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Editoriais sobre as condições objetivas e subjetivas da situação política internacional e sua influência no Brasil

Antipetismo a versão brasileira do fascismo#3: A Pandemia de 2020 como impulsionadora do ritmo da luta de classes.

Este é o terceiro artigo da série Antipetismo - versão brasileira do fascismo. Já havíamos abordado as origens do fascismo quando o capitalismo transita da etapa liberal para o imperialismo – sua fase superior e terminal. No segundo artigo, bebemos na fonte da experiência do movimento operário para entendermos as diversas variantes do fascismo e vimos como Trotsky, diante da negativa de aliança entre os partidos socialdemocratas ligados à II Internacional e os partidos comunistas ligados à III Internacional, na Alemanha, foi levado à construção da IV Internacional. Começamos a entender como o problema da perseguição política se coloca no Programa de Transição da IV Internacional. Em outras oportunidades, observamos que a pandemia geraria um  estado de exceção  em escala    global. Nesse cenário, os governantes do mundo apelam à  'união nacional'    para combater a Covid-19 e, em meio ao  ''todos juntos contra a Covid-19' , acontece o assassinato de George Floyd, homem negro estadunidense, que implora pelo direito de respirar. Esse assassinato é o estopim de uma onda de protestos nos EUA, que encontra eco por todo o planeta. Protestos exigem a reforma da polícia interna dos EUA e, no bojo disto, surge o projeto editorial investigativo Gray Zone, de Max Blumenthal, trazendo a  público  uma relação entre a polícia americana e as forças de segurança do Estado Sionista de Israel. Este fato ilustra uma tendência mundial da burguesia, que é o aumento da beligerância contra os protestos e intensificação da perseguição contra trabalhadores e suas organizações.
O reflexo da explosão de gritos contra mortes de negros não demora a chegar ao Brasil, mostrando que o pós-pandemia será turbulento. Os setores mais abertamente atingidos pela pandemia, aqueles de trabalhadores que não tiveram direito ao isolamento social, nem a equipamento de proteção individual, saem às ruas para  
protestar . Porém, não faltam aqueles que pretendem falar em nome da multidão de trabalhadores revoltados.

 


Uma onda de manifestos no Brasil: economistas, políticos, artistas e intelectuais resolveram se posicionar abertamente contra Bolsonaro e exigem adesão de todos os cidadãos.

 

No auge da pandemia, um grupo de economistas divulgou um   manifesto  defendendo a impressão de dinheiro para combater a disseminação do vírus. Acerca deste manifesto C&R tomou uma posição (V.  aqui ). Recentemente, outros cinco manifestos foram divulgados: .

 


 
Estamos juntos: 

 

Contando com assinaturas de figuras como Fernando Henrique Cardoso e Fernando Haddad, o manifesto é tremendamente genérico. Assim se apresentam: "Somos a maioria de brasileiras e brasileiros que apoia a independência dos poderes da República e clamamos que lideranças partidárias, prefeitos, governadores, vereadores, deputados, senadores, procuradores e juízes assumam a responsabilidade de unir a pátria e resgatar nossa identidade como nação." ‘Unir a pátria e resgatar a identidade nacional’ − qual a diferença disso para o princípio defendido por Benito Mussolini? Nenhuma! Os signatários continuam: "Defendemos uma administração pública reverente à Constituição, audaz no combate à corrupção e à desigualdade, verdadeiramente comprometida com a educação, a segurança e a saúde da população. Defendemos um país mais desenvolvido, mais feliz e mais justo." Não propõe nada de concreto para a maioria do povo. Contudo, é necessário notar que Fernando Henrique Cardoso, André Lara Resende e Luciano Huck são signatários e possuem as mãos sujas de sangue, pela política de austeridade que apoiaram contra o povo trabalhador − como podemos ver neste trabalho de   Paulo Gala , ao demonstrar o desastre do plano real, completando 30 anos este ano. Huck, agora, torna-se o queridinho do capital especulativo. Setor que jamais poderia ser qualificado como uma burguesia democrática pois, particularmente, os três nomes citados são expoentes da austeridade fiscal que asfixia o povo e a responsabilidade por eles defendida refere-se à manutenção dos contratos firmados com o capital financeiro. .

 


 
Manifesto pela Unidade Antifascista: 

 

Assinado por Carol Proner, Silvio Tendler, Chico Buarque, entre outros, diagnostica que: "O governo aposta no caos, anseia por saques, desespero popular, estados falidos, Congresso dividido, Supremo chantageado, tudo isso enquanto o fascismo assalta mais e mais as instituições. As milícias estão a postos, segmentos policiais estão a postos, grupos se armam e setores das Forças Armadas talvez sejam sensíveis a uma eventual convocação do Planalto, mesmo contra a opinião da cúpula militar. É urgente que cada um de nós reconheça a magnitude do desafio e trabalhe em todos os níveis, em todas as instâncias, para a formação de uma ampla frente antifascista." Em dado trecho, eles dizem: " Não é hora de fazer cálculos para 2022, simplesmente porque as eleições de 2022 estão em risco, como as vidas de todos e todas nós pela ameaça de um golpe." Portanto, negam as eleições de 2022, ao mesmo tempo em que, contraditoriamente, afirmam:" É urgente que cada um de nós reconheça a magnitude do desafio e trabalhe em todos os níveis, em todas as instâncias, para a formação de uma ampla frente antifascista. Nas próximas eleições municipais é preciso a união de todos e todas em torno das candidaturas capazes de ampliar o movimento democrático e de competir para vencer, em nome da resistência antifascista. A credencial indispensável é o compromisso claro de enfrentar o fascismo em todas as suas dimensões." Este manifesto parece um texto assinado por pessoas apavoradas, com medo de um golpe, que já aconteceu e atingiu a maioria da população, dado o número de mortos na pandemia. A ponto que atos de massa começaram a acontecer, apesar do isolamento social. Um importante setor da classe trabalhadora exposta ao vírus em seu dia a dia, vê como única perspectiva a luta desesperada pela sobrevivência contra o sistema de ditadura instalada que, como qualquer ditadura, esconde os dados da doença, assim como tentou esconder dados do desmatamento, omitir resultado da pesquisa sobre adiamento do Enem, apontado pelos estudantes para maio/21, mas decretado para janeiro/21, etc. Porém, os signatários deste manifesto percebem, que serão os próximos a serem atingidos pelo golpe de 2016. A exemplo dos EUA, onde as classes mais abastadas, doentes por diabetes e hipertensão decorrentes de uma hiperalimentação gordurosa ‘privilegiada’, são vítimas regulares da Covid-19 – entretanto, quem mais sofre com esses problemas é a classe trabalhadora americana, sem tempo para se alimentar. .

 


 
Manifesto Basta:  

 


São 670 juristas reconhecidos que dizem: "Basta! O Brasil, suas instituições, seu povo não podem continuar a ser agredidos por alguém que, ungido democraticamente ao cargo de presidente da República, exerce o nobre mandato que lhe foi conferido para arruinar com os alicerces de nosso sistema democrático, atentando, a um só tempo, contra os Poderes Legislativo e Judiciário, contra o Estado de Direito, contra a saúde dos brasileiros, agindo despudoradamente, à luz do dia, incapaz de demonstrar qualquer espírito cívico ou de compaixão para com o sofrimento de tantos. Basta!" Este parece outro grupo bastante atrasado historicamente, pois não teve manifestação significativa no momento da derrubada de Dilma sem crime de responsabilidade, da prisão arbitrária de Lula ou da destruição da nossa indústria pela operação Lava Jato. Agora, conseguem vislumbrar Bolsonaro destruindo as instituições, que já foram destruídas há 4 anos atrás. Estamos na fase de depuração do golpe, quando a ditadura se volta contra setores menos fiéis; esse é o caso da disputa entre Moro e Bolsonaro. Assim como nos outros dois manifestos, aqui nenhuma proposta concreta é discutida e, além disso, não aborda abertamente o fascismo. Na verdade, os três manifestos assemelham-se aos falidos amedrontados a que Trotsky se referia, defensores de um estado democrático de direito, que foi destruído pelos golpes da grande burguesia em busca de manter suas taxas de lucro. .

 


 
Ele Não 2.0 - Mulheres derrubam Bolsonaro:  

 


A exemplo da Encíclica Rerum Novarum, o manifesto começa com uma série de denúncias corretíssimas, para concluir: "Convocamos as instituições da República a cumprirem seus papéis. Já existem na Câmara dos Deputados inúmeros pedidos de Impeachment; no TSE, diversas ações pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão por fraude eleitoral. O STF, enfim, precisa responsabilizar o presidente, que segue descumprindo a Constituição, atentando contra a liberdade e produzindo a morte de brasileiros e brasileiras." Convocam as instituições da República, aquelas mesmas que prenderam Lula, derrubaram Dilma, as mesmas que não fazem nada, ou melhor promovem um verdadeiro  
massacre  contra o povo negro durante a quarentena? Tirar Bolsonaro é uma medida correta, mas quem entra em seu lugar: Mourão, o vice militar, que defendia um golpe por aproximações  sucessivas ? Rodrigo Maia, o presidente da Câmara, que aprovou a   Reforma da Previdência ? Mais uma vez nenhuma única reivindicação concreta que mude a vida do trabalhador. O manifesto reivindica ser a continuidade do movimento ‘Ele Não’ na eleição passada, um movimento que pretendia ignorar a existência do Partido dos Trabalhadores, a candidatura Haddad, a prisão de Lula e o golpe em Dilma. Portanto, ignora a realidade, ignora a perseguição política; afinal de contas, como os outros movimentos, está atado aos marcos institucionais e anticonstitucionais (lawfare), que perseguem o PT. É lamentável que esse movimento não faça o balanço das consequências de suas ações, ainda que não reivindique a tradição secular do movimento operário. A própria experiência recente vem demonstrando que ignorar a existência da perseguição contra um dos maiores partidos de trabalhadores do mundo não resulta em nada positivo. .

 


 
Aos militantes do PSOL: 

 


Trata-se do pronunciamento de duas correntes internas do PSOL - Esquerda Marxista e Revolução Brasileira, que criticam o manifesto ‘Estamos Juntos’: "O apoio do PSOL a tal manifesto fortalece o liberalismo de direita no país. No entanto, há algo mais grave: os parlamentares do PSOL e a decisão da executiva do Partido, deixam de lado suas diferenças com a burguesia, a luta pelo socialismo e traçam um ‘projeto comum’ com Fernando Henrique e notórios políticos que sustentam a ordem burguesa. Afinal, é papel da esquerda (onde se encontra o PSOL) a defesa da ‘lei e da ordem’". A esquerda marxista saiu do PT, justamente, com acusação semelhante à direção do partido, a qual eles relembram:" Nós alertamos os militantes e filiados que este é o caminho da destruição política do PSOL. Este foi o caminho feito pelos dirigentes do PT e do PCdoB que levaram estes partidos para sustentar o capitalismo e governar para os bilionários." Hoje, no PSOL, são obrigados a fazer a mesma crítica que faziam ao PT. Confirmando uma observação aqui no Blog, quanto às correntes mandelistas (V.  
Burocracia do Movimento Operário, Ernest Mandel (análise crítica) : "O militante mandelista se torna, por conta disso, um fiscal de burocratas, sempre pronto a decretar se uma burocracia está completamente degenerada em si mesma ou se deve ser defendida. Os desdobramentos legítimos deste pensamento podem ser encontrados na vida real alimentando a ação de muitos que se consideram revolucionários. Um típico mandelista ‘esquerdista’ pode ser encontrado nos fóruns de debate da classe trabalhadora ou em seus próprios documentos fazendo listas de crimes dos burocratas de determinada organização, decretando sua degeneração e propondo construir uma nova organização. Na sua versão direitista, estão nos aparelhos destas organizações tentando influenciar ‘ideologicamente’ os burocratas para tomarem medidas que incorporem os trabalhadores na gestão do Estado e da economia (e, portanto, na administração de suas crises), independentemente de sua natureza de classe. Ao que parece, trata-se de um ciclo infinito de cisões, sem que um balanço real seja feito."

 


E o Partido dos Trabalhadores?

 

  Ricardo  Cappelli, (PC do B), ex-presidente da UNE, hoje  secretário de representação do Governo do Maranhão : e jornalista, mantém coluna no Brasil 247 . Em seu artigo de 31 de maio de 2020, intitulado Frente Democrática com Bolsonaro? Cappelli escreve: "É bom ficar atento. Se houver um entendimento entre o fascismo e a Casa Grande, quem vai para a fogueira, mais uma vez, é a turma da senzala." Entretanto, cabe perguntar: onde estava Cappelli quando Lula foi preso, Preta Ferreira foi presa, Pedro Henrique foi asfixiado e Evaldo e João Pedro foram mortos pela polícia do Rio? Onde estava Cappelli durante o golpe de 2016? Onde estava Cappelli quando  Ticyane Azambuja  denunciou seu violento espancamento? O aparato de Estado está contra o trabalhador e a ditadura está instaurada. Justiça seja feita, o próprio Capelli em seu texto reconhece a posição da Rede Globo: O texto (Nota de C&R: Cappelli refere-se a um editorial de O Globo) diz que:" (...) o importante é a agenda de Guedes avançar. Não é coincidência a emissora ter escondido o desempenho do Ministro da Economia na reunião dos palavrões. O editorial de hoje seguiu a mesma linha do editorial publicado pelo Estadão na semana passada. Num dia pediu a derrubada de Bolsonaro. No dia seguinte disse que ele e Lula são iguais.... Com as mortes escalando, o desemprego e o desalento explodindo, estamos virando um barril de pólvora, prestes a explodir. As consequências da crise, gravíssima e cada vez mais profunda, são imprevisíveis." Cappelli se pergunta:" Um regime de força conseguiria avançar rapidamente nas ‘reformas’ defendidas pelo mercado? As reformas da previdência, tributária e administrativa poderiam ganhar celeridade? O fascismo é a ditadura terrorista do capital financeiro?" Cappelli pensa com a cabeça dos burgueses e faz a pergunta que todo patrão está se fazendo e, certamente, é quanto à resposta a essa pergunta que a burguesia hoje se divide. Conhecemos o lado de Bolsonaro e os  editoriais do Mourão , que pregam o fechamento do regime; mas existe, sim, um outro lado que teme o fechamento do regime, como também detecta Cappelli: "A elite brasileira nunca teve apreço pela democracia. É antinacional e antipovo." A elite nacional está claramente agrupada no manifesto Estamos Juntos, onde FHC é o velho representante do capital financeiro internacional e Luciano Huck é o novo queridinho. Importante observar que foi no mesmo Fórum Econômico de Davos, no início de 2020, em que Huck foi ungido como novo pupilo do capital financeiro, que  Kristalina Georgieva  disse:" o agravamento do mal-estar social em muitos países – devido, em alguns casos, à deterioração da confiança nas instituições tradicionais e à falta de representação nas estruturas de governo – poderia abalar a atividade [econômica], complicar as iniciativas de reforma e prejudicar a atitude (Nota de C&R: frente ao capital financeiro) o que faria o crescimento diminuir para aquém do projetado". Logo, o setor do manifesto Estamos Juntos é o setor mais diretamente ligado ao capital especulativo mundial. Esse setor dirigiu o país por anos e, em hipótese alguma, mostrou-se um mal menor. A Vale do Rio Doce e seus 'acidentes’, as mortes em operações da PM, os despejos dos sem-terra e as ações antissindicais testemunham isso mais que tudo.   Em outro artigo , Capelli soma-se aos críticos do PT; poderíamos dizer, mesmo, que Cappelli soma-se ao antipetismo:" Lula é candidato a presidente. É um direito seu. Legítimo. Desde a redemocratização, abriu mão apenas em 2014 para Dilma. Em 2022, livre e com o país em frangalhos, vai repetir a estratégia de 2018 emparedando o TSE." As eleições de 2022 ainda estão muito longe, mas se essa for a estratégia, será uma estratégia de autodefesa do PT, nos marcos eleitorais, uma estratégia de questionamento dos processos fraudulentos contra Lula e Dilma. Uma estratégia de defesa do maior partido de trabalhadores que já existiu no Brasil. Cappelli deixa claro o que pensa disso: "No episódio do vazamento da ‘reunião dos palavrões’, o partido desmoralizou a narrativa de Moro. Bateu na tecla de que o ex-juiz não sabe o que são provas. Por que fez isso? A forma de viabilizar o projeto é conseguir a absolvição de Lula no STF. Abalar a credibilidade de Moro é peça chave na estratégia. Taticamente, ‘Bolsonaro pode esperar’." Então, para Cappelli, Lula deveria silenciar sobre Moro? Deveria compor uma unidade com aqueles que o condenaram? Com aqueles que o tiraram da disputa eleitoral e colocaram Lula na cadeia e Bolsonaro na cadeira de presidente? Compor com aqueles que antes tinham derrubado Dilma e iniciado essa espiral infernal que trouxe a ditadura como consequência lógica de um processo de repressão à classe trabalhadora e suas organizações? Cappelli, aqui, retoma o antipetismo, demonstrado em diversas oportunidades por outras organizações e personalidades. Em lugar de lutar pela base petista apresentando propostas que realmente mudem a vida do povo trabalhador, prefere exigir que o PT renuncie ao seu direito de existir, fazendo assim coro com as vozes fascistas, que dizem combater. Na verdade, o medo de Cappelli é o povo se organizar colocando tudo isso abaixo, é ver desmoronar todo o quadro institucional burguês, que nunca favoreceu em nada a maioria da população, é lançar mão de suas organizações e impulsioná-las para mais longe. E Lula parece perceber que sua única chance de sobrevivência, como perseguido político, é não conciliar com o fascismo nem com os charlatães que, propondo a democracia em palavras, têm as mãos sujas de sangue. .

 


Mas Lula é um eterno conciliador? s

 

Hoje, acima de tudo, Lula é um perseguido político, sofre uma perseguição sufocante, que coloca até mesmo os membros de sua família em risco. A crise de superprodução do capitalismo e a hipertrofia do capital especulativo levam a classe trabalhadora a condições cada vez mais dramáticas. Sobre este ponto Trotsky, no Programa da IV Internacional, faz um prognóstico sóbrio: "É, entretanto, impossível negar categórica e antecipadamente a possibilidade teórica de que, sob a influência de uma combinação de circunstâncias excepcionais (guerra, derrota, quebra financeira, ofensiva revolucionária das massas etc.), os partidos pequeno-burgueses, incluídos aí os stalinistas, possam ir mais longe do que queriam no caminho da ruptura com a burguesia. Em todo caso, uma coisa está fora de dúvida: se mesmo esta variante pouco provável se realizasse um dia em algum lugar, e um ‘Governo operário e camponês’, no sentido acima indicado, se estabelecesse de fato, ele somente representaria um curto episódio em direção à ditadura do proletariado." O fato é que, na segunda metade do século XX, essa variante se converteu de pouco provável a majoritária. Sendo hoje, a única que concentra a defesa do direito do povo à auto-organização. A denúncia das capitulações da direção do PT, neste momento, serve apenas à sua dispersão e à dispersão do principal centro de resistência ao imperialismo. .

 


Como essa luta se materializa?

 

Trotsky escreve no Programa de Transição; "Em parte alguma a burguesia se contenta em utilizar apenas a polícia e o exército oficiais. Nos Estados Unidos, mesmo nos períodos ‘calmos’, mantêm destacamentos militarizados e bandos armados particulares nas fábricas. É necessário acrescentar a isto, atualmente, os bandos de nazistas americanos. A burguesia francesa, à primeira aproximação do perigo, mobilizou os destacamentos fascistas semilegais e ilegais até no interior do exército oficial. Bastará que os operários ingleses aumentem de novo seu ascenso para que imediatamente os bandos de Mosley dobrem, tripliquem, decupliquem em número e iniciem uma cruzada sangrenta contra os operários. A burguesia dá-se claramente conta de que, na época atual, a luta de classes tende infalivelmente a se transformar em guerra civil. Os magnatas e os lacaios do capital aprenderam com os exemplos da Itália, da Alemanha, da Áustria, da Espanha e de outros países muito mais do que os chefes oficiais do proletariado." Aqui no Brasil, isso ficou explícito com a invasão do Hospital  Ronaldo Gazola  (Rio de Janeiro -12 /junho/2020), por uma horda de bolsonaristas estimulados pelo próprio Bolsonaro, a verificar da forma mais truculenta possível, a quantidade de leitos ociosos, que deveriam ser destinados à Covid-19. Em resposta a essa política Trotsky propõe: "Os PIQUETES DE GREVE são as células fundamentais do exército do proletariado. É de lá que é necessário partir. Por ocasião de cada greve e de cada manifestação de rua, é necessário propagar a ideia da necessidade da criação de DESTACAMENTOS OPERÁRIOS DE AUTODEFESA." Esses comitês de autodefesa devem apoiar os trabalhadores atingidos pela pandemia, apoiar os trabalhadores vítimas de perseguição política. Autodefesa da classe trabalhadora Nas últimas décadas, as experiências de organização popular pela base foram sendo golpeadas pela adaptação ao marco institucional, em especial à democracia participativa, que trazia os dirigentes da classe operária e do movimento popular para o interior das instituições estatais, fazendo-os corresponsáveis pela aplicação de planos de austeridade. Hoje, as bases sociais estão relativamente fragilizadas, o que não quer dizer que não existam! Os velhos petistas estão pelas praças de todas as cidades e do campo, imersos no turbilhão da luta de classes e, como as manifestações por Lula Livre demonstraram, prontos para responderem a um chamado da direção do Partido, prontos para se somarem às campanhas de solidariedade entre militantes e aos Comitês de Autodefesa e Núcleos do PT, debatendo o dia a dia dos trabalhadores. Nos nossos dias, tornou-se premente a luta pelo pão, pelas pautas mais urgentes, como demonstraram os entregadores de aplicativos, que fizeram uma paralisação e foram vítimas de  perseguição . É urgente uma posição dos dirigentes do Partido Enquanto os números da pandemia batem recorde atrás de recorde muitos petistas estão expostos aos riscos da pandemia. Recentemente, alguns núcleos petistas organizaram campanhas em defesa dos  perseguidos na pandemia . É hora para a direção do partido assumir essa responsabilidade com sua base e ajudar a organizar uma caixa de socorro financeiro para a base do partido, fortalecendo a autodefesa dos militantes. .

 


Nota de C&R- A discussão continua: quando começamos a presente série planejamos três textos, sendo este o fechamento. Felizmente, o conteúdo abordado surtiu efeitos e parece estar ajudando um setor petista a mobilizar-se contra o antipetismo. Assim, a série Antipetismo - versão brasileira do fascismo continua nos próximos textos, com os desdobramentos políticos concretos de uma discussão teórica.

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