mas terá grandes dificuldades fruto do cenário político de forte domínio colonial, que ainda condena a Bolivia a um dos piores indices de desenvolvimento humano do continente. 

Venezuela

A Venezuela sumiu dos noticiários depois do ataque dos EUA liderado pelo fantoche Juan Guaidó ter fracassado. A própria ONU recebe o governo Maduro em seu conselho de direitos humanos, sinalizando o fracasso das iniciativas imperialistas contra o povo venezuelano, contudo o ataque não parou. Por ocasião da eleição na Bolivia, a BBC tenta fazer uma comparação entre as economias bolivianas e venezuelanas (aqui), creditando a situação econômica da Venezuela únicamente a gestão Maduro, a mesma BBC cai em contradição e mostra os efeitos das sanções contra o povo venezuelano, (ver aqui e aqui). A BBC reconhece que as sanções estão relacionadas à queda da exportação de petróleo da Venzuela. Sendo que a Venezuela não é o único país que enfrenta problemas produtivos, a guerra econômica fez baixar também a produção de petróleo na Arábia Saudita 


Argentina 

Enquanto a imprensa burguesa vende a Venezuela como o grande fracasso  econômico da América do Sul, a Argentina só coleciona indicadores vermelhos.
A inflação so cresce
A pobreza acompanha a inflação. A produção industrial, por outro lado, desaba. O presidente Mauricio Macri, pupilo de FHC, disse certa vez, que a Venezuela descia ao inferno, porém seus dados econômicos mostram que é o povo argentino que sente o cheiro do enxofre. A derrota de Macri para a chapa de Christina Kirchner é uma consequência dos sofrimentos que sua política econômica inflingiu ao povo argentino, que  manifestou o desejo de um governo menos submisso aos designios dos EUA, porém Fernandez já esta sendo pressionado a não ceder as demandas populares e a aceitar flexibilização das leis trabalhistas. 

Brasil 

O IPEA, em sua carta de avaliação da conjuntura econômica, registrou recuo da atividade e do consumo de bens industriais (ver gráfico)
Portanto o povo esta consumindo menos, apesar do mesmo IPEA registrar uma pequena diminuição no desemprego, a renda do trabalhador  tem caindo vertiginosamente, desde o golpe, mostrando que os novos empregos são subvalorizados em relação ao patamar anterior. As contra reformas aprovadas no congresso levam a otimismo na bolsa de valores, mas também levam à certeza de um futuro terrível para os idosos, a exemplo do Chile. Simultaneamente a fome volta a crescer no país.
A ditadura, saída do golpe de 2016, é um desastre. A violência policial é responsável por um em cada três mortos em São Paulo. No Rio são 881 mortos em 6 meses. As instituições se voltam contra o povo trabalhador para impedir uma sublevação popular contra a situação econômica sufocante. O Brasil também ensaiou um levante nas ruas contra os cortes orçamentários nas universidades e a reforma da previdência, porém as direções do movimento sindical preferiram deixar as mobilizações esfriarem e canalizá-las para o debate dentro das instituições golpistas, mostrando os limites de uma "oposição parlamentar". Agora, frente a onda de manifestações nos países vizinhos, Bolsonaro diz que o exército está pronto para atacar o povo, caso o PT faça o que deve fazer, que é promover a unidade da luta dos trabalhadores em nível continental.

O Congresso do PT: Lula Livre! 

No congresso estadual do PT-RJ, apesar de todos os problemas que são conhecidos no PT do Rio, que puxou o resultado do PT nas eleições presidenciais para baixo, o núcleo "Ninguém Fica Para Trás" apresentou uma emenda pautando a organização da luta contra a perseguição aos militantes do PT. Há uma resistência que se organiza por baixo, através da solidariedade, quebrando a rotina do debate eleitoral habitual no PT.  Um resistência concreta contra as instituições apodrecidas só pode partir de fora delas, pois é na vida e nos corpos dos militantes que a perseguição política se realiza. Há muita perseguição a ser combatida e essa emenda pode ser um ponto de apoio tanto contra as perseguições futuras como combater as já existentes. E exemplos não faltam no Brasil e no mundo. Lula, Dilma, Dirceu, Preta Ferreira, Marcia Tiburi, Louisa Hanoune, Mumia Abu-Jamal. Porém as ilusões institucionais da direção do partido caminham para uma crença que o STF possa libertar Lula em breve.  Sobre isso temos que ficar alertas, mesmo se o STF - que faz parte do Golpe - vier a libertar Lula, por pressão das massas, isso não muda a natureza golpista das instituições brasileiras e do papel delas no posicionamento do Brasil como guardião dos interesses estadunidenses no continente. Somente a solidariedade concreta entre os que sofrem com as perseguições políticas pode apontar um outro caminho. 

Volta PT 

Derrotar o Golpe e os usurpadores da cadeira presidencial é a maior necessidade política do povo que sofre com a deterioração das suas condições de vida no Brasil. Revogar as medidas golpistas como a reforma trabalhista, a reforma previdenciária, o teto dos gastos, libertar as lideranças populares presas, retomar para o país a EMBRAER, a VALE, reverter o desmonte da PETROBRAS, realizar as tão atrasadas reformas agrária e prisional são necessidades urgentes do povo que só um governo do PT - legítimo depositário das esperanças democráticas da população - pode realizar.  Mas ao contrário de seus primeiros governos antes do Golpe, um novo governo do PT não pode mais aceitar uma democracia de fachada que continua encarcerando e assassinando o povo negro.  Na solidariedade entre quem sofre a opressão se constrõem os laços que podem, de fato, libertar Lula e a todos e todas nós.  Neste processo congressual do PT, a melhor ajuda que o PT pode dar para derrotar a política desenvolvida por Bolsonaro é o PT se colocar pronto para assumir imediatamente o governo que lhe foi tirado através de uma conspiração que incluiu o imperialismo estadunidense. 


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