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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

"Compre ao som de canhões, venda ao som de violinos"

Cunhada em 1810 e atribuída ao financista londrino Nathan Rothschild, a frase “compre ao som de canhões, venda ao som de trombetas” sugere que o início de uma guerra é um bom momento para investir no mercado de ações. Quanto pior o mercado, melhores são as oportunidades de lucro. Chamamos isso no mercado de “contrarian investment”. Barão Rothschild, um nobre britânico do século 18 e membro da família bancária Rothschild, é creditado por dizer que “a hora de comprar é quando há sangue nas ruas”. Rothschild fez uma fortuna comprando no pânico que se seguiu à Batalha de Waterloo contra Napoleão. Mas essa não é a história toda. Acredita-se que a citação original seja “compre quando houver sangue nas ruas, mesmo que o sangue seja seu”.

E os fatos da pandemia mostram que o povo está sangrando com a expansão da contaminação e do atraso das medidas de saúde pública que poderiam impedir milhares de mortes, inclusive nos próprios EUA.

O econômista Paulo Gala faz previsões alarmantes e cita que Trump nos EUA está salvando as grandes empresas, que têm os papéis de suas dívidas compradas pelo banco central americano(FED), mais uma vez os mandatários deste mundo usam dinheiro público para salvar a pele do grande empresariado.

Essa queima de capitais é uma das muitas semelhanças da crise associada ao coronavírus, com uma guerra. Na guerra, capitais também são queimados, porém destinados a indústria bélica, que sempre tem um enorme aporte de recursos em períodos anteriores a guerras gerando grandes dívidas públicas, como mostra Sérgio Lins. No capitalismo ninguém reclama de aumento de gastos para armamentos, muito menos para salvar burgueses falidos.

Dívida Pública dos EUA
Fonte: Metro

Na verdade, pandemias e guerras tem muito em comum, a chamada mãe de todas as pandemias, o surto mundial de gripe espanhola surgida em 1918, teve sua origem nas trincheiras primeira guerra mundial.

Escassez de suprimentos médicos: O imperialismo mostra as suas garras e cria a guerra das máscaras.

Gastos do orçamento americano durante a gestão Obama -ano fiscal de 2015. os gastos militares foram 6 vezes superiores aos gastos com educação. Fonte:Metro
Um relatório da OMC (Organização Mundial do Comércio) relata uma severa escassez de suprimentos médicos, diversos incidentes de desvio de máscaras e ventiladores foram relatados, o imperialismo inaugura um novo tipo de pirataria, o roubo de suprimentos médicos em pleno translado. A acusação de pirataria foi explícita e saiu da boca de Andreas Geisel ministro do interior da Alemanha contra o governo dos EUA. Porém, este não foi o único incidente. Macron mandou confiscar todas as máscaras presentes em território francês. A briga das máscaras vem desde o início da pandemia. A economia planificada da China é uma importante produtora mundial de suprimentos médicos, chegando a ser responsável pela metade da produção mundial de máscaras e mesmo na China durante o pico da epidemia faltou máscaras, agora a China esta exportando máscaras para outros países (ver aqui), certamente isso mostra uma diferença fundamental de uma economia planificada para uma economia de mercado, em dezembro de 2019, durante a cúpula da OTAN, Trump exigia que os países da OTAN aumentassem os seus orçamentos militares (ver aqui) e muitos países da OTAN seguiram essa determinação do imperialismo dos EUA.
 Investimento em desenvovimento militar é pro dobro do orçamento para pesquisa e desenvolvimento e saúde.
Fonte: Fernanda De Negri, Flávia de Holanda Schmidt Squeff

Em hipótese alguma essa escassez de Equipamentos de Proteção Individual(EPI) pode ser atribuída a falta de recursos econômicos, inclusive havia uma superprodução de capitais nos mercados especulativos (ver aqui), que não conseguiam se valorizar nos mercados produtivos, devido a baixa taxa de lucro associada a produção.

Assim, o desastre que está sendo a pandemia nos países imperialistas não pode ser atribuído à falta de recursos, nem à imprevisibidade da pandemia, como já tratamos aqui, a OMS emitiu um relatório de risco de pandemia em 2018 (ver aqui). A ONU também informou sobre os riscos de uma pandemia de proporções apocalípticas (aqui o relatório).


A superioridade de uma economia planificada frente as grandes economias capitalistas


Fonte: Michael Roberts.  Texto publicado em 6 de abril
Vemos no gráfico acima, a curva associada ao número de mortes provocadas pela pandemia em diversos países e notamos que a China foi ultrapassada de longe pelos países Europeus e pelos EUA, embora tenha sido atingida primeiro. Daria tempo para esses países se prepararem para a guerra contra o corona vírus.

A China apresenta uma curva atenuada em relação ao EUA, Alemanha e países imperialistas europeus, isso fica claro quando vemos os modelos matemáticos divulgados que consideram que medidas de mitigação podem impedir a proliferação do vírus




Fonte: COVID19 Globalmap
Os grandes países imperialistas não estavam preparados para enfrentar o vírus quando comparados a economia planificada da China, para muitos isso pode ser uma surpresa, contudo devemos lembrar a luta recente dos trabalhadores americanos por um sistema de saúde pública . Os números dessa pandemia mostram como essa luta estava correta, na verdade o economista Michael Roberts alerta para o efeitos  dos recentes cortes orçamentarios nos EUA, que debilitaram profundamente os serviços publicos, a ponto de dificultar o combate a pandemia :

"
... como houve os cortes nos serviços públicos na última década, apenas não há pessoal suficiente para processar reivindicações e transferir o dinheiro. Nos EUA, acredita-se que muitos não receberão nenhum cheque até junho, quando os bloqueios poderão ter terminado! Além disso, é claro que muitas pessoas e pequenas empresas não se qualificam para os folhetos por várias razões e cairão nessa rede de segurança."


Cortes orçamentarios e em direitos trabalhistas e sociais também foram medidas consensuais na União Européia. A necessidade de rebaixar o preço da mão de obra levou ao queda na qualidade de vida em todos os países da OCDE nos últimos 40 anos. Apesar de todos esses dados econômicos esses países ainda são considerados verdadeiros modelos de democracia e civilidade. No imperialismo, estapa superior do capitalismo, o dinheiro público é destinado para o mercado financeiro e para a guerra, não para a manutenção da vida do povo trabalhador. 

A Pandemia não Parou as guerras


Segundo o Vaticano news  são aproximadamente 70 paises no mundo envolvido em conflitos bélicos, na mesma matéria,  o site informa que o papa Francisco se soma ao apelo pelo cessar fogo mundial emitido pelo secretário geral da ONU,  Antonio Guterres, no último dia 23 de março, agora, no ultimo  dia 4 de abril Antonio Gutterres reforçou  seu apelo. Apelos piedosos de quem sempre apoiou massacres. Em artigo no Le Monde Diplomatique(reproduzido no site da ONU) , Jean Pierre Lacroix, chefe das forças de paz da ONU,  defende a ação das forças de ''paz'' dos "capacetes azuis '' da ONU nos países atingidos. 
"Manter os capacetes azuis no terreno para ajudar a conter a pandemia é um passo importante para ajudar os países a vencer este desafio. Por isso, precisamos do apoio dos estados-membros mais do que nunca, em linha com a iniciativa Ação para Forças de Paz do Secretário-Geral (A4P), que permanece no cerne do nosso trabalho. A disposição deles em permanecerem comprometidos com as operações de paz é central para nossa habilidade de ajudar."
Um desavizado que lê esse piedoso discurso, certamente  apoiará , ignorando que Missão de Estabilização do Haiti(MINUSTAH), conduzida pelos capacetes azuis, foi responsavel pela epidemia de cólera que devastou aquele país, sendo responsabilizada judicialmente a ONU alegou imunidade  para não indenizar as vítimas. Sendo que a suposta missão de paz, tinha o objetivo de  viabilizar a continuidade de um golpe contra o presidente legitimamente eleito Jean Bertrand Aristid.  Essa missão teve a liderança do exército brasileiro, na pessoa do general Augusto Heleno, atual ministro de Bolsonaro, sob ele pesam  diversas acusações, entre elas, a acusação de ter promovido um massacre em uma favela em Cite Soleil, um bairro pobre da capital haitinana, Porto Príncipe, onde morreram dezenas de civis. A operação comandada por Heleno chegou a disparar 22 mil balas. Acusações também de que soldados brasileiros e uruguaios sobre  comando de Heleno, teriam violentado e estuprado mulheres haitianas.  Segundo o pesquisador Wolfgang Heinz em  entrevista na Deuche Welle, a própria ONU reconhece parte dessas violações teriam ocorrido em diversos outras "missões de paz", como no caso da República Centro Africana (ver aqui um estudo acadêmico sobre abusos cometidos pela Missão de Estabilização na republica Centro Africana -MINUSCA ). A revista Nova Cultura faz um apanhado  das diversas missões dos capacetes azuis , onde existiram acusações:

"Cerca de dois mil casos de abuso sexual cometidos por membros das forças de paz foram registrados nos últimos 12 anos no mundo, incluindo mais de 300 casos envolvendo menores. Mas apenas uma pequena proporção desses agressores acabou atrás das grades, segundo uma investigação da agência de notícias internacional AP News.



Os dados, obtidos pela agência, são baseados em relatórios internos da ONU e entrevistas com vítimas, pesquisadores e funcionários da organização.



Haiti

Só no Haiti nove adolescentes de ambos os sexos foram sistematicamente exploradas sexualmente por pelo menos 134 capacetes azuis entre 2004 e 2007. Os crimes incluíram tanto sexo em troca de comida e dinheiro como violações em grupo.



De acordo com um relatório interno da ONU, 114 das tropas foram enviados de volta ao seu país, como resultado de um processo interno, mas nenhum deles foi preso.



República do Congo

Os casos são repetidos. Em África, vários soldados foram recentemente acusados de exploração sexual de mulheres, incluindo uma reivindicação de paternidade em um dos fatos conforme relatado em fevereiro deste ano, pelo porta-voz da ONU, Stephane Dujarric.

Dujarric disse que os pesquisadores da ONU e da África do Sul estão conduzindo uma investigação conjunta sobre os crimes cometidos.

Sudão do Sul
Em abril deste ano, a missão da ONU naquele país anunciou uma investigação sobre um possível caso de abuso sexual de quatro filhos em uma das bases dos capacetes azuis, depois de ser capturado invadindo uma das bases, um deles revelou que um membro se ofereceu para pagá-los em troca de sexo.

Este é o segundo registrado no Sudão do Sul nos últimos dois meses. A primeira foi em fevereiro, quando 46 soldados foram expulsos de sua base, após serem acusados de abuso sexual em troca de dinheiro por mulheres na área.

República Centro-Africana
Um total de 120 soldados de forças de paz foram devolvidos aos seus países de origem após cometer abuso sexual contra mulheres, adolescentes e crianças na cidade de Berberati em 2017.

De acordo com a campanha Code Blue da agência civil Mundial AID-Free (mundo livre de AIDS), a República Centro-Africana é um dos casos mais graves de forças de paz no mundo, com o grande número de queixas e o aumento progressivo, muitos dos que envolvem menores, que vêm se registrando desde 2014.


Apesar da passagem do tempo, a situação não muda. Em março deste ano, uma investigação pela Missão unidimensional Integrado da Missão de Estabilização das Nações Unidas na República Centro-Africana (Minusca) determinou que a situação no país “se deteriorou a tal ponto que o batalhão não confiável devido é a liderança pobre, falta de disciplina e deficiências operacionais"

Em meio  a pandemia as crises migratórias foram esquecidadas

A rede estatal de informação da alemanha, Deuch Welle, informa que a pandemia esta amplificando as tendencias anti migratórias na União Européia. Florin Trauner pesquisador de movimentos migratórios da Universidade Livre de Bruxelas disse: 
"A situação está se tornando cada vez mais difícil para pessoas que querem pedir asilo na Europa. Os obstáculos estão aumentando", a ONU e a OIM(Organização Internacional para Migrações), suspenderam temporariamente seus programas, deixando milhões de refugiados as portas da Europa . Felippo Grandi alto comissário da ONU para refugiados disse :
"Guerras e perseguições não terminaram" 
em diversos países os escritórios para refugiados foram fechados segundo Judith Sunderlan vice diretora da ONG subdivisão Asia Central e Europa -Monitor Internacional de direitos Humanos-,  ela comenta :
"Tudo isso aumenta muito o risco de ser infectado pelo vírus."
Esses refugiados estão fugindo do conflito na Síria da explosão do Iraque e outros conflitos gerados pelo imperialismo em especial na África, o jornal Estado de Minas repercute matéria da agencia EFE com numeros de imigrantes que pedem Asilo na Europa (veja aqui ) .

O Estado de excessão gerado pela Pandemia também está legitimando abusos contra imigrantes nas fronteiras dos EUA, matéria no UOL informa que os números de entradas ilegais nos EUA estão pasando por uma baixa histórica, são dez mil imigrantes expulsos. Trump também informou que vai negar asilo a todos os solicitantes por conta da pandemia. 

Trump ameaça um nova guerra em meio a pandemia. 

Trump anunciou que vai dobrar o contingente militar na região próximo a Costa da Venezuela e propôs um acordo a Caracas, suspenderia o embargo econômico, que estrangula a Venezuela, caso um governo interino, sem Maduro, ascendesse ao Palácio Miraflores(ver aqui) para organizar eleições que os americanos considerassem livres. Obviamente que seu capacho oficia , Jair Bolsonaro, apoiou os planos da Casa Branca.  A mudança de posição de Washigton quanto o apoio ao fantoche Guaidó pode estar relacionada ao fato de que a estatal petrolífera Russa está ajudando a Venezuela a escoar sua produção, o que fez com que nos últimos três meses a produção de petróleo na Venezuela voltou a crescer depois de passar por mínimas históricas

Apesar do bloqueio os números da  pandemia na Venezuela ainda são modestos (9 mortos e 171 infectados), contudo Maduro  firmou hoje(10 de abril) uma cooperação com a China para combater o COVID19, informou a agencia EFE. O Diálogos do Sul fez uma transmissão direto da Venezuela mostrando as condições em tempo real(aqui).
Golpe, perseguição política e colapso do sistema funerário, a barbárie capitalista mostra a sua face no Equador.

O jornalista Amauri Chamorro faz um relato na TV 247 dos sucessivos golpes de Lenin Moreno, fantoche do imperialismo no Equador, aplicou contra o seu povo, após ter sido eleito na vaga do correismo, Moreno se voltou contra seu antigo padrinho político e seu mandato popular passando a perseguir Correa, o expulsando do próprio partido, via intervenção estatal em sua direção, caçando os direitos políticos e condenando Correa em processo cheio de vícios, mandando prender Jorge Glass, seu próprio vice. Tudo muito parecido com o que foi feito contra Lula no Brasil. É o que Celso Amorim, na mesma entrevista ao 247, chamou de Lawfere, prática recorrente entre entre os governos fantoches do imperialismo dos EUA, que aplicam medidas cada vez mais impopulares, a ponto de Edgar Isch.L dizer que hoje quem governa o Equador é o FMI . As políticas de contenção dos gastos públicos de Lenin Moreno, a serviço do FMI, estão na raiz do massacre que a pandemia de coronavírus esta fazendo contra o povo trabalhador Amauri Chamorro relata :

“A situação em Guayaquil é a pior do planeta nesse momento.”, Chamorro explica: “Lembramos que o Equador é do tamanho da cidade de São Paulo, e o governo não tem o sub-registro das pessoas contaminadas, nem de pessoas que estão sendo tratadas, nem de mortos. O governo não faz a menor idéia do que está acontecendo”, comenta o analista. “Quando se fala em ‘alguns mortos’, não! São milhares de mortos, não há praticamente um bairro que não tenha cadáveres na rua, ou nas casas das pessoas”. Chamorro denuncia o colapso do sistema funerário “a grande maioria deles envolvia o cadáver no saco de lixo e o punha na porta de casa ou na calçada para evitar contaminação do resto da família”. O relato de Chamorro é de uma situação de guerra: “Eles não fazem idéia sequer de como recolher os corpos, já perderam milhares e as famílias não sabem onde estão os cadáveres, o governo recolheu de qualquer maneira, sem identificar, então você tem milhares de pessoas procurando na rua, nos hospitais, em qualquer lugar”.

As doenças negligenciadas pelos grandes laboratórios privados: expressão do parasitismo capitalista

O mundo convive com um espectro de doenças endêmicas ditas negligenciadas, segundo o site dos médicos sem fronteiras: "São doenças tratáveis e curáveis que afetam, principalmente, populações com poucos recursos financeiros que, justamente por isso, não despertam o interesse da indústria farmacêutica. Os métodos de tratamento e diagnóstico dessas doenças são antigos e inadequados e demandam investimento em pesquisa e desenvolvimento para se tornarem mais simples e efetivos. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde classifica 17 enfermidades como doenças negligenciadas. Entre elas estão: calazar, doença do sono, dengue, esquistossomose, sarcoma, doença de Chagas, etc. ".

A agência Fio Cruz é um pouco mais específica: "As doenças negligenciadas são aquelas causadas por agentes infecciosos ou parasitas e são consideradas endêmicas em populações de baixa renda. Essas enfermidades também apresentam indicadores inaceitáveis e investimentos reduzidos em pesquisas, produção de medicamentos e em seu controle. As doenças tropicais, como a malária, a doença de Chagas, a doença do sono (tripanossomíase humana africana, THA), a leishmaniose visceral (LV), a filariose linfática, o dengue e a esquistossomose continuam sendo algumas das principais causas de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Estas enfermidades, conhecidas como doenças negligenciadas, incapacitam ou matam milhões de pessoas e representam uma necessidade médica importante que permanece não atendida. Embora as doenças tropicais e a tuberculose sejam responsáveis por 11,4% da carga global de doença, apenas 21 (1,3%) dos 1.556 novos medicamentos registrados entre 1975 e 2004, foram desenvolvidos especificamente para essas doenças. Portanto, 1.535 medicamentos foram registrados para outras doenças.
As doenças negligenciadas são um grupo de doenças tropicais endêmicas, especialmente entre as populações pobres da África, Ásia e América Latina. Juntas, causam entre 500 mil e 1 milhão de óbitos anualmente. As medidas preventivas e o tratamento para algumas dessas moléstias são conhecidos, mas não são disponíveis universalmente nas áreas mais pobres do mundo. Em alguns casos, o tratamento é relativamente barato. Em comparação às doenças negligenciadas, as três grandes enfermidades (Aids, tuberculose e malária), geralmente recebem mais recursos, inclusive para pesquisa. As doenças negligenciadas podem também tornar a Aids e a tuberculose mais letais."

Os governos do PT no Brasil traçaram objetivos para combatê-las ver aqui, E colheram diversos resultados positivos ver aqui um estudo do IPEA sobre o tema. Porem, algumas observações neste estudo do IPEA merecem ser destacadas. "As grandes multinacionais envolvidas em P&D não foram motivadas pelo retorno comercial no mercado das doenças negligenciadas, mas, sim, pelo investimento em longo prazo, que inclui: a redução do risco de ter sua reputação prejudicada pela crescente pressão sobre a indústria em relação ao pouco interesse nas necessidades dos países em desenvolvimento; preocupações com a responsabilidade social e a ética da indústria; e considerações estratégicas, como se posicionar nos mercados dos países em desenvolvimento emergentes ou obter acesso a pesquisadores altamente qualificados desses países". Essa observação é creditada a Moran-2005 no estudo do IPEA, nas referências achamos esta designação <MORAN, M. A Breakthrough in R&D for Neglected Diseases: New Ways to Get the Drugs We Need. PLoS Medicine, v. 2, n. 9, p. e302, 2005>. A continuidade da citação faz referência a parcerias público privadas realizadas pelo Ministério da Saúde, apesar do reconhecido desinteresse do setor privado. Após mostrar um gráfico do aumento dos investimentos no setor o estudo do IPEA reforça, que os grandes laboratórios multinacionais não tem interesse em desenvolver medicamentos para essas doenças. "Apesar do esforço do setor público, a solução para o problema esbarra na falta de interesse da indústria farmacêutica, que não vê um mercado lucrativo que justifique a pesquisa de medicamentos mais eficazes e menos agressivos. No Brasil, foram propostas PPPs voltadas para a produção nacional de medicamentos, visando reduzir o déficit com a importação destes. Em 2009, o MS articulou nove PPPs, entre sete laboratórios oficiais e dez empresas privadas, para a produção no Brasil de 24 medicamentos que serão utilizados pelos pacientes do SUS." O estudo conclui, citando outro autor acerca do interesse dos laboratórios privados: "Seu mercado insignificante para as empresas farmacêuticas reduz ainda mais a importância destas doenças no debate da saúde global. A negligência é também evidente em termos monetários, uma vez que estas doenças recebem uma proporção muito pequena dos recursos públicos para a saúde (LIESE; ROSENBERG; SCHRATZ, 2010)."

Isso não ocorre apenas no Brasil, Paulo Gala reproduz um artigo acerca de comportamento semelhante dos chamados big pharma, que são os grandes laboratórios dos EUA. "Em artigo publicado no prestigioso periódico American Economic Review, Budish, Roin e Williams (2015) tentaram compreender por que os grandes laboratórios farmacêuticos focavam seus esforços para desenvolver tratamentos contra o câncer apenas para estágios muito avançados da doença. Eles notaram que havia um problema de proteção à inovação. Pelas regras da agência de vigilância sanitária dos EUA (a Food and Drug Administration – FDA), um tratamento contra o câncer em estágios iniciais precisa cumprir testes clínicos que duram, no mínimo, 18 anos, uma vez que os desdobramentos da enfermidade nestes estágios podem ser muito variados e ter muitas implicações. Acontece que o registro da patente de 20 anos do novo medicamento deve ser feito logo antes de se iniciarem os testes clínicos, quando o conhecimento novo obtido pela pesquisa é revelado ao público. Portanto, sendo 18 anos o tempo mínimo de duração dos testes, as empresas teriam apenas dois anos para usufruir seu poder de monopólio de forma a remunerar todo o esforço de pesquisa e desenvolvimento. Qual é o resultado desta “distorção” nos incentivos? Como a duração mínima é de apenas alguns anos para estágios mais avançados da doença, os laboratórios preferem se concentrar nas descobertas mais lucrativas, diminuindo a oferta de inovações para estágios iniciais da doença, quando o tratamento tende a ser mais eficaz e, portanto, a salvar mais vidas, em particular das pessoas em pior condição econômica. Falhas de mercado como esta emergem do desalinhamento entre os lucros privados e os interesses coletivos." O mesmo Paulo Gala , relata como a India se tornou a maior produtora de genéricos do Mundo, enfrentando os grandes laboratórios privados, com uma lei de patentes que protegia sua produção interna e com a construção de empresas estatais no ramo farmacológico:

" Em 30 anos, a participação de mercado das empresas domésticas aumentou de 30% para 77%. As empresas também se beneficiaram de atividades de P&D exercidas pelo governo indiano, por meio de estatais como Hindustan Antibiotics e Indian Drugs and Pharmaceuticals e de Institutos de pesquisa. Os benefícios se disseminavam por vários meios, como a troca de cientistas" Porém a Organização Mundial do Comércio fez a Índia flexibilizar suas leis de patentes , e favoreceu aos grandes multinacionais, afinal é para isso que serve a OMC "Com o Acordo TRIPs nos anos 90, no âmbito da OMC, a Índia foi forçada a alterar sua estratégia. O regime de patentes voltaria a proteger o produto, e a busca por diferentes rotas de produção que caracterizou a ascensão dos genéricos indianos não poderia mais ser utilizada. A expectativa era que o Acordo estimularia a produção de P&D na Índia, inclusive por multinacionais. Elas voltaram a ganhar relevância no mercado, inclusive pela aquisição de empresas indianas, mas estudos mostram que elas investem menos do que as nativas. As exportações aumentaram em grande medida por causa do acesso ao mercado americano, onde a duração de várias patentes estava se encerrando. Porém, a dependência de importados, especialmente da China, aumentou, o que preocupa o governo indiano."
O debate acerca da estatização dos meios de produção, se torna cada dia mais uma emergência.

Ciência e Revolução, em recente artigo, apresentou o trabalho de Rob Wallace, que demonstra a origem do novo Corona Virus, esta associada às grandes fazendas industrializadas. Wallace mostra que o agronegócio é uma verdadeira fonte de patógenos, que podem gerar epidemias apocalípticas. Ao mesmo tempo que citou trabalhos de economistas, que demonstravam que o mercado global está afogado em capital especulativo, pois as taxas de lucro dos investimentos produtivos é muito baixa, o que leva as empresas aceitar rebaixar seus custos operacionais a níveis catastróficos. Neste artigo, demonstramos a relação das guerras com as pandemias e a incapacidade dos grandes países imperialista de lidarem com a pandemia, por terem destinado o seu dinheiro a indústria bélica, embora a indústria farmacêutica tenha um comportamento tão parasitário quanto a indústria bélica, mostramos ainda que esse é o caminho do capitalismo em sua fase derradeira, destruir as forças produtivas e, em especial, a mais importante dentre as forças produtivas, a classe operária. O caos e a barbárie batem a porta, desta vez o desastre veio como uma pandemia, mas poderia ser uma nuvem de gafanhotos, o colapso de uma represa.
Por outro lado a China, uma economia planificada, embora conviva com os países capitalistas no mercado globalizado, demonstrou que seu sistema é muito mais eficiente na defesa das vidas humanas do que as economias de mercado, que vão do negacionismo à inoperância. Todos esses dados indicam que o movimento operário e popular precisa resgatar urgentemente a bandeira de luta de estatização da indústria, em especial da indústria farmacêutica.

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