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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Perseguidos na Pandemia





                                                 Perseguidos na Covid-19

No programa Gabinete da Verdade da semana passada, o advogado Alexandre Flach ressaltou a relação entre pandemia e guerra. As análises feitas pelo blog Ciência&Revolução têm caminhado justamente nesse sentido, demostrando a relação simbiótica entre a pandemia e a guerra. A necessária quarentena também nos coloca num estado de sítio, embrião de um estado de exceção em nível global, dada a amplitude da crise econômica vivida pelo imperialismo. Somos obrigados a constatar que os elementos de uma ditadura se consolidam rapidamente. Antes mesmo da pandemia, a perseguição política era um grave problema para as organizações operárias em todo o planeta, mas a situação atual é de escalada nas arbritrariedades, aprofundando todos os processos de perseguição que já estavam em curso, ampliados em escala de massa, a partir da Covid-19. 
O imperialismo estadunidense adotou a prática de pirataria para conseguir ventiladores e insumos médicos durante a pandemia. Agora, o Irã diz que não aceitará que os EUA cometam o mesmo crime contra um um navio iraniano que leva gasolina para a Venezuela. Trump também precisaria explicar sua relação com os mercenários que tentaram invadir a Venezuela, mas em vez  disso reforça o ataque a China e a Cuba. Essa contenda entre EUA e China levou à demissão do diretor geral da OMC, reforçando a posição deste blog, de que a atual crise econômica do capitalismo é tamanha a ponto das instituições imperialistas,  edificadas no pós-guerra, não são mais úteis à manutenção do poder da burguesia imperialista estadunidense. Essa degradação institucional tem origens na década de 70, quando o dólar deixou de ser lastreado em ouro.
Enquanto a burguesia americana ataca e espolia outros países, o proletariado de seu próprio país vive a maior taxa de desemprego dos últimos 70 anos.

Perseguição financeira: o auxílio que nunca chega

Segundo o site da Folha Dirigida, 14,7 milhões de pedidos de auxílios emergenciais serão homologados neste dia 13 de maio. Esses auxílios foram solicitados entre os dias 23 e 30 de abril. Os auxílios variam entre 600 e 1200 reais. Um valor irrisório, quando a cesta básica subiu em todos os estados no mês de abril, como mostra estudo do DIEESE.




Fonte: Estado de Minas

Valor baixo para comprar uma cesta básica, mas alto para a 
macro-economia. A alta burguesia não pode ver suas taxas de lucro baixar, por isso o governo de Braga Neto permitiu a inclusão de diversos setores na lista de serviços essenciais. Incluindo academias de ginástica e salões de beleza. O vice, Mourão, em um artigo no Estado de São Paulo defende o seu governo, mostrando claramente que não tem qualquer desacordo fundamental com o animador federal de auditório - Jair  Bolsonaro, e deixou claro que o caos que virá será combatido com violência contra o povo e não com o atendimento de revindicações.

Os desaparecidos da Covid-19 no Brasil

"A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC/MPF) propõe que o Estado brasileiro adote medidas para prevenir o surgimento de um contingente de casos de pessoas desaparecidas na sequência da emergência sanitária ocasionada pela covid-19. Nessa segunda-feira (6), a PFDC encaminhou ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Ministério da Saúde sugestões a fim de complementar a Portaria Conjunta 1/2020, publicada pelos órgãos no último dia 31, e que definiu procedimentos excepcionais quanto a sepultamentos e cremação de corpos durante a pandemia do novo coronavírus no Brasil."



Fonte: Portal da Transpa rência



O Estado brasileiro está sepultando pessoas sem atestado de óbito (ver aqui e aqui). O motivo alegado, é que o Estado não possui testes suficientes (ver aqui). Desde o primeiro caso de coronavírus no Brasil, que os casos de mortes em casa vêm disparando, a exemplo do que aconteceu no Equador.

O colapso do sistema funerário, ao lado do medo, mais que legítimo, do contágio do vírus, levou essa medida ditatorial a ser aceita mas, principalmente, e muito mais importante que tudo, é o colapso da saúde preparado pelo golpe.
Fonte: Nexo 




Dados do último dia 15 de maio, indicam que o Brasil ocupa a quarta posição no ranking  mundial de novos casos por dia. Mostrando uma curva ascendente, enquanto outros países (EUA, Reino Unido, Itália e Alemanha), mostram que o número de casos novos por dia estabilizou, ou mesmo começou a cair. Além disso, o Brasil tem uma das maiores taxas de letalidade do mundo (óbitos divido por número de casos). Esse número ainda é mascarado pela reconhecida subnotificação, em especial no caso de vítimas negras, que ganharam na justiça o direito de ter sua identidade racial considerada entre os dados coletados das vítimas. Muitas mortes por infarte e complicações em outros orgãos,  causadas pelo vírus, sequer estão sendo colocadas na conta da Covid, mas a comparação com as séries históricas revela o tamanho do problema. 

Perseguições aos trabalhadores em meio à pandemia

Dória despejou cem famílias de um acampamento do MST em meio à pandemia, colocando sua polícia para ameaçar a deputada estadual, professora Bebel do PT, de prisão, quando esta foi ao local prestar solidariedade às pessoas que precisam de um lugar para viver. Mais uma liderança política do Partido dos Trabalhadores ameaçada de prisão enquanto defende a sua classe social. O MST, em nota de repúdio, diz que pretende denunciar Dória ao Tribunal de Justiça de São Paulo, embora na mesma nota, o próprio MST denuncia que, "tanto a justiça de Piracicaba, como o Tribunal de Justiça de SP ignoraram o risco de morte que estão impondo a essas famílias.". Agora são mais cem famílias desamparadas  nas ruas de São Paulo. Famílias como a da diarista Maria Alves, entrevistada pela BBC Brasil, que não possuem celular nem CEP (Codigo de Endereçamento Postal), moradoras de Caximba, região Sul de Curitiba, para sacar o auxílio de 600 reais, tiveram que enfrentar fila e correr o risco de se contaminar. Maria Alves é também uma perseguida, pois não atende aos critérios do sistema. 

No front da saúde, faltam máscaras, respiradores, equipamentos, leitos, testes, transporte seguro, submentendo os trabalhadores e trabalhadoras da saúde à contaminação, o que levou o Brasil a ser campeão de mortes entre profissinais de enfermagem. Estes profissionais colocam sua vida em risco e ainda são perseguidos, se buscam melhores condições de trabalho.

Os trabalhadores não essenciais são coagidos a trabalhar pelos patrões e só podem torcer mesmo que Bolsonaro tenha razão e não passe de uma gripezinha, já que não podem ficar sem trabalhar, senão seriam demitidos ou morreriam de fome. Mas a realidade é outra: a primeira morte no Rio de Janeiro foi de uma empregada doméstica. De fato, a profecia de Guedes se cumpriu: agora as domésticas não viajam para Disney a fim de cuidar dos filhos de seus patrões, elas ficam no Brasil e se infectam  quando eles voltam das viagens. E não são só empregadas domésticas. Porteiros, faxineiros e uma série de trabalhadores, que deveriam estar em casa com dinheiro para se alimentar e se cuidar, estão se amontoando nas ruas, transportes públicos e filas de banco, mesmo depois do colapso do sistema de saúde no Rio de Janeiro. Para quem não pode exercer seu direito de recusa para proteger sua vida e de sua família, a infecção por Covid-19 é acidente de trabalho. Mas, para os trabalhadores infomais, nem existe alguma lei que os proteja. As consequências sociais da irresponsabilidade dos governos e dos patrões pode terminar numa catástrofe, como no Equador, com corpos no meio da rua. 
De fato, a pandemia mostrou quem são os verdadeiros perseguidos do sistema.

A perseguição contra Lula também se aprofunda 

O Jornal Voz Operária relata a continuidade da perseguição contra o presidente Lula,  agora na quinta turma do Supremo Tribunal de Justiça:

"O começo do julgamento se deu de maneira totalmente abrupta, mantendo a prática de lawfare característica da farsa jurídica chamada Operação Lava-Jato. O processo foi colocado na pauta pelo ministro relator Félix Fischer na madrugada do dia 22, sem que a defesa tivesse sido informada, algo que é previsto pelo regimento do STJ. "

O Voz Operária também comenta sobre o processo que está no TRF4:

"Além do fato de que o julgamento dos embargos de declaração nessa ocasião, atropelam os julgamentos de recursos que deveriam ser averiguados antes dos embargos, seguindo a lógica burocrática do próprio tribunal. A defesa também pauta que é preciso ter cautela no trâmite do processo, já que o mesmo pode ser anulado no STF e que o processo de anulação ganhou mais força com a nova oitiva de Moro junto à Polícia Federal, visto que o conteúdo do depoimento do ex-ministro e ex-juiz pode conter questões que fortaleçam a tese da defesa de Lula.
Porém, como os fascistas de Curitiba não se pautam pela verdade e pela Constituição, mantiveram o julgamento autoritário que terminou no dia 06 e também a condenação do Presidente Lula, com o objetivo de manter uma sobrevida do Partido da Lava-Jato após os abalos sentidos com a retirada de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

As instituições da burguesia perseguem as lideranças populares, quando precisam aplicar medidas antipopulares, porque a agonia do capitalismo é inseparável da perseguição política. 
Os trabalhadores e povos do mundo não suportarão por muito tempo serem submetidos a condições de trabalho, que tornam Brasil e EUA líderes mundiais em enfermeiros mortos por Covid-19. A classe operária não aceitará trabalhar em condições degradantes como os trabahadores do setor de frigoríficos, que sofrem com o aumento de casos de Covid-19 em sua categoria. Não verão de forma complacente o tratamento dado aos migrantes  nas fronteiras da Europa, em meio à pandemia. Tratamento este que mostra muito bem que a conduta desumana não é exclusividade de Bolsonaro, mas a característica principal do capitalismo em seu estágio avançado de putrefação. 
Os trabalhadores e os povos do mundo, que hora se irmanam em milhares de campanhas de solidariedade como a campanha impulsionada pelo Núcleo do PT "Ninguém Fica Para Trás", não aceitam mais que este sistema continue nos matando, por isso os poderosos perseguem as lideranças que construímos para nos representar.

Mesmo nas condições mais difíceis, os povos resistem para defender a vida e os direitos da população. Uma das iniciativas em andamento é a campanha para adiamento do ENEM que, se não for adiado, acabará impedindo que os jovens oriundos das camadas perseguidas durante a pandemia possam chegar às universidades. O capitalismo nega um futuro para a juventude, por isso é mais do que necessária a auto-organização dos que lutam pela vida, para começar a construir, desde agora, relações sociais que combatam toda a perseguição que os povos e trabalhadores sofrem. 


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